Atrações

Passage du Caire – a menos conhecida das passagens cobertas

21 de janeiro de 2015

Last Updated on 1 de setembro de 2019 by Renata Rocha Inforzato

Um dos passeios a se fazer em Paris é ir conhecer ao menos uma de suas passagens cobertas. São várias. Construídas a partir do final do século XVIII, tinham como objetivo proporcionar uma opção de lazer e compras ao abrigo da chuva e do frio. Foram muito populares, mas conheceram o declínio a partir do século XIX e muitas chegaram a ser destruídas. Nesse texto, vou falar da Passage du Caire, uma das mais antigas e, talvez, a mais desconhecida delas.

passagens cobertas

A história dessa passagem coberta começa em 1797, quando a Caisse de Rentiers (tipo um fundo de pensão) adquire a concessão do terreno do antigo convento de Filles-Dieu, que havia sido tomado durante a Revolução Francesa. O contrato exigia a construção de uma rua que terminasse numa praça, dividindo o terreno e oferecendo um acesso a outras ruas do bairro.

passagens cobertas

Então, na parte norte desse loteamento, os novos proprietários decidem construir uma passagem coberta. O objetivo era oferecer aos habitantes do bairro, que era bem popular, um lugar de passeio cercado por lojas bonitas. A construção se dá entre 1799 e 1806, seguindo a irregularidade do terreno. Porém, a galeria é inaugurada em 1798, e muitos a consideram a mais antiga de Paris. Mas, como ainda não estava pronta, esse título vai para a Passage des Panoramas.

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Era a época em que o Egito virou moda em Paris e isso por causa da vitória dos franceses sobre os egípcios e da entrada triunfal do exército, comandado pelo então general Napoleão Bonaparte, em 1798, no Cairo. Obeliscos, pirâmides, hieróglifos e outros motivos egípcios estavam presentes em vários lugares e decorações pela cidade. Assim, é natural que a passagem, assim como a nova rua e a praça, ganhe o nome de Caire (Cairo).

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Só que o nome vai abrir uma polêmica. Na época, não só o Egito como todo o “Oriente” evocava o exótico e riqueza: fazia as pessoas sonharem com pedras preciosas, ouro, mercados de seda e especiarias, etc. Acontece que por ser em um bairro popular e por escolha dos construtores, a Passage du Caire era muito simples. Era toda de madeira e tinha como piso as pedras tumulares do antigo convento, muitas nem tinham as inscrições apagadas.

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Vários escritores, cronistas e até funcionários do governo iam visitar a passagem e voltavam decepcionados. O lugar era, assim, ignorado pela imprensa. Mas, apesar das críticas, a galeria é um sucesso, tanto que não faltam comerciantes para ficar ali. São lojas que vendem de tudo: brinquedos, livros, roupas, tecidos e conta até com um café. Em meados do século XIX pensam até em construir passagens semelhantes na vizinhança, mas o projeto não é concretizado.

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Mas, por volta de 1848, começa o declínio. Pouco a pouco, as lojas fecham e são substituídas pela indústria. Aparecem os ateliês de fabricação de chapéu de palha, de litografia, gráficas e os passantes se tornam raros. Várias pessoas se queixam que a passagem cheira mal.

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Durante o Segundo Império (1852 – 1870), ela recupera um pouco do antigo esplendor. Como Napoleão III aboliu a obrigação de usar selos em cartas de comércio, os comerciantes da passagem puderam economizar. Eles aproveitam para reformar o lugar, arrumando, por exemplo, como o teto de vidro, que data de 1810. Como a Passage du Caire estava há tempos sem cuidado, vários pontos do telhado tinham buracos, fazendo com que as pessoas precisassem de guarda-chuva para andar ali. Também arrumam o piso.

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Porém, a prosperidade durou pouco. No começo do século XX, a passagem começa a ser esquecida. Chegam até mesmo em cogitar a sua venda e demolição para construir um circo no lugar. Porém, os proprietários são exigentes e o valor que pedem é alto. Isso acaba preservando a galeria. Pouco a pouco, as gráficas e ateliês vão cedendo espaço a indústria de confecção e materiais para lojas de roupas. E é o que vemos hoje. Porém, a passagem não corre mais risco de demolição, pois tornou Monumento Histórico em 1964.

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Visitando a Passage du Caire

Se você espera encontrar algo luxuoso, esqueça. Inclusive, ela precisa de uma restauração urgente, pois está muito mal conservada. Mas é uma visita super interessante para ver outro lado de Paris e da indústria de vestuário.

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A passagem tem 360m de comprimento – é a mais longa de todas -, mas é estreita, possui apenas 2,60m de largura. O edifício tem cinco andares, além do térreo e caves, sendo o último acima do telhado de vidro da galeria. Mas o mais interessante é a decoração da fachada, onde há três cabeças da deusa Hathor, com seus atributos, que são as tranças e as orelhas de vaca, obra do escultor Joseph Garraud. Há também frisas contendo hieróglifos.

passagens cobertas

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Porém, lá na última frisa, vemos um desenho curioso: um homem narigudo. Dizem que é uma caricatura do pintor Henri-Macellin-Auguste Bougenier (1799-1866), que tinha o nariz grande e era alvo de piadas. Um dia, ele fica furioso e briga com os colegas que, para se vingar, desenham sua caricatura ali, como um hieróglifo.

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Do terceiro ao quinto andar da fachada a inspiração é medieval, mas essa mistura é comum na época. Há uma data 1828, mas não se sabe se é de alguma reforma ou reconstrução. Também não se tem certeza de quem foi o arquiteto.

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Dentro da passagem, na altura do térreo, não há decoração, apenas pilastras que separam as lojas. Já estas não guardaram nenhum traço das antigas boutiques. Porém, no registro superior, vemos ainda a antiga decoração, que lembra o Egito, é claro, e os templos da Antiguidade. Embora a fachada esteja bem conservada, o interior precisa ser restaurado. Mas, ainda assim, se estiver visitando o bairro, vale a pena dar uma passadinha. Pena que as lojas de roupa só vendem no atacado…

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Passage du Caire
2 Place du Caire
75002 Paris
Metrô: Sentier – linha 3
Horários: de segunda a sexta, das 7h às 18h30

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

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