O Parc Monceau é um parque situado em uma área nobre de Paris. Apesar de combinar com a elegância do local, é um lugar bem democrático, aonde pessoas de todas as tribos vêm passear. Ele possui áreas super interessantes e quem caminha por ali nem imagina a história por trás de cada uma delas.
No século XVIII, a região noroeste de Paris era uma grande área plana composta por moinhos. Em 1769, Louis-Philippe d’Orléans, duque de Chartres e futuro duque de Orléans, compra uma área que pertencia ao fazendeiro Grimod de La Reynière. O nobre adquire esses terrenos um dia depois do seu casamento com Marie-Adélaïde de Bourbon, princesa de Penthiève, que havia uma grande fortuna.
Inicialmente, ele constrói uma residência, conhecida como Folie de Chartres (folie significa loucura, mas, nesta época, também casa de campo), e a cerca com jardins franceses. Algum tempo depois, ele confia a Louis Carrogis, conhecido como Carmontelle, a arrumação da propriedade. Carmontelle era um personagem singular: era paisagista, engenheiro, topógrafo, escritor, pintor e organizador de festas.
Assim, Carmontelle faz um jardim magnífico, composto por vários elementos ecléticos: havia ali ruínas de um templo de marte, de um castelo gótico, um moinho holandês, pirâmide egípcia, pagode chinês, um minarete, pavilhões, etc. Rios, espelhos d’água e até vinhedos são criados.
Por causa dessa mistura meio louca, que pretende homenagear todos os tempos e todos os lugares, o parque se torna famoso e já atrai muitos visitantes, a maioria composta por amigos do duque. A China era a principal inspiração, pois na época havia um certo fascínio pelo país, em parte graças aos relatos dos missionários que voltavam de lá para a Europa.
Em 1783, o duque contrata Thomas Blaikie, paisagista escocês e um dos criadores do Parc de Bagatelle, para comandar algumas mudanças no parque. Ele simplifica o traçado e diversifica as espécies plantadas, dando mais ainda um toque de jardim inglês ao lugar. Dois anos depois, o rei Louis XI decide cercar Paris por uma muralha com vários pavilhões para facilitar a cobrança de taxas sobre as mercadorias que entravam na cidade. Era o Mur des Fermiers Généraux. Com isso, em 1787, um pavilhão é construído no parque, o que faz com que ele perca uma parte de sua superfície.
Mas a coisa não para por aí. A Revolução Francesa chega e os bens da família Orléans são confiscados em 1793 e o próprio duque de Chartres é guilhotinado. O Parc Monceau se torna, então, bem nacional e áreas de lazer para a população são construídas.
Com a chegada de Napoleão ao poder, o parque tem um novo proprietário. Ele se chama Jean-Jacques-Régis de Cambacérès e é marechal do Império. Pelos serviços prestados ao imperador, recebe o lugar como presente. Mas manter a propriedade é muito caro e ele acaba por devolvê-la.
A família Orléans recupera os seus bens, incluindo o Parc Monceau, com a Restauração, em 1815. Até que, em 1852, a cidade de Paris compra a propriedade e a divide em duas partes. A primeira, com nove hectares, se torna um parque público municipal. A segunda, de dez hectares, é vendida aos irmãos Pereire, empresários de vários setores, inclusive imobiliário, que constroem ali vários palacetes.
Assim, reduzido à metade, o parque tem de ser remodelado. Nessa mesma época, Paris passava pela transformação empreendida pelo prefeito Georges Eugène Haussmann a mando de Napoleão III. O projeto previa a criação de avenidas largas, os bulevares, assim como de uma série de áreas verdes pela cidade. Foi nessa época que os parques Des Buttes Chaumont e Montsouris, por exemplo, são criados.
Assim, em 1854, a transformação do Parc Monceau é confiada a Jean-Charles-Adolphe Alphand, que era engenheiro de Ponts et Chaussées (pontes e pavimentos). Ele se cerca do arquiteto Gabriel Davioud e do paisagista Jean-Pierre Barillet-Deschamps, jardineiro-chefe da cidade. Eles modificam o traçado do parque pela última vez.
Uma parte das antigas atrações – chamadas fabriques – é conservada, mas novos elementos vêm dar mais beleza ao Parc Monceau e outros são remodelados, como, por exemplo, o rio, uma pequena cascata e a gruta. Árvores raras são plantadas, assim como canteiros de flores.
Em 1861, o parque é inaugurado por Napoleão III. E logo após se torna o lugar preferido da burguesia local, que mora nos palacetes cujos jardins dão para o parque. O escritor Marcel Proust também adorava caminhar por ali.
As atrações do Parc Monceau
Assim, o Parc Monceau é o único parque histórico de Paris que foi remodelado. O nome escolhido vem de Mousseaux, que era um antigo vilarejo que ficava ali, onde hoje é o parque. O que encontramos nele é desta inauguração do século XIX. Então, aqui vai uma lista de algumas coisas interessantes para se ver em um passeio pelo lugar.
1) Pavillon de Chartres – É um dos pavilhões do Mur des Fermiers Généraux cuja construção, em 1787, diminuiu o tamanho do parque. Assim como os outros construídos pela cidade, foi obra de Claude Ledoux. O do parque fica na entrada que dá para o Boulevard de Courcelles e tem a forma de uma Rotunda com várias colunas. Um salão foi construído dentro do pavilhão, no primeiro andar, de onde o duque de Chartres tinha uma bela vista do parque e dos arredores.
2) A Naumachie – Trata-se de um espelho d’água cercado por colunas. Dizem que, para a forma da construção, Carmontelle teria se inspirado no projeto do túmulo de Henri II, encomendado pela rainha Catherine de Médicis e que nunca foi realizado. Outros dizem que as colunas são provenientes de uma capela que a soberana mandou construir perto da Basílica de Saint-Denis. Mas nada é confirmado. O nome Naumachie vem da Antiguidade: Naumachie era o lugar onde aconteciam jogos romanos que reproduziam batalhas navais.
3) Uma parte da Fachada do antigo Hôtel de Ville de Paris – Este arco foi colocado alguns anos depois da inauguração do parque. Faz parte do antigo Hôtel de Ville, sede da prefeitura da capital, destruído por um incêndio em 1871, durante a Comuna de Paris. O estilo é do Renascimento.
4) Os Portões Dourados – Construídos em meados do século XIX pelo arquiteto Gabriel Davioud, encarregado por Alphand para cuidar das construções do parque. Banhados em ouro e com motivos bem trabalhados, eles guardam cada uma das quatro entradas do Parc Monceau.
5) Ponte veneziana – Também construída por Davioud, que teria se inspirado nas pontes de Veneza.
6) Cascata, gruta e rochedo – Já havia estes elementos desde a época de Carmontelle. Mas eles foram remodelados durante as mudanças do século XIX, por ordens de Alphand. Há uma escada para subir o pequeno rochedo, mas nem sempre ela está aberta.
7) Bois des Tombeaux (Bosque de Tumbas) – São restos de túmulos colocados em várias partes do parque por Carmontelle, na época do duque de Chartres. Hoje ainda há alguns.
8) Pirâmide – O duque de Chartres era um Grão-mestre da Maçonaria francesa. Dizem que ele fazia reuniões no parque Monceau. Essa pirâmide, que é um túmulo vazio, tem inspiração maçônica.
9) Obelisco egípcio – Também do século XVIII, colocada ali por Carmontelle, dentro do contexto da presença de elementos de diferentes culturas. Mas, na verdade, de egípcio ele não tem nada.
10) As estátuas – No Parc Monceau vemos várias estátuas, em estilo romântico, de personalidades da época. Elas foram criadas entre 1897 e 1906 por diversos escultores. Tem a de Chopin e a de Guy de Maupassant, por exemplo. Ao todo são seis esculturas espalhadas pelo parque.
Jacques Froment Meurice – Monument à Chopin, 1906Raoul Verlet – Monument à Guy de Maupassant, 1897
11) Lanterna Japonesa – Foi colocada ali em 1986 para lembrar a amizade entre Paris e Tóquio, assinada em 1982. Ela é uma obra de arte, quase contemporânea ao parque, pois foi realizada no Japão em 1786.
12) Colunas e outras ruínas – De longe vemos duas colunas que lembram a Antiguidade. Mas elas foram feitas e colocadas ali na época do Duque de Chartres. A mesma coisa para outras ruínas que vemos no parque, como por exemplo, vasos, restos de pilastras, outro arco, etc.
13) Maisonnetes – Essas casinhas de estilo nórdico são usadas pelos funcionários do parque.
14) Áreas de lazer – Para as crianças, há vários brinquedos e até uma pista onde elas podem patinar ou andar de skate e patinete. Tem também um carrossel e um teatro de marionetes.
15) As árvores raras e impressionantes – Aqui elas impressionam pelo tamanho. Por exemplo, o mais velho Plátano do Oriente, de 1814, com 7 metros de circunferência ou um Erable (Bordo), com galhos tortos, que é, desta espécie, o mais velho (1853), o mais alto (30 metros) e o mais largo (4,18 metros) do bairro.
O Plátano do Oriente
Os canteiros de flores, que mudam segundo a estação do ano, também são muito bonitos.
16) Os palacetes – Eles não ficam propriamente dentro do parque, mas têm os jardins que se misturam a ele. É impossível, ao caminhar no Parc Monceau, não admirá-los.
17) Placa comemorativa do salto de Garnerin – Em 1797, um jovem de 28 anos, André-Jacques Garnerin, aluno de vários cientistas da época, decide saltar de pára-quedas a partir de um balão de hidrogênio. E escolhe o Parc Monceau como local do salto. Então, em outubro de 1797, ele sobe no balão e, quando este atinge a altura de mil metros, salta. A aterrissagem no parque é bem-sucedida sob os olhos de dezenas de expectadores, maravilhados.
Serviços: Além de banheiros, no Parc Monceau também há um pequeno quiosque onde se pode comer um sanduíche ou até um crepe, além de matar a sede com bebidas e sorvetes.
Enfim, passear por esta charmosa área verde no meio de Paris é uma delícia. A sensação de paz é total. É gostoso admirar os pássaros que chegam, atraídos pelas árvores e pelas águas, assim como os patos e carpas que povoam o espelho d’água da Naumachie. É uma pausa perfeita durante uma visita a esta parte da cidade, que é perto do Arco do Triunfo.
Parc Monceau
35 boulevard Courcelles
75008 Paris
Outros acessos: avenue Vélasquez, avenue Van Dyck, avenue Ruysdael.
Metrô: Monceau – linha 2
De 1 de maio a 31 de agosto, todos os dias, das 7h às 22h. De 1 a 30 de setembro, todos os dias, das 7h às 21h. E de 1 de outubro a 30 de abril, todos os dias, das 7h às 20h.
Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.
Adorei conhecer esse cantinho verde de Paris, que nem sabia que existia. Sou apaixonado por estátuas e achei esse monumento a Chopin lindo. Já vou incluir no roteiro da próxima vez que for a Paris.
Que lugar lindo, Rê!!! Imagine uma sessão fotográfica pela região? Deve ficar lindo demais!! Achei muito legal aprender um pouco da história por trás de tanta beleza! Adorei!!
Confesso que não fazia ideia do tanto de história (e figuras históricas, e nacionalidades haha) que está envolvido o Parc Monceau! Obrigada por esse post, adorei!
Puxa Renata, não conheceria esse parque, um verdadeiro Oásis no meio de Paris. Aliás amo cidades que tem parques no meio do caos da cidade. São perfeitos para um momento relax na jornada.
Essa matéria deveria ser recomendada a todos aqueles que acreditam que a torre Eiffel é a única coisa que tem pra fazer em Paris. Parabéns pelas dicas.
Excelente!!! Eu já visitei e foi lá que conheci uma pessoa que despertou em mim o que há tempos não sentia. O lugar é muito apaixonante. Eu amei tanto que vim saber mais da história, além da que o duque comprou após se casar com seu amor….. Parabéns!!!
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Comentários (19)
Marianne
29 de abril de 2017 at 23:35Que lugar lindo! Já estive tantas vezes em Paris e ainda não conheci! Dica anotada!
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:29OI Marianne, obrigadão! bjs
Tina Wells
30 de abril de 2017 at 7:00Que lugar incrível e cheio de história! Meu deu a maior vontade de passar um dia inteiro perdida por aí! Lindas fotos!
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:29E vale a pena, Tina! Obrigadão e beijos
lid costa
30 de abril de 2017 at 7:33Adorei a dica. No verão aí deve ficar cheio de gente curtindo o sol, né? Tentarei passar aí na próxima vez que eu for a Paris.
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:28Oi Lid, acredite, mesmo com o friozinho já tinha gente tomando sol, rsrsrs. beijos
Leo Vidal
30 de abril de 2017 at 13:01Adorei conhecer esse cantinho verde de Paris, que nem sabia que existia. Sou apaixonado por estátuas e achei esse monumento a Chopin lindo. Já vou incluir no roteiro da próxima vez que for a Paris.
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:27Oi Leo, obrigada! Coloque sim, ele é muito bonito e vale a visita.
Karine
30 de abril de 2017 at 13:39Que lugar lindo, Rê!!! Imagine uma sessão fotográfica pela região? Deve ficar lindo demais!! Achei muito legal aprender um pouco da história por trás de tanta beleza! Adorei!!
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:27Oi Karine, tem muita noiva que vai tirar fotos por lá. Todas as vezes em que visito o parque tem uma. Um beijo e obrigada
Sonia
30 de abril de 2017 at 13:58Confesso que não fazia ideia do tanto de história (e figuras históricas, e nacionalidades haha) que está envolvido o Parc Monceau! Obrigada por esse post, adorei!
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:26Oi Sania, obrigadão!
Dani Bispo
30 de abril de 2017 at 20:26Puxa Renata, não conheceria esse parque, um verdadeiro Oásis no meio de Paris. Aliás amo cidades que tem parques no meio do caos da cidade. São perfeitos para um momento relax na jornada.
Bjs
Dani Bispo
abolonhesa.com
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:25Oi Dani, eu tb adoro! Obrigadão pelo comentário! bjs
Ana Carolina Miranda
30 de abril de 2017 at 23:58Esse parque é sem dúvida alguma uma ótima opção para quem vai à Paris. Sua dica já está anotada! Quero conhecer!
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:25Oi Ana, obrigada! bjs
Luiz Jr. Fernandes
2 de maio de 2017 at 12:12Essa matéria deveria ser recomendada a todos aqueles que acreditam que a torre Eiffel é a única coisa que tem pra fazer em Paris. Parabéns pelas dicas.
Renata Rocha Inforzato
16 de maio de 2017 at 11:15Oi Luiz, obrigada
Carlinha
19 de maio de 2019 at 14:08Excelente!!! Eu já visitei e foi lá que conheci uma pessoa que despertou em mim o que há tempos não sentia. O lugar é muito apaixonante. Eu amei tanto que vim saber mais da história, além da que o duque comprou após se casar com seu amor….. Parabéns!!!