Atrações

Galerie Colbert – a passagem que respira Cultura

14 de outubro de 2018

Last Updated on 24 de agosto de 2019 by Renata Rocha Inforzato

A Galerie Colbert é uma das passagens cobertas de Paris. Hoje, ela abriga centros de pesquisas, mas não deixa de ser uma ótima sugestão de visita, já que é uma das mais bonitas da cidade.

Galerie Colbert

A decisão de construir a Galerie Colbert vem de uma empresa de especulação imobiliária, a Adam et Cie. Vendo o sucesso da Galerie Vivienne, ali perto, a companhia decidiu construir uma galeria para concorrer com a vizinha.

Galerie Colbert

O ano era 1826. Para construir a passagem no local em que a empresa queria, ela compra do Estado o antigo Hôtel Colbert. O palacete tinha sido construído de 1634 a 1637, pelo então jovem arquiteto Louis Le Vau, a mando de Guillaume Bautru de Serrant. Para se ter uma ideia da importância do palacete, Le Vau depois se tornaria um dos arquitetos mais famosos da História, construindo, entre outras obras, o Château de Vaux-le-Vicomte.

Galerie Colbert

O antigo palacete teve, ainda, dois proprietários ilustres. A partir de 1655, viveu ali Jean-Baptiste Colbert, o poderoso Ministro de Louis XIV – que acabou dando seu nome à construção. Em 1719, o novo proprietário é Philippe d’Orléans, regente do reino durante a minoridade de Louis XV. O duque morava no Palais-Royal e usou os jardins do Hôtel Colbert para abrigar seus estábulos.

Galerie Colbert

Confiscado durante a Revolução, o Hôtel Colbert acolhe, de 1806 até 1825, um órgão do Estado que cuida da dívida pública. No ano seguinte, é comprado para acolher a galeria. Por isso, o primeiro nome da nova passagem coberta de Paris é Passage du Trésor. Depois, ela pega o nome do antigo palacete e se torna Galerie Colbert.

Galerie Colbert

Assim, o lugar da nova galeria ficava na esquina das rues Petits-Champs e Vivienne, ou seja, vizinho mesmo da concorrente, a Galerie Vivienne. Nasce ali uma rivalidade que vai durar anos.

Galerie Colbert

O arquiteto contratado para construir a Galerie Colbert é Jacques Billaud. E sua tarefa não seria das mais fáceis. Primeiro, ele teria que lidar com as dificuldades do terreno, que possuía um declive. Segundo, ele deveria aproveitar uma parte das fachadas do Hôtel Colbert para construir a galeria, o que também é um fator limitante.

Galerie Colbert

Além disso, para poder rivalizar com o sucesso da Vivienne, a Galerie Colbert teria que ultrapassar a primeira em beleza e em oferta de serviços. As duas passagens cobertas ficavam muito perto uma da outra e iriam oferecer basicamente os mesmos comércios. Porém, a Vivienne já estava mais consolidada. Ou seja, não seria fácil.

Galerie Colbert

Billaud fez o que pode para superar estes obstáculos. Para compensar a geometria mais simples da Galerie Colbert, ele se concentra nas dimensões dos espaços, com um amplo corredor central, cercado por lojas emolduradas por arcadas envidraçadas. Para disfarçar o declive, o arquiteto faz essas arcadas de tamanhos diferentes e o visitante nem percebe a manobra. O corredor é coberto por um teto de vidro sustentado por frontões triangulares. Nas fachadas do antigo Hôtel Colbert, aproveitadas na construção da galeria, ele acrescentou um andar e um pórtico.

Galerie Colbert

Também constrói uma rotunda com 15 metros de diâmetro e com cúpula envidraçada, algo inédito até então, o que provoca a admiração de todos na época. Dessa rotunda, uma pequena passagem levava à Galerie Vivienne.

Galerie Colbert

Outro ponto de orgulho do arquiteto é a decoração. Utilizando falsos mármores, ele consegue fazer uma ornamentação bem luxuosa. Ele usa mármore vermelho nos pedestais, mármore amarelo para as colunas e mármore cinza para a frisa e o fundo. As molduras e cornijas são brancas, a marcenaria em bronze e os medalhões são brancos com fundos de violeta.

Galerie Colbert

Assim, a Galerie Colbert era tão impressionante que foi considerada na época a passagem coberta mais bonita da cidade. E comércios importantes investem no lugar: gabinetes de leitura, editores de música, livreiro, perfumaria, lojas de moda e outros.

Galerie Colbert

No entanto, apesar de toda a beleza e luxo, a Galerie Colbert não consegue o sucesso esperado. Desde 1831, o número de visitantes vai se reduzindo. Os promotores fazem de tudo para atrair o público ao longo das décadas: promovem concertos de música da rotunda e até abrem um Géorama, que consiste em uma série de imagens aéreas desenhadas em trompe-l’oeil (ou seja, com ilusão ótica). Porém, nem isso resolve: essa atração é fechada e no lugar é aberto uma espécie de pensão com quartos mobiliados para alugar.

Galerie Colbert

Um dos poucos sucessos da galeria, continua sendo a rotunda, que é usada como ponto de encontro. Embaixo dela, o arquiteto Billaud colocou um candelabro em bronze, com uma espécie de coroa formada por sete globos de cristal iluminados a gás.

Galerie Colbert
Hoje, a iluminação é assim

A engenhoca ficou conhecida como Cocotier Lumineux (Coqueiro Luminoso). Era bem nesse local que os apaixonados, principalmente na época da Monarquia de Julho (1830-1848), vinham trocar juras de amor. Para as moças que trabalhavam na galeria, principalmente as costureiras, luveiras, etc, o momento do encontro ao lado do coqueiro era o melhor do dia.

Galerie Colbert
Onde está a estátua, era onde os casais se encontravam

Porém, durante o Segundo Império (1852-1870), a situação piora. Não somente a Galerie Colbert, mas também as outras passagens de Paris são abandonadas. Os novos boulevares construídos pelo Barão Haussmann, prefeito de Paris, a mando de Napoleão III, encantam a população. A clientela também prefere os chamados “Grands Magasins”, que são lojas enormes de variedades, como Le Bon Marché, por exemplo.

Galerie Colbert

No começo do século XX, a galerie continua a não despertar o interesse das pessoas. Apesar de um restaurante, o Le Grand Colbert, e alguns comércios, ela é quase deserta. E nas décadas seguintes a situação foi ficando pior.

Galerie Colbert

No dia 07 de julho de 1974, a Galerie Colbert é classificada como Monument Historique, junto com as outras passagens cobertas de Paris. No mesmo ano, ela é adquirida pela Bibliothèque Nationale, que instala ali alguns serviços. No entanto, o estado do local é tão lamentável que, no ano seguinte, a galeria é fechada ao público.
Em 1980, somente uma parte dela é acessível, a partir da entrada da rue des Petits-Champs. O resto vira entreposto. No ano seguinte, a Galerie Colbert, degradada, serve de cenário para o cineasta Luc Besson filmar algumas cenas da obra Le Dernier Combat, que foi para os cinemas em 1983.

Galerie Colbert

Em 1985, foi decidido que a Galerie Colbert seria demolida e reconstruída de maneira idêntica. Para essa missão, Adrien Blanchet foi o arquiteto escolhido. Para poder saber detalhes e reproduzir a decoração da galeria, ele se apoia em desenhos antigos e faz moldes dos elementos ornamentais que haviam sobrevivido. A pintura também é praticamente igual à da primeira galeria.

Galerie Colbert

Ele reconstrói a rotunda idêntica à original, que havia desaparecido. Apesar do formato igual, o arquiteto utiliza uma estrutura metálica na sua composição. Ele constrói a galeria térrea, tendo uma falsa fachada no lugar de primeiro andar. A Galerie Colbert ficou com uma geometria mais simples ainda: um corredor principal que leva até a rotunda. Mas continua impressionante e bela. Em 1986, ela é reaberta, mas nem assim atrai muita gente.

Galerie Colbert

Em 2004, a Bibliothèque Nationale vende a Colbert. Ali se instalam, então, o Institut National d’Histoire de l’Art (INHA) e o Institut National du Patrimoine (INP). Para acomodar as novas instituições, alguns trabalhos são realizados na galeria, sob o comando dos arquitetos Dominique Pinon e Pacale Kaparis.

Galerie Colbert

Hoje, a Galerie Colbert é um lugar de encontro de professores e pesquisadores, que frequentam os institutos sediados ali. Mas, apesar de não ter nenhuma loja, ela pode – e deve – ser visitada, pois continua sendo uma das mais bonitas de Paris.

Galerie Colbert
A entrada da rue Vivienne

A Visita

A Galerie Colbert é um passeio calmo, pois não tem tanta gente quanto as galerias comerciais. Assim como a antiga galeria, ela tem 83 metros de comprimento e 5 metros de largura. As atrações dela são:

Galerie Colbert

1) A decoração – Como não há muito movimento, podemos admirar com calma a decoração da Galerie Colbert. Como expliquei ali em cima, durante a reconstrução do lugar, o arquiteto Blanchet procurou recriar a decoração da galeria exatamente como era antes.

Galerie Colbert

Assim, vemos estuques alegóricos que evocam as funções de Colbert. Ele foi Ministro durante o reino de Louis XIV, no século XVII, encarregado, principalmente, das finanças do reino, do comércio, das construções e da Marinha. Vemos também colunas cujos capitéis são decorados com o caduceu de Mercúrio, deus do Comércio. Isso é referência à primeira função da galeria, que era a de ser uma passagem comercial.

Galerie Colbert

Galerie Colbert

2) O afresco de Colbert – Durante a reforma de 1985, é descoberto um afresco que estava escondido. Trata-se de Colbert mostrando Mercúrio. Mais uma referência à função para a qual a galeria foi criada no século XIX. O afresco fica em cima da entrada da rue des Petits-Champs, do lado de dentro.

Galerie Colbert

3) A rotunda – Como já mencionei, Blanchet, ao reconstruir a Galerie Colbert, refez a rotunda exatamente como ela era. Acontece que um dos motivos pelos quais a galeria foi demolida e reconstruída é que ela não poderia ser restaurada, já que a rotunda, que foi até usada como oficina mecânica, havia desaparecido, de tanto abandono. Além disso, o material usado na primeira galeria era, sobretudo, madeira e gesso, que são elementos frágeis.

Galerie Colbert

E como restaurar a Galerie Colbert sem a sua magnífica rotunda? Não dava. Então, uma das preocupações de Blanchet foi não somente reconstruir essa rotunda, mas também fazê-la exatamente como era a original, com toda a beleza e técnica que ela possuía. E, apesar do emprego de materiais modernos, como o metal, a empreitada é um sucesso, pois a nova rotunda é igualzinha à primeira. Inclusive a cúpula envidraçada e as cores empregadas na base dela são mantidas.

Galerie Colbert

4) A estátua de Eurydice Mourante – O Coqueiro Luminoso já havia desaparecido no começo do século XX. Então, depois da reconstrução da galeria, foi colocada no seu lugar uma estátua de 1822 que estava nos jardins do Palais-Royal. Trata-se da obra Eurydice Mourante, realizada por Charles-François Nanteuil-Lebeuf.

Galerie Colbert

Galerie Colbert

5) Restaurante Le Grand Colbert – No século XIX, uma das lojas da Galerie Colbert era chamada Au Grand Colbert. que vendia de tudo. Em 1900, muitos anos depois da boutique ser fechada, é aberto ali um restaurante, o Le Grand Colbert. Em estilo Belle-Époque, nessa época ele era um “Bouillon”, um tipo de restaurante popular com preços baixos. Reformado em 1985, junto com o restante da galeria, ele conserva a decoração de sempre, mas os preços deixaram de ser baratos. Mas, vale a pena comer ali, mesmo que seja somente no horário em que o restaurante se torna uma casa de chá.

Galerie Colbert

Uma curiosidade é que ali no restaurante foram gravadas algumas cenas do filme Alguém tem que Ceder, 2003, com Jack Nicholson e Diane Keaton. Outras obras filmadas no lugar foram: Mensonges et trahisons et plus si affinités, 2004, do diretor Laurent Tirard; Angel-A, 2005, outro filme de Luc Besson, e Qu’est-ce qu’on a fait au bon dieu, 2014, de Philippe de Chauveron – recomendo demais esse filme.

Galerie Colbert

Le Grand Colbert
Horários – Restaurante: todos os dias, das 12h00 à meia-noite.
Salão de chá: todos os dias, das 15h às 18h.
Mais informações, veja o site do restaurante.

Galerie Colbert

6) Os Institutos – Como escrevi ali em cima, a Galerie Colbert hoje abriga o Institut National d’Histoire de l’Art (INHA) e o Institut National du Patrimoine (INP). A galeria recebe, também, alguns cursos das universidades da região parisiense, em salas em levam o nome de figuras importantes do saber. Essas escolas abrigam mestrados, doutorados e centros de pesquisas, mas há muitas atividades abertas ao público em geral e gratuitas. Então, se você se interessa por arte, arquitetura e patrimônio e entende francês pode se inscrever e participar de palestras e cursos, entre outros eventos. Para saber mais, consulte os sites do Institut National d’Histoire de l’Art (INHA) e do Institut National du Patrimoine (INP). Ou passe na recepção durante os horários de abertura da galeria.

Galerie Colbert

7) Fachada do Hôtel Colbert – Uma das fachadas do antigo palacete do século XVII foi descoberta durante os trabalhos de 2004, para abrigar o INHA. Podemos vê-la na recepção do Instituto ou mesmo a partir do corredor perto da entrada da rue des Petits-Champs.

Galerie Colbert

Galerie Colbert
6, rue des Petits-Champs e 2, rue Vivienne
75002 – Paris
Metrô: Bourse – linha 3
Horários: de segunda a sábado, das 8h às 20h.

Galerie Colbert

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

Comentários (10)

  • Gisele Rocha Responder    

    16 de outubro de 2018 at 3:18

    Paris nos encanta em cada canto. Não me lembro de ter passado por esse lugar, mas certamente colocarei no roteiro da próxima viagem. Obrigada por compartilhar.

  • Susana - Viaje Comigo Responder    

    16 de outubro de 2018 at 11:07

    Em Paris, há lugares com um glamour incrível. E este local é cheio de história e tantas curiosidades que não fazia ideia! As fotografias estão demais, Renata! Boas viagens!

    • Renata Rocha Inforzato Responder    

      19 de janeiro de 2019 at 16:37

      Oi Susana, até eu me surpreendo com a quantidade de curiosidades que essas atrações têm. Obrigadão pelo comentário e boas viagens para nós

  • Carolina Responder    

    17 de outubro de 2018 at 11:49

    Passeio diferente em Paris!! Adoro essas dicas fora do roteiro “turistao”! 😉

  • Mariana Responder    

    17 de outubro de 2018 at 15:31

    A história dessa galeria me deixou com uma sensação de… nostalgia, talvez? Glamour e fracasso são cíclicos, afinal – assim como a vida. As pessoas mudam, as tendências mudam, mas o que tem história sempre fica de algum jeito. Achei bonito tentarem preservar e reconstruir a história da galeria. Só mesmo um instituto de arte para se ater a isso e louvar esse passado! Toda vez que ando na Avenida Paulista e observo aqueles casarões vejo resistência. Diferentemente de Paris, São Paulo engole sem dó o próprio passado. Aqueles casarões resistem bravamente – e devem guardar tanta história… Seria tão bom se institutos ou universidades brasileiras recuperassem o pouco que ali sobra – assim como fizeram com a Casa das Rosas. Ah, viajei. Mas acho impossível não comparar com o nosso Brasil.

    • Renata Rocha Inforzato Responder    

      19 de janeiro de 2019 at 16:35

      Oi Mariana, eu te entendo. Estou passando férias em São Paulo e penso a mesma coisa cada vez que vou à Paulista. Tomara que nossos governantes tomem consciência antes que seja tarde demais. Um beijo

  • Mallê Responder    

    19 de outubro de 2018 at 12:38

    Que riqueza de lugar! Ainda não conhecemos a França. Mas por muito tempo a única coisa que víamos era a Torre Eiffel. É magnífico poder conhecer mais lugares, ainda que só por fotos. Mas já é o suficiente pra sonhar! Os detalhes nos prédios me chamam muito a atenção. Sempre.

    • Renata Rocha Inforzato Responder    

      19 de janeiro de 2019 at 16:34

      Oi Mallê, obrigadão pelo comentário. Essa França tem tanta coisa, que seriam necessários uns 100 anos de blog para escrever tudo. Espero que venha conhecer em breve, um beijo

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