Atrações

Passage Jouffroy – Uma galeria coberta popular em Paris

17 de maio de 2020

Last Updated on 17 de maio de 2020 by Renata Rocha Inforzato

As galerias cobertas estiveram muito na moda na Paris do século XIX. Algumas foram destruídas com o tempo, outras existem até hoje e há aquelas que, além de existirem, continuam sendo muito populares. É o caso da Passage Jouffroy.

Passage

Quem vê a Passage Jouffroy hoje, super animada, nem desconfia que ela poderia nem ter existido. Em meados do século XIX, alguns empresários constituem uma companhia privada. Entre eles estava o arquiteto Félix de Jouffroy-Gonsans. A ideia era prolongar a rue Vivienne para além do Boulevard Montmartre.

Loja Paris

Mas, não seria fácil fazer esse prolongamento e esse projeto encontrava muita resistência, inclusive da imprensa. O jornal Moniteur Universel, de setembro de 1844, chegou até a publicar que eles não deveriam prolongar a rue Vivienne e sim abrir uma passagem coberta para ser a continuação da Passage des Panoramas, que era muito popular na época.

Passage

Assim, inspirados pelo sucesso da Passage des Panoramas, a empresa resolveu construir uma sucessão de duas passagens cobertas: a Passage Jouffroy e a Passage Verdeau, pois também fazia parte da sociedade um certo Senhor Verdeau. A Passage Jouffroy se situaria no prolongamento mesmo da Panoramas e a Verdeau completaria o percurso.

Corredor galeria

Então, a Société du Passage Jouffroy contrata os arquitetos François Destailleurs e Romain de Bourges e a construção da passagem começa em 1845. Para o novo empreendimento, três lotes com tamanhos irregulares foram necessários.

Passage

O primeiro era onde ficava um grande palacete, um pouco recuado em relação ao alinhamento das construções do Boulevard Montmartre. Até 1836, o imóvel abrigou a Boîte aux Artistes, que era, como o nome diz, uma residência para artistas. Seu morador mais ilustre foi o compositor italiano Giacomo Rossini, que viveu no segundo andar de 1829 a 1832. Após a demolição da Boîte, foi ali que a passagem foi aberta e é onde fica sua entrada principal.

Jouffroy

O segundo lote, no coração da futura construção, era onde ficavam os jardins de um palacete chamado Aguado (Hôtel Aguado). Hoje esse imóvel é a subprefeitura do 9ème arrondissement. Já o terceiro lote, mais estreito e em forma de L, dá para a rue de la Grange-Batelière.

Passage

Assim, o traçado da Passage Jouffroy não é retilíneo. O desnível no percurso é compensado por uma pequena escadaria na ala intermediária, onde começava o terceiro lote. No total, a passagem mede 140 metros de comprimento por 4 de largura (largura do corredor principal).

Escada Jouffroy

Uma das inovações da Passage Jouffroy é sua arquitetura. A estrutura metálica da galeria mostra a mudança nas técnicas de construção. A Jouffroy é, então, a primeira passagem coberta realizada em ferro e vidro.

Passage

As colunas são realizadas em fonte, revestidas de madeira e se elevam até a cúpula de vidro. As estruturas são compostas por ferros achatados dispostos verticalmente.

Colunas

Assim, a cúpula de vidro, em forma de espinha de peixe, é mais complexa do que nas passagens anteriores e se destaca por sua grande beleza e elegância. Como as construções laterais não são mais altas do que ela, a luz que ela difunde muda ao longo do dia. A cúpula é encimada por um grande lanternim, o que assegura a ventilação da galeria.

Passage

Passage

Passage

Até então a madeira era o elemento predominante nas galerias parisienses. Aqui na Passage Jouffroy esse material está somente em elementos da decoração e como revestimento. Por falar em decoração, nesta galeria ela é simples nas fachadas das lojas e mais rica nos tímpanos e nas entradas. Além da madeira, as fachadas das boutiques são envidraçadas. Dois relógios, um em cada corredor, marcam a hora envoltos em uma bela decoração do século XIX.

Relógio galeria

Após a escada, está a alameda que dá para a rue de la Grange-Batelière. Essa parte da passagem, por causa do terceiro lote, é bem estreita. Ali só é possível ter lojas em um dos lados. Mas, para não quebrar a harmonia da galeria, os arquitetos repetiram a trama das lojas na parede do outro lado também. A cúpula de vidro nessa parte da galeria é mais tradicional, mas lembra a da ala principal.

Passage

As duas entradas são diferentes entre si. Na principal, do Boulevard Montmartre, se destaca a presença de grandes vitrines e a altura imponente. A entrada que dá para a rue de la Grange-Batelière é composta por um pórtico de decoração mais clássica, mas também bem alto.

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Entrada no Boulevard Montmartre
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Entrada na rue de la Grange-Batelière

Outra inovação da Passage Jouffroy é o fato do aquecimento vir do chão. Vários frequentadores com frio se amontoavam em volta das grades de ferro do chão para poderem se aquecer. Muitas pessoas explicavam o sucesso imediato da galeria por este fato. Mas, a verdade é que ela abriga lojas e atrações interessantes desde o início.

Paris

Já nos primeiros anos depois da sua abertura, uma multidão se espreme a cada dia, ansiosa para flanar nos corredores da Jouffroy. Ali era o local de encontro dos ricos e de pessoas da moda, que faziam suas compras nas várias lojas, jantavam nos restaurantes prestigiados da galeria ou observavam o movimento de dentro dos dois cafés da entrada.

Passage

O escritor Alfred Delvau, que era amigo de Baudelaire, estava sempre na passagem. Em 1967, em sua obra Les Plaisirs de Paris, ele descreve: “Cada dia, desde quatro horas da tarde, é necessário, seriamente e com coragem, empurrar para conseguir abrir caminho através das pessoas que vão e vêm, que passam em grupos espessos como os harengues no estreito da Mancha”.

Paris toujours

Dentre as boutiques, havia gabinetes de leitura, livrarias, modistas, alfaiates, cabeleireiros, fabricantes de luvas, chapéus, guarda-chuvas e bengalas e até comerciantes de conchas. A Passage Jouffroy atraía também as prostitutas, órfãs das galerias do Palais-Royal, que vinham ali em busca de ricos clientes.

Passage

Em 1851, os passantes vinham contemplar o Lingot d’Or, uma barra de ouro que valia cerca de 400 mil francos e era o grande prêmio de uma loteria. Ele ficava em um tipo de trono e a multidão se espremia para vê-lo, sonhando com a riqueza que tanto ouro daria ao feliz ganhador.

Bijouterias

Havia um Bazar Européen, loja especializada em artigos sobre Paris, muito na moda no século XIX. O subsolo da boutique abriga o Bal Montmartre, um famoso salão de dança. Depois ali se instala um teatro de marionetes e, em 1865, é a vez do Théâtre des Ombres Chinoises. Chamado de Séraphin, era um teatro de miniaturas, com personagens de 60 centímetros.

Passage

Já a partir de 1895, um café-concerto, o famoso Petit Casino, é aberto nesse mesmo subsolo e funciona até os anos 1950. Na década de 1970, há um cinema no lugar. Por falar em diversão, a Passage Jouffroy acolheu um dos primeiros cafés-concertos da capital, o Estaminet Lyrique. Aberto em 1848, ele ficou tão famoso que foi citado por Berlioz: “é ali, na verdade, que se esgoelam, em um pequeno teatro e aos sons fracos de um piano, seis ou sete cantores devotados à fantasia…”

Passage

Em 10 de janeiro de 1882, Alfred Grévin, caricaturista, com a colaboração do jornalista Arthur Meyer, abre um museu no lote ao lado. A entrada principal dá para o Boulevard, mas há outras duas dentro da Passage Jouffroy. Desde então, o Musée Grévin assegura boa parte da animação da passagem, pois as pessoas saem por ali depois de visitá-lo. Em 14 de agosto de 1889, o jornal l’Égalité considera que a Jouffroy é a mais frequentada das passagens cobertas parisienses.

Musée Grévin

Assim, no começo dos anos 1900, enquanto as outras passagens de Paris estavam em declínio, a Passage Jouffroy ainda era muito frequentada. Seus visitantes disputavam quase a tapa um lugar em um dos seus três famosos restaurantes. Eram eles: Le Dîner de Paris, Le Dîner du Rocher e Le Dîner Jouffroy. Todos tinham preços fixos e poderiam até servir iguarias um tanto bizarras, como, por exemplo, cabeça de gorila.

Pequeno Príncipe

Em julho de 1974, ela é inscrita, assim como as outras passagens cobertas de Paris, no inventário de Monumentos Históricos. Em 1987, a Passage Jouffroy passa por uma grande restauração. E nessa ocasião que ela reencontra seu piso original. Até o final dos anos 1980, cada comerciante que se instalava ali tinha exclusividade na sua atividade.

Passage

E até hoje, quase 180 anos após sua construção, a Passage Jouffroy continua bem popular e animada. Ela tem lojas de vários tipos, muitas das quais vendem objetos curiosos ou de sonhos. Podemos encontrar roupas, sapatos, joias, perfumes, lembranças de Paris, itens de decoração, artesanato, guloseimas etc. Algumas lojas são antigas, o que dá um charme especial ao lugar.

Passage

Dentre as boutiques, destaque para uma loja de brinquedos, La Boîte à Joujoux, cheia de miniaturas. Não tem como não entrar ali, é um brinquedo mais lindo do que o outro. Casinhas bem pequenas, assim como comidinhas, lojinhas, enfim, um universo inteiro em tamanho reduzido. A gente volta a ser criança. Fora os outros brinquedos, igualmente atraentes.

Passage

Miniaturas

Passage

A Librairie du Passage, logo depois da escada, também é uma atração a parte, com seus livros de arte e as obras relacionadas a Paris a preços convidativos. Inclusive o livreiro se aproveita da parede cega da alameda estreita do final da passagem para instalar ali seus livros. Ficou bem legal. A galeria de arte que fica em frente à livraria também usa esse espaço cego, o que nos dá a impressão de que o corredor é bem mais largo.

Livraria galeria Jouffroy

Passage

Passage

A Passage Jouffroy abriga também restaurantes e dois hotéis. O primeiro é o Ronceray, perto da entrada principal da galeria. O outro é o Hotel Chopin, perto da saída do Musée Grévin.

Hotel Chopin

Com todas essas atrações, a Passage Jouffroy continua bem animada. Mesmo que não se vá comprar nada ali, o passeio em si já é suficiente. Vale a pena observar sua arquitetura, sua decoração, suas vitrines e seus frequentadores e, assim, entender um pouquinho mais da história e do que é feita Cidade Luz.

Bourjois Paris

Passage Jouffroy
10-12, boulevard Montmartre – 9, rue de la Grange Batelière
75009 Paris
Metrô: Grands Boulevards – linha 9
Richelieu-Drouot – linhas 8 e 9.
Horários: Aberta todos os dias, das 7h às 21h30.

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

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