Você já pensou em atravessar Paris fazendo parte de um cortejo de carros, motos e ônibus antigos? Como tudo aqui na Cidade Luz, isso é bem possível: basta se inscrever na Traversée de Paris, que acontece nesse domingo, 12 de janeiro, a partir das 7h30, com partida no Château de Vincennes.
A Traversée já é um desfile já tradicional na cidade: esse ano ela completa 14 anos. Ela acontece duas vezes por ano, no inverno (Édition Hivernale) e no verão (Édition Estivale). Eu a descobri por acaso, em 2011, pois é um evento em parceria com a cidade de Vincennes, vizinha daqui de onde moro. Então, desde aquele ano, participei em todas as edições. Em 2011 e 2012, tive a chance de fazer reportagens sobre ela.
Esse ano, assim como no ano passado, a Associação Vincennes en Anciennes, que promove a travessia, está em parceria com a associação Prix Henri Langlois para homenagear o cinema. Afinal, carros antigos e sétima arte sempre se entenderam tão bem!
Quem tem carro é só chegar e participar. Quem não tem, pode andar em um dos ônibus disponibilizados pelo Museu do Transporte: basta se inscrever, entrando em contato com a associação, e desembolsar cinco euros. Mas vou dizer uma coisa a vocês: vale muito a pena. Foi uma das experiências mais incríveis que já vivi e vou contar como foi a primeira – que a gente nunca esquece.
Era sete horas da manhã de 16 de janeiro de 2011, e estava um frio horroroso. Confesso que não foi fácil pegar o ônibus no escuro para ir até o Château de Vincennes. Mas, ao chegar lá, o sono e o frio foram embora rapidinho: a expectativa e animação do pessoal eram contagiantes.
Era um tal de buzina, música e gritos de alegria. Utilizando todos os clichês possíveis, nem parecia que estava na França, normalmente tão silenciosa. O clima era de festa. E barulho de motor, já que os motoristas checavam suas máquinas para que tudo estivesse perfeito para a partida, que seria dali a pouco.
Quase sete e meia e os dois ônibus chegam. Todo mundo sobe, ordenadamente, mas ninguém quer sentar. A graça é ficar em pé, na ponta para ter as melhores fotos possíveis. Eu subo e logo me acomodo na parte de trás do segundo ônibus, em pé, é claro. Digamos que eu fiquei pendurada, como as pessoas faziam nos bondes antigos.
Fui em um ônibus como esse
O cortejo parte. O trajeto vai em direção à Bastille, ao mesmo tempo em que o sol começa a nascer. Ver todos aqueles carros antigos desfilando ao nascer do dia na Cidade Luz me dá uma sensação de felicidade e sonho. Naquela época, com a minha máquina pequena, tinha que me segurar bem e ter cuidado para que ela não caísse. E como o ônibus balançava!
E assim a Travessia segue: sem pressa – um carro, por exemplo, de 1930, ultrapassa outro mais novinho (1940) e logo é ultrapassado por ele mais pra frente. Os cenários se alternam: Bastille, Notre-Dame, Hôtel de Ville, Place de la Concorde, Champs-Élysées, Montmartre. Praticamente todos os cartões postais de Paris se tornam cenário para essa volta no tempo.
Carros antigos não param de se juntar ao desfile, pois, como disse, para quem tem um, basta chegar e participar. Para se ter uma ideia, os últimos estão até 1 hora atrás dos primeiros.
Os carros “modernos” e que não participam do desfile, acabam parando ou acompanhando devagar o cortejo, fascinados pelo que veem. Assim como as pessoas nas ruas, que ficam nas calçadas saudando e esperando o desfile passar. E até correm atrás dos carros.
Dentro do ônibus, a animação não é diferente: adultos e crianças sorriem, cantam e cumprimentam as pessoas que estão nas ruas e os motoristas que participam do desfile. São cerca de 450 veículos de todas as marcas, 20 motos, dois ônibus e até uma bicicleta, todos antigos. Há exemplares desde 1920 até 1970.
Os motoristas são um show à parte: muitos se vestem de acordo com a época de seus carros, motos e até da bicicleta. Há casais e até crianças entrando na brincadeira. É bonito de se ver!
Em outro veículo, dois homens fazem coreografias com música e um microfone na mão. Quando o desfile para – ele tem duas paradas: uma no Arco do Triunfo, outra perto do Grand e Petit Palais – eles saem do carro e começam a cantar. É muito engraçado.
Os motoristas cantoresUm das paradas: perto do Grand e Petit Palais
È quase meio-dia quando o desfile volta para o Château de Vincennes. É hora do almoço. Alguns motoristas vão almoçar em um dos restaurantes perto dali. Mas a maioria ou compra a comida em uma das barracas instaladas no local ou levam suas cestas de piquenique. E continuam ali ao lado de suas máquinas, mostrando-as para quem quiser vê-las.
É um momento bem legal de interação, pois eles não se incomodam de que as pessoas toquem, sentem-se e até liguem os carros. E mostram o funcionamento de cada máquina com o orgulho de um pai ao ver que o filho faz sucesso.
É o caso de Pierre-Bertrand Darrieutort, do proprietário do Rolls Royce Silver Cloud 1964: “Este carro é a realização de um sonho que vem desde a infância. Sempre quis muito andar em um Rolls Royce, mas meu pai não podia comprar. Era muito caro”. Ao saber que eu sou brasileira e a entrevista, naquela ocasião, era para uma revista de Minas, Monsieur Darrieutort abre um sorriso: “Tenho dois amigos de Luxemburgo que moram em Belo Horizonte, eles se chamam Carlos e Astrid. Quando lerem essa matéria, vão me reconhecer e saber que estive no desfile”. E não é que ele me deu o email dos amigos?
Monsieur Darrieutort e o Rolls Royce Silver Cloud 1964
Bom, esse foi o relato da minha primeira Travessia. Já tive a chance de participar de outras duas. Se você se interessou e estará em Paris no próximo domingo, dia 12 de janeiro, corre para fazer sua inscrição para andar em um dos ônibus, pois as vagas são limitadas.
Informações
14a Traversée de Paris
Domingo, 12 de janeiro de 2014
Horário: partir das 7h30
Local: Esplanada do Château de Vincennes
Metrô – Château de Vincennes – linha 1
Para andar no ônibus, fazer a reserva no site da Traversée
Valor da inscrição para o ônibus: 5 euros por pessoa
Para saber as outras próximas edições, fique de olho no calendário deles
Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.
Nossa, que bacana! Não conhecia esse evento! Esses desfiles de carros antigos são muito legais, os donos cuidam deles de uma maneira bem particular. Desfilando em Paris, nem se fala. Ótima matéria!
Oi Anita, eu também considero imperdível. Mas é tanta coisa nessa cidade que a gente não vence ver e fazer nem 10% do que ela oferece. Mesmo quem vive aqui. Beijão e obrigada
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Comentários (6)
Elaine Braga
7 de janeiro de 2014 at 0:02Nossa, que bacana! Não conhecia esse evento! Esses desfiles de carros antigos são muito legais, os donos cuidam deles de uma maneira bem particular. Desfilando em Paris, nem se fala. Ótima matéria!
Renata Inforzato
7 de janeiro de 2014 at 15:18Oi Elaine, é um evento muito gostoso de participar. Se você vier em algum janeiro, não deixe de se inscrever. Você vai adorar. Beijão
Anita
7 de janeiro de 2014 at 11:27Há que se ter boas temporadas em Paris para aproveitar tanta coisa!!! Adorei a matéria e é um programa que considero imperdível!
Renata Inforzato
7 de janeiro de 2014 at 15:23Oi Anita, eu também considero imperdível. Mas é tanta coisa nessa cidade que a gente não vence ver e fazer nem 10% do que ela oferece. Mesmo quem vive aqui. Beijão e obrigada
Livia
3 de dezembro de 2014 at 20:08Oi Renata! Procurando por museus de carros antigos em Paris achei seu blog! Vc saberia me dizer se existe algum museu fixo?
Obrigada!
Renata Inforzato
10 de dezembro de 2014 at 14:19Oi Livia. Não sei se é o que você procura, mas nesse link tem todas as listas de museus de transporte na França. http://fr.wikipedia.org/wiki/Liste_des_mus%C3%A9es_fran%C3%A7ais_du_transport Um abraço