Newsletter Direto de Paris #6

Institut de France
O Institut de France

 

Oi, pessoal! Chegamos ao número 6 da Newsletter Direto de Paris. Se você está aqui agora, é porque assinou o informativo e recebeu o link. Caso mude de ideia, escreva para contato@diretodeparis, que eu removo seu e-mail da lista. Mas coloque o assunto no e-mail porque senão vai para a caixa de spam. Se quiser ver as edições anteriores da Newsletter, é só clicar neste link.

Bom, julho é pleno verão e férias aqui na França. Todas as atrações do país estão abertas e o pessoal que mora aqui está se preparando para viajar. Eu também. Em agosto, passarei alguns dias no Vale do Loire, em Amboise, e vou publicar bastante coisa nas redes sociais e em breve aqui no blog. Já visitei a cidade algumas vezes e tem muito material sobre ela no Direto de Paris. É só clicar aqui . Julho também é o mês do feriado mais importante da França: a Festa Nacional do 14 de julho. Mas o que realmente se comemora nesta data? Continue lendo a Newsletter que você vai saber.

 

A Festa Nacional do 14 de julho

 

A gente conhece o 14 de julho principalmente por causa da “Queda da Bastilha”. Mas, na realidade, dois eventos são comemorados. O primeiro é bem a tomada da Bastille. Mas o que era a Bastilha (em francês Bastille)? Era uma prisão, ou melhor, uma fortaleza, construída em 1370, durante o reinado de Charles V, que era conhecido como o Rei Sábio. Era plena guerra dos Cem Anos e havia um verdadeiro pavor de que Paris fosse invadida e tomada pelos ingleses, apesar de que a cidade já possuía muralhas construídas por Philippe-Auguste (rei durante os séculos XII e primeira metade do XIII).

A construção da fortaleza durou 13 anos e ela era enorme. Possuía nada menos do que oito torres de 24 metros de altura, que eram ligadas por muralhas de 3 metros de espessura. Para proteger o conjunto, um fosso com 25 metros de largura e 8 metros de profundidade, alimentado com as águas do Sena. O caminho de ronda permitia ver o inimigo de longe. Assim, a Bastille ficou com a fama de ser impossível de ser tomada. Havia até um ditado: “Quem tomava a Bastilha, tomava Paris”.

Porém, antes mesmo da Revolução Francesa, a fortaleza já havia sido ocupada pelos ingleses. Isso foi em 1420, quando os Bourguignons (pessoas e tropas da Borgonha e aliadas ao duque local), em guerra contra os Armagnacs (pessoas e tropas aliadas ao duque de Orléans), entram em acordo com os ingleses, que passam a controlar Paris. Para saber mais sobre esta guerra civil entre Bourguignons e Armagnacs, veja o texto sobre a Tour Jean sans Peur. Ao longo dos séculos, a Bastilha nunca defenderia realmente Paris e ainda seria ocupada mais algumas vezes pelos inimigos dos reis (inimigos internos mesmo).

 

Newsletter 6
Bastille, fachada oriental. Desenho de 1790 ou 1791. Anônimo. Domínio público

 

Durante o reino de Henri IV (1589-1610), uma das torres da fortaleza é usada para guardar o tesouro real. Ela ganha o nome de Tour du Trésor. É no reino do filho dele, Louis XIII (1610-1643), que a Bastille se torna prisão. Diz a lenda que era possível ouvir nos arredores os murmúrios dos prisioneiros e quem entrava ali corria o risco de não mais sair. Porém, depois da queda da prisão, arquivos revelaram que, na verdade, a detenção na fortaleza era de três estrelas e que, em 1658, o número de prisioneiros era de 800. Porém, com o Absolutismo Monárquico, discordar do rei virou motivo de prisão. Assim, a maioria dos encarcerados passou a ser composta por presos políticos. 

Então, sendo a Bastilha a prisão símbolo do Absolutismo, é o primeiro lugar a ser tomado em 14 de julho de 1789, no começo das revoltas que darão origem à Revolução Francesa. Os parisienses saqueiam os arquivos que conseguem encontrar, pegam as armas e munições e terminam por libertar os prisioneiros que ainda estavam ali. Dois dias depois, o novo governo revolucionário dá a ordem de demolição da fortaleza. 

 

tomada da Bastille
Jean-Pierre Houël, Prise de la Bastille, 1789, Bibliothèque Nationale de France, Domínio Público

 

E aí vem a segunda comemoração do 14 de julho: um ano depois da tomada da Bastille, em 14 de julho de 1790, acontece a primeira Fête de la Fédération (Festa da Federação). O local do evento foi o Champs de Mars, que recebeu representantes de 83 departamentos (federações). Em 1880, uma lei instituiu o 14 de julho como Fête Nationale (Festa Nacional), em comemoração a esses dois fatos. Assim, é um dia comemorado em toda a França e transmitido pela televisão. Há vários eventos pelo país inteiro. Em Paris, o destaque vai para o Desfile Militar na Champs-Élysées e os fogos de artifício na Torre Eiffel. Não vou entrar em detalhes aqui, porque no blog tem uma matéria bem completa e atualizada sobre o que fazer no 14 de julho em Paris.

 

Fête de la Fédération
Anônimo, Fête de la Fédération 1790, Musée de la Révolution française

 

Para quem gosta de cinema!

O Próximo Passo (En Corps)
Ano de estreia: 2022
Direção: Cédric Klapisch
Onde assistir: em cartaz no cinema

 

Se você gosta de dança, este filme é um prato cheio. Ele conta a história de Elise, que tem 26 anos e é bailarina clássica. Porém, ela se machuca e tem que reinventar sua vida, pois acredita que não poderá mais dançar como antes. Enquanto decide o que fazer, parte para a Bretanha, onde conhece uma companhia de dança contemporânea. A partir de então, uma nova esperança nasce na bailarina, mas será possível renascer depois de tudo o que passou? 

O filme é de uma sensibilidade tocante, tem algumas passagens engraçadas, mas é bem sutil. A fotografia também é maravilhosa, com cenas em Paris, no Vale do Loire e na Bretanha. Sou suspeita para falar, porque adoro essas regiões e fiquei literalmente viajando enquanto via o filme.

 

 

 

Personagem

Olympe de Gouges – Uma mulher na Revolução Francesa

 

Nos últimos tempos a participação das mulheres na Revolução Francesa tem sido estudada com mais atenção. E, entre tantas personagens fascinantes e corajosas, um dos nomes mais lembrados é o de Olympe de Gouges. Mulher independente, escritora e considerada uma das pioneiras do Feminismo, ela teve uma vida fascinante e trágica, que vamos conhecer um pouco agora.

Seu verdadeiro nome é Marie Gouze, ela vai adotar o nome artístico de Olympe de Gouges quando começa a publicar seus escritos. Marie nasce em Montauban em 7 de maio de 1748. Seu pai era açougueiro e sua mãe vinha de uma família de advogados, o que lhe possibilitou uma boa educação. Aos 17 anos, Olympe é obrigada a se casar com um homem trinta anos mais velho. Em 1766, ela se torna viúva e decide nunca mais se casar. É que Olympe quer ser escritora e naquela época as mulheres só poderiam escrever e publicar com o consentimento do marido.

Então, ela decide ir para Paris com seu filho. Na capital, encontra Jacques Biétrix de Rozières, que era fornecedor da marinha, com quem será próxima por muitos anos. É graças ao apoio financeiro dele que Olympe pode se dedicar totalmente à escrita, principalmente de peças de teatro. Ela também monta uma companhia itinerante de atores e atrizes que encenam em Paris e região.

 

Olympe de Gouges
Alexander Kucharsky, Portrait of Olympe de Gouges, Coleção Particular, Domínio Público

 

Sua peça mais conhecida é Zamore et Mirza, ou l’heureux naufrage (o feliz naufrágio) e é uma denúncia sobre o destino dos escravos nas colônias francesas. Apesar da hesitação dos atores, a peça entra no repertório da Comédie Française, mas só será encenada em 1789. E fica só três dias, pois é constantemente interrompida por vaias. Mas isso não desencoraja Olympe, que continua a escrever.

Ela escreve e publica, desde 1788, vários panfletos, que espalha por Paris. Um dos principais combates de sua carreira é a igualdade entre homens e mulheres. Aliás, é a primeira mulher a falar sobre o assunto. Durante a Revolução Francesa, ela denuncia a exclusão das mulheres da Déclaration universelle des droits de l’Homme et du Citoyen (Declaração universal dos direitos do Homem e do Cidadão). Assim, em 1791, Olympe publica a Déclaration des Droits de la Femme et de la Citoyenne (Declaração dos direitos da Mulher e da Cidadã), que dedica à Maria Antonieta, a “primeira das mulheres”.

 

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Anônimo, Olympe de Gouges, Século XVIII, aquarela, grafite, Musée du Louvre

 

Ela é também contra a Pena de Morte e contra os atos violentos praticados durante a Revolução. Inicialmente, se opõe à morte de Louis XVI e sua família. Mas depois acaba se pronunciando a favor do ato (não se sabe bem o porquê). Em 1793, na disputa entre os Girondins (girondinos) e os Montagnards, ela toma o partido dos primeiros e se opõe ferozmente à Robespierre, que governava o país.

Em julho de 1793, Olympe é presa por causa da publicação Les trois urnes (As três urnas), um texto onde ela critica Robespierre. Ela fica na prisão da Conciergerie e em 2 de novembro é julgada pelo Tribunal e condenada à morte no dia seguinte. Assim, em 3 de novembro de 1793, Olympe de Gouges é guilhotinada diante da multidão na atual Place de la Concorde, em Paris. E uma das suas frases mais famosas era: “Se uma mulher tem o direito de subir no cadafalso, ela deve, igualmente, ter o direito de subir na tribuna”.

 

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Jeanne Spehar & Fabrice Gloux, Buste d’Olympe de Gouges, Palais Bourbon, sede da Assembleia Nacional da França

 

Para Passear
Conciergerie – Paris

 

 

Conciergerie

 

Apesar das lembranças tristes por ter sido uma prisão, a Conciergerie é uma atração turística para lá de interessante. Durante boa parte da Idade Média, o Palais de la Cité, onde está localizada a Conciergerie, foi a residência dos reis. A bela arquitetura e decoração desta época estão presentes, como as belas abóbodas medievais, a decoração dos capitéis, etc. Uma restauração recente mostra o quanto o lugar foi importante como residência dos reis e devolveu o brilho aos cômodos usados nessa época. Tornada prisão alguns anos depois, a Conciergerie abrigou prisioneiros ilustres. Além de Olympe de Gouges, Maria Antonieta ficou presa no lugar e saiu dali para a guilhotina.

Na visita, a gente conhece estes dois aspectos da Conciergerie: o de residência do rei da França e o de prisão. Primeiro visitamos os antigos cômodos do palácio medieval: o destaque aqui vai para onde era a cozinha, com sua estrutura massiva, digna de uma cozinha real. Claro que os cômodos não são mobiliados, pois na Idade Média o uso das residências era itinerante. Mas já dá para ter uma ideia do fausto do lugar só pela estrutura que vemos ali, como a espessura das paredes, o emaranhado de colunas e abóbadas, o trabalho de escultura nos capitéis. É impressionante! E a parte prisão é uma visita igualmente interessante. As celas são reconstituídas, inclusive a de Maria Antonieta. Aprendemos que mesmo as prisões têm hierarquia de conforto naquela época, segundo a nobreza e dinheiro do prisioneiro. Para saber mais e ver como visitá-la, veja o post que publiquei sobre a Conciergerie

 

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Reconstituição da cela de Maria Antonieta

 

Place de la Concorde – Paris

 

Foi o lugar onde Olympe de Gouges e muitas outras pessoas foram executadas. Hoje, quem vê a praça com suas fontes e seu obelisco nem imagina o terror que se passou ali com a guilhotina ocupando um posto de destaque. É uma das atrações mais belas e visitadas de Paris, pois faz o elo entre a Avenue des Champs-Élysées e o Jardin des Tuileries, que leva ao Louvre. O destaque é seu obelisco, da época do Egito Antigo. Presente do vice-rei do Egito ao rei Charles X em 1829, a peça só chegou em Paris em 1836, já no reinado de Louis-Philippe. Em breve vou fazer um post completo sobre a praça. Mas, por enquanto, veja a matéria sobre a Champs-Élysées, onde eu falo um pouco da Place de la Concorde.

 

Place de la Concorde

 

 

Alguns eventos interessantes pela França

 

Como vocês devem imaginar, julho borbulha de coisas para fazer na França. Vou colocar aqui, como sempre, três sugestões bem legais.

 

1) La Nuit aux Invalides – Paris

Este ano, o evento comemora a décima edição. É um espetáculo de som e luzes, de 50 minutos, que acontece nas fachadas do pátio interior dos Invalides, um monumento que abriga, entre outras coisas, o túmulo de Napoleão I. O lugar fica animado com belas imagens que contam sua história, do Imperador até os dias atuais. E depois, ainda podemos visitar a igreja, onde está o túmulo do soberano. É toda uma experiência mágica e imersiva. Já fui várias vezes. De 16 de julho a 1 de setembro, de terça a sábado. Mais informações, preços e horários, veja no site oficial .

 

Newsletter 6

 

 

2) Puy de Lumières – Le Puy en Velay – Auvergne-Rhône-Alpes

 

A cidade de Le Puy en Velay foi uma das mais bonitas que tive a sorte de visitar. Ela faz parte do Caminho de Santiago de Compostela e impressiona por sua catedral românica. E agora no verão a cidade fica ainda mais bela com o Puy de Lumières. É um espetáculo de som e luz que anima 9 lugares emblemáticos do Puy e da região. São projeções rápidas e que acontecem várias vezes por noite em cada lugar. É um passeio mágico por ruas e monumentos históricos. Adorei e vou voltar. Todos os dias, de 1 de julho até 11 de setembro.  E é gratuito. Mais informações e horários, veja o site do evento

 

Puy de Lumières

 

3) Festival d’Avignon – Avignon – Provence-Alpes-Côte d’Azur

 

É um dos festivais de teatro mais importantes do mundo e que está na 76a edição. A cidade de Avignon, que já é bela e tem muita coisa para ver, se transforma. O ambiente fica ainda mais festivo. São mais de 400 eventos espalhados pela cidade e até nas ruas. São apresentações, leituras de textos, debates, etc, dos quais participam companhias do mundo todo. E mesmo que você não fale francês, não se preocupe: há apresentações em outras línguas, de dança, de mímica e por aí vai. Acontece de 7 a 26 de julho. Para o calendário das apresentações, horários e preços, clique aqui .

 

Festival de Avignon

 

E termino a Newsletter aqui. Espero que vocês tenham gostado. Se tiver sugestão de assunto, basta comentar aqui ou me escrever no contato@diretodeparis.com (colocando o assunto para não ir para a caixa de spam).

E se quiser apoiar o Direto de Paris, você pode contribuir através do Paypal (email diretodparis@gmail.com) ou usar o PIX, a chave é o email contato@diretodeparis.com. Desde já agradeço, pois a sua ajuda vai possibilitar mais conteúdo de qualidade aqui no site e em outras mídias também. Um grande abraço e até breve!

 

Newsletter 1

Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

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