Em Paris, no 15eme arrondissement, há um parque bem diferente. Na verdade, é mais um percurso onde natureza e cidade se misturam no caminho de uma antiga linha de trem.
Tudo começa com uma antiga estrada de ferro construída entre 1852-1869, durante o Segundo Império. Ela se chamava Petite Ceinture e dava a volta em Paris.
Com o avento do metrô, a linha começou a ser desativada. Ela transportou passageiros até 1934 e mercadorias até meados da década de 1970. Hoje, uma parte dela é aproveitada pela rede de transportes atual, como o RER C.
Mas o que fazer com os trechos que foram abandonados? Essa é uma discussão que existe desde que a Petite Ceinture foi desativada. Associações foram criadas e algumas ideias estão começando a sair do papel, como a Petite Ceinture du 15eme.
Esta parte da linha, que fica no 15eme arrondissement, atendia, entre outros, a fábrica Citroën, onde hoje é o parque André Citroën, e o abatedouro Vaugirard, hoje local do Parc Georges Brassens.
Com o abandono da estrada, a vegetação cresceu e tomou conta do lugar. Então, com os anos, veio o projeto de aproveitar este trecho, transformando-o em área verde e espaço de lazer para os moradores do bairro.
Inaugurada em 2013, a Petite Ceinture du 15eme é um percurso de 1,3 quilômetros, super gostoso de fazer. Ele vai do metrô Balard, linha 8, até a rue Oliver des Serres. Com o tempo, a prefeitura de Paris pretende unir esta área verde aos parques Anré Citroën e Georges Brassens, ali perto, mas ainda não há previsão de quando isso vai ser feito.
A vegetação que cresceu no caminho foi valorizada, assim como o patrimônio ferroviário. Os declives, balastros (aquela mistura entre cascalho e areia onde os trilhos são colocados), as pontes e muros, tudo foi tomado pelos mais diferentes tipos de “mato”, mostrando a variedade da natureza de Paris.
Há vegetação de bosque, borda de floresta e prados, cada uma delas com sua própria fauna. São 220 espécies de plantas e animais em todo o percurso. Só de pássaros são 21 espécies, muitas delas ameaçadas de extinção. Há também árvores raras na cidade, como o olmo, o carvalho ou o bordo. A conservação do parque é feita de acordo com o ritmo biológico, principalmente dos pássaros.
Outra curiosidade da Petite Ceinture du 15eme é que os trilhos da linha foram conservados em praticamente todo o caminho. Podemos quase pensar que um trem vai passar ali a qualquer momento. É bonito ver o traçado da antiga estrada de ferro.
Eu comecei a fazer o percurso da rue Olivier des Serres até Balard, mas claro que você pode fazer o sentido inverso. Para entrarmos no parque, na rue Olivier, temos que descer as escadas (mas tem elevador também) e vemos logo um túnel.
Em seguida vemos uns chalés bem bonitinhos. Não consegui achar quando foram construídos. Eles dão um ar bucólico ao percurso. Logo depois, está a antiga estação Vaugirard Ceinture, construída em 1867.
Aí o percurso vai subindo. Passamos, em uma altura considerável, ao lado de vários prédios típicos do 15eme, que abrigam residências, comércios, consultórios, etc. Percorremos pontes, acima de ruas como a rue Desnouettes, rue de Vaugirard, entre outras.
Na altura da rue Lecourbe, vemos uma pequena bifurcação que mostra que a antiga estrada de ferro seguia dois caminhos diferentes.
Marcas no chão em vários trechos do trajeto mostram onde estamos.
Os bancos que encontramos pelo caminho também evocam as ferrovias, já que são feitos de madeira no mesmo formato das madeiras que compõem os trilhos. Igualmente em todo o percurso, há vários painéis que explicam a flora e fauna do parque.
Há também muita arte de rua, com obras bem curiosas. Elas, junto com os prédios, acentuam a característica urbana do caminho. Ao mesmo tempo, o lado natureza é bem marcante. E o silêncio e tranquilidade que temos ali são absolutos: em pleno coração do 15eme, acima das ruas movimentadas do bairro, não escutamos nada. É como se não estivéssemos em plena Paris.
E a presença dos moradores fazendo esportes, tirando fotos ou passeando com a família acentua o clima de paz da área.
É um parque bem acessível, já todas as suas entradas possuem elevador, o que permite que pessoas com dificuldade de locomoção possam fazer o percurso. Se você não quiser fazer todo o trajeto, pode usar uma dessas entrada/saídas.
Quase no final do meu passeio – como disse acima, fiz em direção a Balard -, a visão da arquitetura de um grande imóvel faz um belo contraste com o parque. Acho que isso resume a Petite Ceinture du 15eme: um percurso urbano em meio a natureza selvagem.
Um passeio diferente por uma Paris menos conhecida que adorei fazer. E recomendo. Uma última curiosidade: para não perturbar os animais, o parque não possui luminárias. Por isso, ele fecha com o pôr-do-sol, que varia de acordo com a época do ano.
Outras partes da antiga linha de ferro Petite Ceinture foram transformadas em áreas verdes, como, por exemplo, no 13eme, 16eme, etc. Ainda pretendo conhecer todas.
Rue de Vaugirard vista a partir da Petite Ceinture
Petite Ceinture du 15eme
101 rue Olivier des Serres
Outras entradas: 397ter-399 rue de Vaugirard; em frente ao 82 rue Desnouettes; rue Leblanc
Metrô: Porte de Versailles – linha 12 (entrada rue Olivier e rue Vaugirard).
75015 – Paris
Balard – linha 8 (rue Leblanc)
Tramway – Desnouettes – T3a
Horários: De 1º de outubro a 30 de outubro, durante a semana, das 9h às 18h30; sábados e domingos, das 9h30 às 18h30. De 31 de outubro a 28 de fevereiro, durante a semana, das 9h às 16h45; sábados e domingos, das 9h30 às 16h45. De 1º de março a 31 de março, durante a semana, das 9h às 18h; sábados e domingos, das 9h30 às 18h. De 1º a 30 de abril e de 1º a 30 de setembro, durante a semana, das 9h às 19h30; sábados e domingos, das 9h30 às 19h30. De 1º de maio a 31 de agosto, durante a semana, das 9h às 20h30; sábados e domingos, das 9h30 às 20h30.
Mais informações sobre a Petite Ceinture, você pode ver no site da Prefeitura de Paris
Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.
Super legal esse parque, acho que mostra uma forma inteligente da cidade repensar sua estrutura e da sociedade se “apoderar” mesmo de todo o espaço. A parte dos chalés foi a que achei mais fofa, mas confesso que as construções modernas também me conquistaram.
bjs,
Que interessante! Adoro essas suas dicas de moradora, conhecer esses espaços frequentados pelos parisienses. Sem contar vc escreve tão bem. As vezes passo horas aqui lendo e nem me dou conta. Uma delícia teu blog.
Um grande abraço,
Olá! Adorei o teu blog. Cheguei aqui procurando um passeio para o Monte St. Michel e caí aqui. Ultimamente está difícil encontrar dicas genuínas nos blogs de Paris. Parece até que as pessoas não moram na cidade. Não é o teu caso claro. Dicas super certeiras, inéditas. Parabéns! Nunca tinha ouvido falar do parque, mas anotei a dica.
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Comentários (12)
Jackie
25 de outubro de 2016 at 22:23Super legal esse parque, acho que mostra uma forma inteligente da cidade repensar sua estrutura e da sociedade se “apoderar” mesmo de todo o espaço. A parte dos chalés foi a que achei mais fofa, mas confesso que as construções modernas também me conquistaram.
bjs,
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:33Oi Jackie, é muito legal mesmo… E a sensação das alturas com os prédios ao lado é diferente… Um beijo
Suzana
25 de outubro de 2016 at 22:25Que interessante! Adoro essas suas dicas de moradora, conhecer esses espaços frequentados pelos parisienses. Sem contar vc escreve tão bem. As vezes passo horas aqui lendo e nem me dou conta. Uma delícia teu blog.
Um grande abraço,
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:31Oi Suzana, obrigadão!!!! Abraço
Rafaela
25 de outubro de 2016 at 22:45Olá! Adorei o teu blog. Cheguei aqui procurando um passeio para o Monte St. Michel e caí aqui. Ultimamente está difícil encontrar dicas genuínas nos blogs de Paris. Parece até que as pessoas não moram na cidade. Não é o teu caso claro. Dicas super certeiras, inéditas. Parabéns! Nunca tinha ouvido falar do parque, mas anotei a dica.
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:28Oi Rafaela, obrigada pelo comentário, um abraço
Fernanda Souza
25 de outubro de 2016 at 22:47Uau! Jamais diria que esse lugar é em Paris. Me lembrou o High Lane em Nova York.
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:27Pois é, e tem 4 assim aqui agora. Vou escrever sobre os outros ainda. Um beijão
Martinha Andersen
26 de outubro de 2016 at 11:46Fui apenas uma vez aí, mas já faz um tempinho… e não fiz o trajeto todo. Era inverno, e estava com um vento enorme. =)
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:20Oi Martinha, aquela parte alta pode ventar mesmo, um beijo
Bruna
26 de outubro de 2016 at 11:48Que legal esse lugar!!!! Bem diferente da Paris que sempre vimos na tevê.
Renata Rocha Inforzato
6 de novembro de 2016 at 13:17Oi Bruna, obrigada pelo comentário, bjs