Aqui está mais um post sobre as galerias e passagens cobertas de Paris. Agora é a vez de saber mais sobre a Passage du Grand-Cerf, que não é tão visitada pelos turistas, mas que não deixa nada a dever às outras em matéria de curiosidade e beleza. E é a mais alta passagem coberta da cidade.
Não há muitas informações sobre esta passagem. O que se sabe é que no lugar onde ela foi construída havia um hotel e um terminal de diligências. Pertencentes à companhia Les Messageries Royales, criada pelo rei Henri III em 1576 para levar pessoas, mercadorias ou correspondências, o veículos da rue Saint-Denis eram responsáveis por atender a região leste da França. Ao lado do terminal havia o hôtel du Grand-Cerf, administrado por um certo Suzet, onde os condutores das diligências se hospedavam, entre outros hóspedes.
Mas, com a Revolução, as Messageries Royales passam a se chamar Messageries Nationales e, antes mesmo do final do período revolucionário, são extintas. É que, na mesma época, o governo havia quebrado o monopólio estatal, permitindo que qualquer empresa pudesse trabalhar no setor de transporte de mercadorias e pessoas.
Assim, o hotel, que era dos Hospices de Paris no começo do século XIX, é comprado pelo banco Devaux-Moisson, em 1825. Então, o novo proprietário começa a demolir as antigas construções e manda fazer uma passagem coberta, ligando as ruas Saint-Denis e a des Deux-Portes, hoje rue Dussoubs. No ano seguinte, a passagem é vendida para Isidore Monier.
Não se sabe muitos detalhes da construção. Alguns relatos dizem que, em 1827, durante as revoltas populares que sacudiram Paris, a passagem foi usada pelos rebeldes, assim como outras do bairro. Aliás, este pedaço da capital em volta da rue Saint-Denis era conhecido por ser um bairro popular e industrial, cheio de pequenas fábricas e ateliês de pequenos artesãos. Não se sabe se a Passage du Grand-Cerf já estava pronta quando foi usada nas revoltas.
No meio da decoração, encontramos algumas coisas insólitas
O que se sabe é que em 1835 ela já está terminada. Construída no estilo Neoclássico, também não dá para saber quem foi o arquiteto. Porém, é certo que a sua arquitetura foi um marco nas passagens cobertas realizadas depois dela, tanto de Paris quanto da Bélgica e da Itália. Isso porque na sua construção foram usados elementos metálicos, o que era novo até então.
Essa estrutura em metal possibilitou dois andares inteiramente em vidro, assim como seu grande teto. O que confere uma luminosidade excepcional para a passagem. O estilo desta cobertura em vidro é mais recente do que o resto da galeria, embora, mais uma vez, não se sabe quando ela foi realizada.
Com a popularidade crescente de passagens cobertas mais luxuosas, como a Galerie Vivienne, a Passage du Grand-Cerf é pouco a pouco abandonada. E isso se vê nos cronistas da época, que quase não falam nela, o que contribui para a falta de dados para retraçar sua história. Não sabemos nem que tipo de lojas havia naqueles anos.
Em 1862, os herdeiros da família Monier deixam a passagem para a Assistance Publique, entidade que substitui os Hospices de Paris na administração dos hospitais da cidade. Aí começa um período de abandono ainda maior: ela chega a ser fechada por correr o risco de desmoronar e tem sua estrutura reforçada em ajustes improvisados.
No final do século XIX, a Assistance tenta vender a passagem, conforme mostra um documento de 1896. Nesta época, os aluguéis das lojas mal cobriam o que era gasto com manutenção. Porém, Passage du Grand-Cerf somente vai encontrar comprador quase cem anos depois, em 1985, quando um certo senhor Schwartz, representante da sociedade PII, adquire a passagem. Ele começa uma reforma em 1988. A ideia era respeitar os projetos originais e devolver à galeria a beleza de antes.
Mais decoração diferente
E o desafio é concluído com muito sucesso. Só que com a crise de 1990 no setor imobiliário, a comercialização dos espaços para as lojas sofre um atraso. Porém, logo que é terminada, a Passage du Grand-Cerf torna-se um endereço muito estimado pelos parisienses e pouco a pouco começa a ser conhecido pelos turistas.
A visita
Localizada no 2º arrondissement de Paris, a Passage du Grand-Cerf tem 117 metros de comprimento e 3 metros de largura. Da sua espetacular cobertura em vidro até o chão são 11,80 metros de altura, o que faz dela a mais alta das passagens cobertas parisienses.
Ela possui duas entradas: uma mais imponente na rue Saint-Denis. Nesta, a entrada possui até mesmo um frontão, com um navio no centro, uma variação do brasão de Paris. Já a outra entrada fica na rue Dussoubs e é mais simples.
Entrada da rue Saint-Denis
Entrada da rue Dussoubs
Logo depois das entradas, o teto apresenta uma decoração em estuque. Em seguida, começa a bela cobertura em vidro. Ela só é interrompida, de tempos em tempos, quando uma espécie de passarela liga os dois lados da galeria. Nestas partes, a decoração também é em estuque.
Uma das passarelas
Ao longo da galeria, a decoração é simples. A estrutura em ferro acentua a leveza da cobertura de vidro e a madeira de cor clara das lojas dá um ar de refinamento. Há duas alegorias: uma representando o comércio, com o caduceu de Mercúrio (deus do comércio) e a outra a agricultura, com a cesta da abundância.
À esquerda, o Comércio e, à direita, a Agricultura
O piso é em mármore, com motivos em cinza, preto e branco. Uma coisa bem legal é as tabuletas das lojas, antigas e novas. Encontramos também elementos diferentes que fazem parte da decoração. Destaque para um cervo, que representa bem a passagem. Após os dois níveis envidraçados, em forma de vitrines, há um terceiro composto por residências.
Tabuletas de uma ótica
O segundo nível com vitrines e, no último, as janelas menores, que são apartamentos
Hoje, a Grand-Cerf abriga lojas de artesanato, decoração, cosméticos, joias e bijuterias, design, ateliês de artistas, ótica, restaurante e até um escritório de comunicação. Achei bem interessante uma loja de decoração que fez objetos úteis com garrafas pets. Também adorei a que vende linhas e lãs.
Porta-trecos feitos com garrafas de plástico
Enfim, a Passage du Grand-Cerf é bem interessante como atração turística. Andar ali olhando as vitrines, admirando a decoração da galeria ou mesmo parar para tomar um café é bem agradável. É um lugar para se visitar tanto nos dias frios quanto no calor.
Passage du Grand-Cerf
Entradas: 145 rue Saint-Denis e 10 Rue Dussoubs
75002 Paris
Horários: de segunda a sábado, das 8h30 às 20h30.
Metrô Étienne Marcel – linha 4.
Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.
Que passagem tão bonita, com todas as galerias e o topo em vidro! Já estive em Paris mas admito que não passei por esta. É destas coisas que fazem com que Paris seja encantadora!
Que lugar bonito e novo para mim. Não conheço, nem nunca tinha ouvido falar. Fogo do trivial, do basicão, e isto é muito legal. Parabéns pelo post e pela sugestão.
Maravilhosa sua postagem. Adorei. Já está no meu roteiro na minha próxima viagem em abril/2019. Merci Renata, continue publicando coisas lindas sobre Paris. Bjs
Lendo um livro sobre Paris, conheci a Galerie du Grand- Cerf, que, com certeza, estará na minha próxima viagem a Paris, em junho, ainda mais, depois de ler o seu post. Adoro essas passagens em Paris, super charmosas, mas essa não conheço. Obrigada. Marilene
O Direto de Paris usa cookies para funcionar melhor. Mais informações
The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.
Comentários (14)
Ana
8 de abril de 2017 at 18:29Que passagem tão bonita, com todas as galerias e o topo em vidro! Já estive em Paris mas admito que não passei por esta. É destas coisas que fazem com que Paris seja encantadora!
Renata Rocha Inforzato
15 de abril de 2017 at 23:29Oi Ana. Acho que a gente precisa de uma vida toda pra ver tudo o que Paris oferece. Um beijo
Michela Borges Nunes
9 de abril de 2017 at 23:57Que lugar bonito e novo para mim. Não conheço, nem nunca tinha ouvido falar. Fogo do trivial, do basicão, e isto é muito legal. Parabéns pelo post e pela sugestão.
Renata Rocha Inforzato
15 de abril de 2017 at 23:27Oi Michela, obrigada pelo comentário, beijos
Verá Martins
15 de agosto de 2017 at 0:11Muito interessante, bonito endereço! Vontade de correr para Paris! Obrigada pela bela reportagem!
Vera Martins
15 de agosto de 2017 at 0:15Corrigindo: meu nome é Vera, sem acento! Desculpe.
Eduardo
29 de dezembro de 2017 at 23:20Parabéns Renata pela qualidade de seu texto e dos temas escolhidos
Renata Rocha Inforzato
19 de janeiro de 2019 at 17:09Oi Eduardo, obrigada! Um abraço
Judith Pinheiro
20 de outubro de 2018 at 19:37Agora suas postagens pois me trazem ótimas recordações . Você é TOP. Merci e um beijo
Renata Rocha Inforzato
19 de janeiro de 2019 at 16:32Oi Judith, obrigadão pelo comentário, um beijo
CLÉLIA PRESTES
24 de fevereiro de 2019 at 21:33Maravilhosa sua postagem. Adorei. Já está no meu roteiro na minha próxima viagem em abril/2019. Merci Renata, continue publicando coisas lindas sobre Paris. Bjs
Renata Rocha Inforzato
15 de março de 2019 at 11:57Oi Clélia, obrigadão pelo seu comentário. Vou continuar postando, sim, e espero que você continue me lendo. Bjs
Marilene D. de Oliveira
3 de fevereiro de 2022 at 12:29Lendo um livro sobre Paris, conheci a Galerie du Grand- Cerf, que, com certeza, estará na minha próxima viagem a Paris, em junho, ainda mais, depois de ler o seu post. Adoro essas passagens em Paris, super charmosas, mas essa não conheço. Obrigada. Marilene
Renata Rocha Inforzato
24 de fevereiro de 2022 at 1:21Oi Marilene. As passagens de Paris são charmosas mesmo, vale a pena visitar o máximo que puder. Obrigada pelo comentário