Embora seja pertinho da Torre Eiffel, a Île aux Cygnes ainda é desconhecida pelos turistas. Mas, esse lugar curioso oferece uma das mais belas vistas da Dama de Ferro e um dos passeios mais tranquilos da cidade.
E por que esse nome Île aux Cygnes? Bom, ela tem esse nome por causa de uma outra ilha, a Île des Cygnes, que ficava entre o Invalides e o Champ-de-Mars (Campo de Marte), perto da margem esquerda do Sena.
Essa antiga ilha, no século XVI, abrigou um cemitério. Foi ali que foram enterradas as vítimas do massacre de Saint-Barthélemy (São Bartolomeu), quando muitos protestantes foram mortos em Paris, alguns dias depois do casamento do futuro rei, Henri IV, com Marguerite de Valois, a futura rainha Margot.
Nessa época, a ilha era conhecida como Île de Maquerelle, que era uma deformação de mâle querelle (disputa de macho, por assim dizer), pois era ali que os homens iam duelar. O lugar também era usado para estocar lenha.
Vista da margem do Sena
Em 1676, Louis XIV resolve usar a ilha como moradia para 40 cisnes vindos da Dinamarca. Daí o nome Île des Cygnes. Porém, essa era uma época em que boa parte da população parisiense passava fome e as pobres aves e seus ovos logo foram vistos como uma iguaria grátis.
Então, para proteger esses animaizinhos, Jean-Baptiste Colbert, o grande Ministro de Louis XIV, proíbe que as aves sejam capturadas e os ovos sejam roubados. Aliás, ele chega a proibir mesmo o acesso à ilha. E quem desobedecesse uma vez pagaria uma pesada multa de 300 livres. E, no caso de recaída, castigos corporais eram previstos.
Em 1722, Louis XV decide dar a ilha à cidade de Paris. Alguns anos depois, em 1776, é instalada ali uma triparia para a fabricação de óleo a partir dos miúdos e vísceras de boi, vaca e ovelha. Esse óleo servia para alimentar os lampiões de iluminação pública, instalados em Paris desde 1766.
Mas, desde essa época, já pensam em cobrir o canal que separa a ilha do continente. Os trabalhos começam em 1780 e terminam em 1812. Assim, a Île des Cygnes desaparece.
Agora vamos falar da atual ilha. Alguns anos depois, em 1826, dois empreendedores, Léonard Violet e Alphonse Letellier, obtém autorização para lotear os terrenos da plaine de Grenelle. Hoje parte do 15ème arrondissement de Paris, Grenelle na época era um vilarejo, que não fazia parte da cidade.
Eles têm a missão de criar um porto fluvial na margem esquerda do Sena e construir uma ponte ligando as duas margens. Assim, um dique é construído em 1827 para proteger o porto e uma ponte é erguida ali perto, a primeira Ponte de Grenelle.
Essa foi uma construção muito importante para a cidade, pois, nessa época, ainda não havia a estrada de ferro e tanto as mercadorias quanto grande parte dos passageiros eram transportados pelo Sena.
O mais incrível é que a ilha atual nada mais é do que esse dique construído para a proteção do porto de Grenelle. Em homenagem à outra ilha, ela é batizada de Île aux Cygnes. Algum tempo depois, em 1830, árvores são plantadas ali e o lugar se torna um pequeno jardim.
A fisionomia atual dela é obtida em 1878, quando, por ocasião da Exposition Universelle, uma alameda, a Allée des Cygnes, é construída no local. É a única via da ilha e vai de uma ponta a outra.
Assim, hoje a Île aux Cygnes é um agradável passeio de 890 metros de comprimento e 11 metros de largura. Ela fica entre as pontes de Grenelle e Bir-Hakeim. Há mais de 300 árvores plantadas ali, como tílias, castanheiras, entre outras. Por isso, é um lugar fresco mesmo em dias de calor intenso. Pela sua configuração, é muito apreciada pelos corredores, que vão e vêm pela alameda.
As três pontes que “cortam” a ilha também lhe dão um charme especial. A primeira, a Bir-Hakeim, chama atenção com seus dois níveis. A construção atual foi inaugurada em 1906. É depois dela, em uma pequena esplanada, que a Île aux Cygnes começa – ou termina.
Vemos ali uma obra, La France Renaissante. Esculpida por Holger Wederkinch, a estátua provocou polêmica. Ela foi oferecida em 1930 pela comunidade dinamarquesa de Paris e fazia alusão à Joana D’Arc. Porém a Commission des Monuments Commémoratifs emite uma recomendação desfavorável. Não ficava bem associar a santa ao personagem da escultura, pois tinha um caráter guerreiro demais. Então, a obra foi rebatizada e escapou da censura. Em 1956 foi finalmente inaugurada.
A segunda ponte da ilha é a Pont Rouelle. Ninguém sabe o porquê dela ter esse nome, já que nunca foi oficialmente batizada. Ela foi construída para a Exposition Universelle de 1900 e hoje é usada pelo RER C.
Já a última ponte é a de Grenelle. A primeira, como vimos, foi construída em 1827, em madeira. A atual construção é metálica e data de 1966. Embaixo dela, nos últimos anos, foram instalados vários equipamentos esportivos. E o pessoal usa mesmo.
É logo depois da Pont de Grenelle que está o cantinho mais famoso da ilha. É que bem na ponta está a réplica da Estátua de Liberdade. A obra, realizada por Frédéric Auguste Bartholdi – o mesmo escultor da original de Nova York – , foi presente da Comunidade Americana de Paris, em 1885 e tem um quarto do tamanho da americana, ou seja, nove metros de altura (sem o pedestal).
A Estátua da Liberdade parisiense foi inaugurada em 1889, para a Exposição Universal daquele ano, e instalada em cima de um dos pilares da ponte de Grenelle. Era voltada para o centro de Paris, o que não era do agrado do seu autor. Em 1937, em ocasião de outra Exposition Universelle, ela foi virada em direção dos Estados Unidos. Porém, nessa época, Bartholdi já estava morto. Em 1968, por causa dos trabalhos na ponte de Grenelle, a obra foi deslocada para a ponta da Île aux Cygnes, onde está até hoje, olhando em direção da sua grande irmã americana.
Uma curiosidade é que no livro que ela segura estão duas datas: 4 de julho de 1776, dia da declaração da independência dos Estados Unidos, e 14 de julho de 1789, data da tomada da Bastilha.
Ah, e a ilha como a vemos hoje quase que não existe mais. É que nos anos 1930, André Lurçat, arquiteto modernista, havia sugerido construir um pequeno aeroporto para hidroaviões na Île aux Cygnes. Mas, felizmente, o projeto não se realizou. E, para quem deve estar se perguntando se tem cisnes na ilha, a resposta é: tem sim, mas raramente são vistos. Eu mesma não vi nenhum.
Então, fica a sugestão de um passeio gostoso, calmo e gratuito. Além de tudo o que foi mostrado aqui, a Île aux Cygnes ainda tem uma atração irresistível: uma das mais belas vistas da Torre Eiffel. Precisa de mais?
Île aux Cygnes
Entre as pontes de Grenelle e Bir-Hakeim
75015 Paris
Metrô: Bir-Hakeim – linha 6
Charles Michels – linha 10
Você pode chegar na ilha por qualquer uma das duas pontes.
Gratuito.
Para saber mais, clique aqui
Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.
Que demais! Tanta historia num pedacinho de Paris… e essa vista da torre??? Acho q e a primeira vez q vejo uma foto desse ponto! LINDO
Ja ate marquei no maps pra qnd eu for a cidade! Adorei o post.
Renata que delícia de post, uma aula de história junto com dicas de um lugar lindo de Paris. Já vi essa ‘ilha’ de longe, mas quando voltar à Paris vou passear por esse caminho e com certeza voltarei aqui para rever a história antes de ir. Parabéns.
Oi, Renata! Adorei conhecer um pouquinho mais sobre a ilha, é um lugar encantador e muito propício pra sentar, relaxar e aproveitar a vista degustando de um bom café e um croissant francês rs. Sonho em conhecer Paris e já quero conhecer a Ile Aux Cygnes *-* Beijos.
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Comentários (10)
Camila Latorre
2 de agosto de 2018 at 16:04Que demais! Tanta historia num pedacinho de Paris… e essa vista da torre??? Acho q e a primeira vez q vejo uma foto desse ponto! LINDO
Ja ate marquei no maps pra qnd eu for a cidade! Adorei o post.
Renata Rocha Inforzato
9 de agosto de 2018 at 10:46Oi Camila, obrigadão! Marque sim, pois é um lugar bem gostoso de passear, ainda mais no final do dia. Bjs
Cynara Vianna
3 de agosto de 2018 at 13:30Renata que delícia de post, uma aula de história junto com dicas de um lugar lindo de Paris. Já vi essa ‘ilha’ de longe, mas quando voltar à Paris vou passear por esse caminho e com certeza voltarei aqui para rever a história antes de ir. Parabéns.
Renata Rocha Inforzato
9 de agosto de 2018 at 10:46Oi Cynara, obrigada!!! Venha sim e passeie por ali. É um lugar bem calmo e gostoso. Bjs
ADRIANA MAGALHAES ALVES DE MELO
3 de agosto de 2018 at 19:00Muito bom seu post, tudo bem explicadinho. Eu não conhecia essa ilha e já fiquei com vontade de dar uns trotes por ali. Tanta história interessante!
Renata Rocha Inforzato
9 de agosto de 2018 at 10:44Oi Adriana, é bem gostoso passear ali, recomendo. Bjs
Lid Costa
3 de agosto de 2018 at 20:53Que vista linda da Torre. Esse lugar parece ser super tranquilo, ne?! Bem menos turístico, curti a dica =)
Renata Rocha Inforzato
9 de agosto de 2018 at 10:43Oi Lid. Sim, é bem tranquilo. E a vista maravilhosa… Obrigada pelo comentário, bjs
Paula Abud
7 de agosto de 2018 at 2:09Oi, Renata! Adorei conhecer um pouquinho mais sobre a ilha, é um lugar encantador e muito propício pra sentar, relaxar e aproveitar a vista degustando de um bom café e um croissant francês rs. Sonho em conhecer Paris e já quero conhecer a Ile Aux Cygnes *-* Beijos.
Renata Rocha Inforzato
9 de agosto de 2018 at 10:41Oi Paula, espero que você venha logo ver tudo isso de perto. Beijos