A Gare Saint-Lazare faz parte da minha vida: passo por ela todo dia, indo e voltando de Paris. E sempre paro para olhar a beleza de sua arquitetura, a luz que entra e ilumina as plataformas, as pessoas que vão e vêm apressadas, as vitrines do centro comercial e até as guloseimas que tem por ali. Se você já foi para a Normandia de trem, com certeza passou por ela. Pois agora é a vez de sabermos tudo – ou quase tudo – sobre a estação que inspirou tantos artistas.
A Gare Saint-Lazare foi o ponto de partida para a primeira linha de trem saindo de Paris. A inauguração desta estrada de ferro aconteceu em 26 de agosto de 1837, com a presença da então rainha da França, Amélie, esposa do rei Louis-Philippe. Na época, o ponto de embarque era mais ao norte, na rue de Londres, perto de onde hoje é a Place de l’Europe. E o trem seguia até Saint-Germain-en-Laye, passando por Nanterre e Le Pecq.
As primeiras construções da estação propriamente dita, no local onde a vemos hoje, começaram nos anos 1840. O arquiteto era Eugène Flachat. Sua concepção de cinco coberturas de vidro e metal protegendo os trilhos, entre as ruas de Rome e de Amsterdam, foi considerada uma proeza na época. Era o reflexo das mudanças na sociedade ocasionadas pela Revolução Industrial.
Entre 1852 e 1892, a Gare Saint-Lazare sofreu várias ampliações, de acordo com as necessidades do tráfego, o crescimento da cidade e as preparações para as Exposições Universais que Paris sediou. Em 1867, ela foi inaugurada novamente, desta vez com a presença de três imperadores: o da França, Napoleão III; o da Áustria, Francisco José, e o da Rússia, o tzar Alexandre II. Foi nessa época que a estação atingiu a superfície que tem atualmente.
E é essa aparência de meados do século XIX que Claude Monet eternizou em seus quadros: a partir do inverno de 1876, o mestre dos Impressionistas pega seu cavalete e se senta ali entre as locomotivas, reproduzindo em suas telas a atmosfera densa e esfumaçada da estação. A Saint-Lazare também serviu de inspiração para Edouard Manet e Gustave Caillebotte. Mas estes dois últimos usavam a estação somente como pano de fundo para uma obra de temática humana.
Edouard Manet, Le Chemin de Fer, 1873. Washington D.C, National Gallery of Art
Já Monet, não. O que o interessava era exatamente a modernidade das locomotivas a vapor, símbolo da nova sociedade, fundada no industrial e na máquina. Suas pinturas eram quase abstratas, o que contava era o efeito que a fumaça provocava ao se misturar com as coisas. Nas obras em que retrata a Gare, o homem quando entra é apenas para fazer o contraponto com a máquina, esta última sempre potente. Ao todo, foram realizados doze quadros, dos quais sete são expostos na primavera de 1877, durante a Terceira Exposição Impressionista.
Claude Monet – La Gare Saint-Lazare, 1877. Paris, Musée d’Orsay
E além de ser um modelo em si, a Saint-Lazare era também o ponto de partida para vários destinos que eram os preferidos dos artistas, tais como Rouen, Dieppe, Gisors e o próprio vilarejo de Giverny, onde Monet vai morar anos depois.
Na estação há vitrais representando cidades francesas e até da SuíçaTrem para a Normandia
Em 1889, a Saint-Lazare sofre mais uma reforma. A aparência atual da estação vem desta época, principalmente a fachada. O hôtel Terminus é incorporado ao conjunto e uma passarela, com a aparência de um vagão suspenso, é construída, ligando os dois edifícios.
Depois disso, nos anos 1970, a locomotiva a vapor é aposentada. E em 1979, a Gare Saint-Lazare é classificada como Monumento Histórico. Em 2003, um grande projeto de restauração e reforma, chamado Coeur Saint-Lazare, é anunciado. Ele é realizado em várias fases, a última delas terminando em 2014.
A construção do Centro Comercial, entre 2009 e 2012, de 10.000 metros quadrados, faz parte deste projeto. Ele permite ligar as estações do metrô, as ruas e a estação de trem. Entre 2013 e 2014, foi a fez da renovação das esplanadas (cours) Rome e Havre, em frente às entradas principais da estação. Em cada uma delas, encontramos uma obra de Arman, de 1985: no lado da Cour du Havre são os relógios (L’Heure de tous). E no lado da Cour de Rome são as malas (Consigne à vie).
Arman – L’Heure de Tous, 1985Aman – Consigne à vie, 1985
Hoje, a Saint-Lazare ainda é uma das mais movimentadas estações de Paris: cerca de 400 mil pessoas por dia. É dali que saem os trens para a periferia Noroeste e Oeste da região parisiense, que são as linhas Transilien J e L (explico o que é Transilien neste texto sobre o transporte em Paris). Eu, por exemplo, pego essas linhas para ir pra casa, em um trajeto que dura entre cinco e sete minutos, acredita?
Um dos transiliens
É da Saint-Lazare também que partem os trens para as cidades da Normandia, como Rouen, Caen, Le Havre, Vernon (que vai para Giverny), dentre outros.
Mais trens para a Normandia
Pelo metrô, a Saint-Lazare é servida pelas linhas 3, 9 (estação Saint-Augustin), 12, 13 e 14, assim como com o RER E (estação Haussmann-Saint-Lazare).
Um dos acessos ao metrô
A linha 14 do metrô
E o centro comercial da estação – Centre Commercial Saint-Lazare – é uma mão na roda para comprar uma lembrancinha de última hora, para comer ou mesmo para fazer uma horinha, enquanto se espera o trem. Sempre dou uma voltinha por ele. São cerca de 80 lojas, entre vestuário, calçados, acessórios, coisas para a casa, lanchonetes, restaurantes, supermercados, enfim, tem de tudo ali. São três andares, que vão desde o nível da entrada do metrô até a superfície, no nível das plataformas do trem.
Dentre as lojas que encontramos, estão: vestuário – Promod, Camaieu, Mango, Desigual, Lacoste, etc. Calçados – Foot Locker, Mephisto, Aigle são algumas das marcas. Coisas para a casa ou badulaques em geral – Pylones, La Chaise Longue (tem coisas muito diferentes, vale a pena entrar), Hema (adoro os esmaltes e coisas de papelaria desta loja), Du Bruit dans la Cuisine (quem ama cozinhar, vai pirar aqui), entre outras.
Esmaltes da Kiko (marca italiana)
Para comer, tem Starbucks (duas lojas), Burger King, Paul, La Croissanterie, Le Class’Croûte e outras. Para quem quer comer “comida” e não lanche, há um restaurante: o Lazare. E já quem quer economizar no lanchinho ou comprar algo para comer no trem, dois supermercados: um Monoprix e um Carrefour City.
O restaurante Lazare
Então, mesmo que você não vá pegar o trem, aconselho uma voltinha na Gare Saint-Lazare. Quem sabe você fique tão fascinado (a) como ficou Monet e companhia ao contemplarem a estação.
A entrada da Cour du Havre
Gare Saint-Lazare
13, Rue d’Amsterdam
75008 Paris
Horários: todos os dias, das 5h a 1h15.
Metrôs: 3,9, 12, 13 e 14
RER E – estação Haussmann-Saint-Lazare
Transilien J e L
Centre Commercial Saint-Lazare
Horários: de segunda à sexta, das 7h30 às 20h. Sábado, das 9h às 20h. Domingo, das 10h às 19h (nem todas as lojas abrem aos domingos)
Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.
Adorei o post Renata! Tenho um carinho especial por esta Gare. Primeiramente pelas obras de Monet, e também porque fiquei hospedada em frente na minha primeira ida à Paris. E a primeira vez, é sempre muito marcante. Pretendo ficar nessa região mais vezes pra explorar muito mais tudo o que a Gare oferece. Parabéns, texto muito informativo, e nos da uma vontade imensa de estarmos lá.
Oi Gi, obrigadão pelo comentário, vc não sabe o quanto fiquei feliz em te ver aqui no blog. Espero que volte logo pra cá, pra passear e conhecer ainda mais tudo o que vc quiser. Um beijão
Você sabe que sou fã do seu blog não é mesmo? Ultimamente tenho entrado muito pouco na net, só mesmo pelo celular, porque estou atrapalhada com a reforma daqui do meu apartamento. Mas tão logo acabe, voltarei ! Meu e-mail mudou, me cadastrei aqui outra vez, com o novo! Beijoss
Uma das coisas que mais sinto falta no Brasil é o fato de não termos ligações ferroviárias. Por isso, quando vou para a Europa adora viajar de trem. Chego cedo nas estações justamente para admirar alguns detalhes. Ótimo post
Bom dia Renata!! E eu que nunca fui à Gare Saint-Lazare? Depois de ler e ver estas belas fotos, com certeza irei na proxima ida à Paris, fantastico!! Obrigada por nos mostrar estes cantos e encantos de uma Paris que so quem vive conhece. Bjs e bonne journée!
Oi, Renata! Adorei esse post!
Na minha útima vez em Paris (set/2015) eu fui duas vezes à Gare. No meu primeiro dia chovia muito, vim de ònibus de Montmartre e resolvi descer ali e dar um tempo até a chuva melhorar. Gosto de ficar andando e não estava dando…Foi uma ótima opção, inclusive depois eu voltei. Que arquitetura, que coisa mais emblemática mesmo! Obrigada! Bjs
A Europa é tão maravilhosa que até os prédios de estações são lindos!!! Isso sem contar que são mini shoppings mão na roda né? Tudo limpo, bem sinalizado, dá até mais vontade de viajar mesmo do que por aqui! PS: Adorei a escultura dos relógios!
Oi, Renata! Entrei no teu blog pela primeira vez: adorei! Estive, em 2000, pela primeira vez, hospedada no “Concorde St-Lazare”, bem em frente à Gare. Mas, não voltei depois da reforma – está ainda mais linda, moderna- da próxima vez (que vontade!) se Deus quiser, vou revê-la! Obrigada pelo ótimo post! Um abraço.
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Comentários (17)
Gislaine
16 de março de 2016 at 9:18Adorei o post Renata! Tenho um carinho especial por esta Gare. Primeiramente pelas obras de Monet, e também porque fiquei hospedada em frente na minha primeira ida à Paris. E a primeira vez, é sempre muito marcante. Pretendo ficar nessa região mais vezes pra explorar muito mais tudo o que a Gare oferece. Parabéns, texto muito informativo, e nos da uma vontade imensa de estarmos lá.
Renata Rocha Inforzato
16 de março de 2016 at 20:39Oi Gi, obrigadão pelo comentário, vc não sabe o quanto fiquei feliz em te ver aqui no blog. Espero que volte logo pra cá, pra passear e conhecer ainda mais tudo o que vc quiser. Um beijão
Gislaine
17 de março de 2016 at 14:52Você sabe que sou fã do seu blog não é mesmo? Ultimamente tenho entrado muito pouco na net, só mesmo pelo celular, porque estou atrapalhada com a reforma daqui do meu apartamento. Mas tão logo acabe, voltarei ! Meu e-mail mudou, me cadastrei aqui outra vez, com o novo! Beijoss
Renata Rocha Inforzato
18 de março de 2016 at 12:51Oi Gi, e eu te agradeço por este super apoio que vc me dá. Boa reforma aí no apartamento. Seu email tá mais que liberado aqui, beijão
jorge fortunato
17 de março de 2016 at 0:22Uma das coisas que mais sinto falta no Brasil é o fato de não termos ligações ferroviárias. Por isso, quando vou para a Europa adora viajar de trem. Chego cedo nas estações justamente para admirar alguns detalhes. Ótimo post
Renata Rocha Inforzato
18 de março de 2016 at 12:54Oi Jorge. Eu tb adoro viajar de trem e ficar observando o movimento da estação antes de embarcar. Obrigadão pelo comentário, bjs
Rossana Wendling
17 de março de 2016 at 7:50Bom dia Renata!! E eu que nunca fui à Gare Saint-Lazare? Depois de ler e ver estas belas fotos, com certeza irei na proxima ida à Paris, fantastico!! Obrigada por nos mostrar estes cantos e encantos de uma Paris que so quem vive conhece. Bjs e bonne journée!
Renata Rocha Inforzato
18 de março de 2016 at 12:52Oi Rossana, obrigadão pelo seu apoio. Espero que volte em breve pra cá. Um beijão
Rosa
27 de abril de 2016 at 22:56E muita linda mesmo!!! Paris To chegando!!
Renata Rocha Inforzato
29 de abril de 2016 at 10:13Oi Rosa, boa viagem!
Wanice Bon'ávígo
28 de abril de 2016 at 0:29Oi, Renata! Adorei esse post!
Na minha útima vez em Paris (set/2015) eu fui duas vezes à Gare. No meu primeiro dia chovia muito, vim de ònibus de Montmartre e resolvi descer ali e dar um tempo até a chuva melhorar. Gosto de ficar andando e não estava dando…Foi uma ótima opção, inclusive depois eu voltei. Que arquitetura, que coisa mais emblemática mesmo! Obrigada! Bjs
Renata Rocha Inforzato
29 de abril de 2016 at 10:11Oi Wanice, obrigadão pelo seu comentário, adorei. Espero que volte logo para Paris. Um beijão
Fernanda - Blog Tá indo pra onde?
12 de outubro de 2016 at 18:09A Europa é tão maravilhosa que até os prédios de estações são lindos!!! Isso sem contar que são mini shoppings mão na roda né? Tudo limpo, bem sinalizado, dá até mais vontade de viajar mesmo do que por aqui! PS: Adorei a escultura dos relógios!
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:48Oi Fernanda. Tem dias que mesmo sem ter a necessidade de sair, vou até ali pra dar uma voltinha… Obrigada pelo comentário. Um beijo
Vera Martins
12 de outubro de 2016 at 22:56Oi, Renata! Entrei no teu blog pela primeira vez: adorei! Estive, em 2000, pela primeira vez, hospedada no “Concorde St-Lazare”, bem em frente à Gare. Mas, não voltei depois da reforma – está ainda mais linda, moderna- da próxima vez (que vontade!) se Deus quiser, vou revê-la! Obrigada pelo ótimo post! Um abraço.
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:46Oi Vera, que vc possa vir em breve. Obrigada e um abraço
Direto de Paris - Jornalismo em Paris
16 de novembro de 2017 at 0:53[…] Marché de Noël da Gare Saint-Lazare – O destaque deste mercado de Natal é que ele é composto somente por chalés de artesãos e […]