Newsletter Direto de Paris #3

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Rouen, na Normandia

Olá para você que assinou a lista da Newsletter do Direto de Paris. Estou pegando o jeito e gostando de fazer as Newsletters. Apesar de falar de História e Arte aqui – não resisto -, a News é um pouco diferente dos posts do blog. Diria que é um complemento até. Então, espero que goste desta edição. As Newsletters não ficam visíveis no blog porque é um cantinho escondido para quem assina o site. Se quiser ler as duas anteriores, é só clicar aqui e aqui.

 

Abril, mês das incertezas do tempo

 

Bom, na verdade, abril é o mês de bastante coisa na França. É o mês do primeiro de abril, que é “comemorado” nestas bandas também. Teve a Páscoa esse ano. E, no final do mês, começa a festa dedicada a Joana d’Arc em Orléans e, por isso, vou falar bastante dela aqui na Newsletter. Mas antes quero abordar as incertezas do tempo em abril, algo que já me enganou muitas vezes nestes meus anos em terras francesas.

Abril é um mês que pode ser tanto frio quanto um pouco mais quente. Há um ditado que diz; “En avril, ne te découvre pas d’un fil”. Tradução literal: “Em abril, não te descubra nem de um fio”. Quer dizer, o sol pode estar presente, o dia pode estar lindo, os jardins floridos, é primavera. Mas pode fazer frio e bastante. Lembro que meu irmão veio me visitar em um mês de abril, fomos fazer o passeio de barco pelo Sena e ele quase morreu congelado. E esse ano até nevou em Paris no começo do mês.

Então, o conselho que dou para quem vem para cá é: Traga roupas de meia estação, mas traga também roupas do inverno brasileiro (o inverno do sudeste e sul). Porque vai que as temperaturas ficam baixas e isso pode acabar com sua viagem. Quem fica confortável passando frio?

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Bourges, na região Centre-Val de Loire, em um mês de abril

Outra sugestão é fazer como os franceses: ver a previsão do tempo. Tá certo que quando estamos arrumando as malas nem sempre dá para ver com exatidão as temperaturas. Mas sempre é bom checar para ter uma ideia. Os sites que uso são o Météo-France e o Weather Channel.

Outra questão é se vale a pena não trazer roupa de frio na mala e comprar aqui. Aí depende da cotação do euro na época da sua viagem e de outros fatores. Muitos sites dão opiniões sobre esse assunto, mas acho que é uma escolha pessoal, que também depende do estilo de viagem de cada um. Na minha primeira vinda para cá, tive que comprar um casaco e no meu caso valeu a pena, embora na época nem sabia que mais tarde viria morar aqui. Comprei um novo porque o casaco que tinha trazido, logo no primeiro dia de viagem, arrebentou vários botões. Era abril, mas à noite fazia friozinho e não dava para ficar com casaco aberto.

Enfim, esse texto é mais para falar das incertezas da temperatura neste começo de primavera. A França tem as quatro estações, mas pode haver bastante diferença entre o abril deste ano e o do ano passado.

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Eu em Honfleur, na Normandia, em um mês de abril

 

Para quem gosta de cinema!

 

 

O Martírio de Joana d’Arc (La Passion de Jeanne d’Arc)
Ano de estreia: 1928
Direção: Carl Theodor Dreyer
Onde assistir: Globoplay

 

Há vários filmes que retratam a vida de Joana d’Arc, mas é difícil encontrá-los para assistir em streaming. Este, disponível na Globoplay, é interessante principalmente por dois motivos. Primeiro por causa da data, 1928. É um filme mudo, mas que, originalmente, foi concebido para ser “falado”. Porém, o diretor teve que renunciar à gravação dos diálogos por causa do equipamento técnico do estúdio. Então, este é um filme com uma dramaticidade própria ao cinema falado, mas que é mudo. O que o faz diferente dos filmes da época. E o fato de ser em preto e branco, na minha opinião, aumenta o caráter dramático da obra, fora o lado sombrio dos dias finais de Joana retratados aqui.

O segundo motivo pelo qual o filme é interessante é porque a parte central do enredo é o sofrimento da heroína. Na história, Joana já prestou seus serviços para a França e é capturada pelos ingleses (era a Guerra de Cem Anos, entre a França e a Inglaterra). Então, segue-se todo um rosário de tristezas, dores e torturas, onde ela praticamente só pode contar consigo mesma. Não tem muito como fugir de spoilers, já que todos sabemos como a vida dela termina. Mas o filme é muito bom!

Paixão de Joana d'Arc

 

 

Personagem

Joana d’Arc – Soldado e padroeira da França

 

Na verdade, o dia de Joana d’Arc, como santa, é 30 de maio. Mas resolvi falar dela agora em abril porque é no final deste mês que acontece em Orléans a maior festa dedicada a ela.

Segundo a maioria dos testemunhos, Joana d’Arc (Jeanne d’Arc em francês) nasce em 6 de janeiro de 1412, no pequeno vilarejo de Domrémy, na região de Lorraine. Apesar de ser filha de agricultores com uma relativa prosperidade financeira, Joana vive como uma jovem camponesa sem estudo, o que era comum no seu tempo: ela ama brincar, cantar e dançar com as amigas do vilarejo. Ela também, como muitos na sua época, é muito católica, participa das celebrações religiosas, ajuda os mais pobres. E é esse lado religioso que vai mudar sua vida.

Aos treze anos, Joana começa a escutar vozes: primeiro de Saint Michel (São Miguel), depois de Sainte Catherine (Santa Catarina) e de Sainte Marguerite (Santa Margarida). Elas lhe dizem para ir à França, liberá-la dos ingleses (era a Guerra dos Cem Anos) e levar o herdeiro do trono, o futuro Charles VII, para ser coroado em Reims (os reis franceses eram coroados lá). Após um tempo de resistência, pois era muito jovem e mulher, Joana conta o acontecido a um parente, Durand Laxart (ou Lassois), que a leva para falar com o capitão Robert de Baudricourt.

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Ingres, Jean-Auguste-Dominique, Jeanne d’Arc au sacre du roi Charles VII, dans la cathédrale de Reims, 1854, Musée du Louvre

Isso foi em maio de 1428 e o capitão a manda embora. As vozes continuam e o cerco à Orléans começa. Em fevereiro de 1429, ela volta a falar com o capitão Baudricourt, que, depois de fazê-la passar por um exorcismo, lhe dá uma espada e um pequena escolta para ir a Chinon, no Vale do Loire, falar com Charles, o herdeiro do trono. Quando ela chega no castelo de Chinon, Charles se esconde no meio dos cortesãos para ver se Joana o reconhece. E é o que acontece, embora ela nunca o tenha visto antes.

Após três semanas em Poitiers sendo testada – até sua virgindade foi verificada, para ver se ela não tinha pacto com o diabo -, Joana vai para Tours, no Vale do Loire, onde ela recebe o equipamento para comandar uma tropa. Dali eles vão para Blois, reúnem as tropas francesas leais a Charles e partem para Orléans, que sofria o cerco dos ingleses. Ela chega na cidade em 29 de abril de 1429. Após uma série de ataques, o exército inglês desiste do cerco. Joana libera também os arredores de Orléans. Então, ela convence o Conselho do delfim (herdeiro do trono) a ir para Reims e, após uma série de vitórias pelo caminho, Charles é coroado na cidade em 17 de julho.

Uma vez rei, Charles VII quer ter uma política de acordos de paz. Joana quer continuar a ofensiva militar e terminar a sua missão. Com um exército pequeno, ela tenta entrar em Paris, sofre a derrota e é ferida na coxa por uma flecha. Ela ainda tenta algumas batalhas e tem algum sucesso, mas sem apoio. Em 23 de maio de 1430, com uns 400 homens, Joana tenta entrar em Compiègne, mas é capturada por um francês a serviço do Duc de Bourgogne (Duque da Borgonha), que era aliado dos ingleses (para entender melhor, veja a matéria aqui do blog sobre a Tour Jean sans Peur, em Paris).

Quadro
Scheffer, Henry – Entrée de Jeanne d’Arc à Orléans, 8 mai 1429, 1837-1843, Château de Versailles

O duque a entrega para os ingleses e ela é levada para a prisão na torre do Castelo de Rouen, cidade aliada da Inglaterra. Julgada por um tribunal eclesiástico, Joana tem sua virgindade questionada, sofre acusações por se vestir como um soldado e é acusada também de bruxaria. Ela é muito torturada, pois querem que ela reconheça a natureza diabólica da sua missão. Assim, Joana é condenada e entregue mais uma vez aos ingleses, que a queimam em uma fogueira na Place du Vieux-Marché, em Rouen.

Logo após a sua morte, Joana se torna muito popular. Ela começa a ser chamada de La Pucelle d’Orléans (a virgem de Orléans). Alguns anos depois, as coisas que ela previu quando estava em Poitiers acontecem, como a derrota definitiva dos ingleses em 1453 na Batalha de Castillon. Em 1456, ao final de um longo processo por iniciativa de sua mãe, a memória de Joana é reabilitada. Sua canonização aconteceu bem depois, em 1920. Ela é uma das padroeiras da França, junto com Santa Terezinha do Menino Jesus. Por isso, em toda igreja francesa há uma imagem de Joana d’Arc.

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Jeanne d’Arc au bûcher, iluminura do manuscrito de Martial d’Auvergne, Les Vigiles de Charles VII, 1484, BnF, département des manuscrits.

 

Para Passear
Rouen, na Normandia

 

Rouen
A Place du Vieux-Marché, em Rouen, onde Joana d’Arc foi queimada (a placa relembra o fato)

 

Já que o tema é Joana d’Arc, não dá para não falar de Rouen, na Normandia, onde ela foi morta. A menos de duas horas de Paris, é uma das mais importantes cidades francesas e é cheia de história. Em Rouen, podemos ver a Place du Vieux-Marché, o local onde Joana foi queimada. Há uma igreja, com arquitetura contemporânea, dedicada à santa ali do lado. Também é possível visitar a Torre onde ela ficou presa: além de uma espécie de museu, o lugar abriga um escape game bem interessante.

Mas o destaque é o Historial Jeanne d’Arc. Situado no antigo Palais de l’Archevêché, onde aconteceu uma parte do processo de Joana, esse museu moderno nos faz mergulhar na epopeia da heroína através de imagens 3D e outros recursos de tecnologia super modernos. Gostei bastante. Esta bela cidade da Normandia também é conhecida por sua catedral, retratada por Claude Monet. Se você quiser saber mais sobre o lugar, veja aqui no site o post que publiquei sobre Rouen.

 

Domremy-la-pucelle – A cidade natal de Joana d’Arc

 

Domremy-la-pucelle fica na região de Lorraine, no leste da França. É uma cidade bem pequena, mas com monumentos históricos bem bonitos. Em relação à Joana, podemos visitar a casa onde ela nasceu, que foi totalmente restaurada; a Basilique du Bois-Chenu, basílica construída a partir de 1881 perto de onde Joana teria escutado a voz dos santos, e a igreja Saint-Remy, onde ela foi batizada. No segundo domingo de maio, é comemorada a festa nacional de Joana d’Arc com grande pompa na cidade. Mas um evento que atrai muitos turistas para Domremy é o espetáculo, com atores, som e luz, que conta a vida da santa e que acontece em agosto na Basilique du Bois Chenu. Para saber mais, veja o site oficial de Domremy

Basilique Jeanne d'Arc
Basilique du Bois-Chenu, em Domrémy

 

 

Alguns eventos interessantes pela França

Você já sabe que aqui é um aperitivo do que acontece neste mês em terras francesas. Para o caso de estar na França ou conhecer alguém que virá nos próximos dias. Como escrevi no começo da Newsletter, é impossível escrever sobre 10% dos eventos deste país. Então, aí vão três sugestões.

 

1) Fêtes de Jeanne d’Arc – Orléans, Vale do Loire

 

De 29 de abril a 8 de maio de 2022 acontecem as Festas de Joana d’Arc ou Fêtes johanniques. Durante estes dias, a cidade revive o percurso da heroína pelas suas ruas, pois Joana foi a responsável pela libertação de Orléans das mãos dos ingleses. Há reconstituições históricas, desfiles, festas e um
espetáculo de som e luz nas fachadas da catedral. Uma curiosidade é que neste ano a jovem que vai representar a Pucelle é descendente de um dos irmãos de Joana. Ela se chama Clotilde Forgeot d’Arc e tem 15 anos. Para saber mais sobre o evento, veja o site do Office de Tourisme de Orléans

 

Fêtes Jeanne d'Arc Orléans

 

 

2) Musée Départemental Albert Kahn – Arredores de Paris

 

Após anos de trabalhos de restauração, o Musée Départemental Albert Kahn foi reaberto ao público em 2 de abril. Albert Kahn (1860-1940) foi um banqueiro e filantropo. Ao longo de sua vida e de suas atividades, reuniu uma série de objetos, desde fotos e filmes até um laboratório de biologia, que instalou em sua casa. Também criou vários jardins na propriedade. Esta residência é aberta ao público, onde podemos ver um museu de imagens e seus vários jardins, que estão entre os mais bonitos jardins da França. Fica ao lado de Paris, na cidade de Boulogne-Billancourt, final da linha 10 do metrô. Para saber mais, veja o site

 

Musée Départemental Albert Kahn

 

 

3) La Foire du Trône – Paris

 

Este evento efêmero é uma mistura de parque de atrações e quermesse, por assim dizer. Esta Foire é a mais antiga da Europa e acontece na Pelouse de Reuilly, no 12e arrondissement (12o distrito). Há montanha-russa, trem fantasma, roda gigante…Enfim, são quase 350 atrações, incluindo muitas barracas com jogos e outras cheias de coisas gostosas. Há também eventos temáticos, como o Dia Chinès, Dia Português, etc. É um passeio para adultos e crianças. Vai até 6 de junho de 2022. Para saber mais, veja o site da Foire du Trône

 

 

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Espero, mais uma vez, que tenham gostado desta Newsletter com destaque para Joana d’Arc. Se você tiver sugestões, basta comentar aqui ou me escrever contato@diretodeparis.com. E se não quiser receber mais o email avisando da Newsletter, é só me escrever também. Um grande abraço e até breve!

 

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

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