Amboise

Pagode de Chanteloup – A atração diferente de Amboise

19 de abril de 2022

Last Updated on 19 de abril de 2022 by Renata Rocha Inforzato

A cidade de Amboise é conhecida pelos seus castelos. Mas ela abriga também uma atração insólita e cheia de história: o Pagode de Chanteloup. É um lugar bem diferente e você vai ver como ele é interessante.

Chanteloup

Como escrevi acima, conhecemos Amboise por causa dos castelos: o Château de Amboise, o Clos Lucé, onde morreu Leonardo da Vinci, e o Château Gaillard. Porém, a cidade também abrigou um palácio em estilo clássico e o Pagode é um dos vestígios deste grande terreno.

Jardim Chinês

O Palais (Palácio) – ou Château (Castelo) – de Chanteloup foi tão majestoso que chegou a eclipsar o Castelo de Amboise no século XVIII. Naquela época, a antiga moradia dos reis na cidade estava meio abandonada enquanto Chanteloup estava em seu auge. Mas, para entender direito o que é Chanteloup, vamos voltar lá atrás e contar a sua história.

Chanteloup

O nome Chanteloup talvez venha do fato de que esta área tinha (ou tem) a presença de lobos. Não se sabe quem a batizou assim. A dona da propriedade no começo do século XVIII é Marie-Anne de La Trémoille, conhecida como a Princesa des Ursins, nobre da Corte de Louis XIV. Em 1710, ela contrata os arquitetos Jean d’Aubigny e Robert de Cotte para a construção de um castelo. Este último é o arquiteto da cúpula dourada da catedral Saint-Louis des Invalides, em Paris. Além do château, a princesa ordena também a construção de um jardim, também em estilo clássico, uma horta e um parque.

Floresta de Amboise

Alguns anos mais tarde, em 1761, a propriedade foi comprada pelo Duque Étienne de Choiseul. Poderoso ministro de Louis XV, ele havia sido nomeado governador da Touraine, região onde fica o castelo. Logo em seguida, o novo proprietário começa uma reforma no lugar. Ele contrata o arquiteto Louis-Denis Le Camus e lhe dá a missão de arrumar o castelo de arcordo com a arquitetura em moda e as modernidades da época. Assim, são construídos colunatas e pavilhões.

Château de Chanteloup
Nicolas Perignon – Cinquième vue du château de Chanteloup prise du milieu de la cascade (Quinta vista do Castelo de Chanteloup tomada do meio da cascata), 1770

Neste meio tempo, em 1764, a Madame de Pompadour, favorita (amante) de Louis XV, morre. A nova favorita, Madame du Barry, não apreciava o Duque de Choiseul, pois ele era protegido e amigo da sua antecessora. Além disso, o rei não concordava mais com algumas das ideias de seu Ministro. Por exemplo, Choiseul queria que a França se aliasse à Espanha contra a Inglaterra no conflito sobre as Ilhas Falklands (as Malvinas).

Parque do Pagode

Assim, em 1770, o Duque cai em desgraça, é destituído de seus cargos e obrigado a deixar a Corte junto com a esposa, Louise-Honorine Crozat du Châtel. Ele escolhe Chanteloup como seu local de exílio.

 Chanteloup

E as reformas da propriedade continuam, comandadas por Le Camus, inclusive nos jardins. Havia o Petit Parc, com traçado regular, flores e que era perto do castelo, e o Grand Parc, que ia até a floresta. Neste último, ele manda construir as sete alamedas que convergem para um ponto central (onde mais tarde seria construído o Pagode). No Petit Parc, ele embeleza os jardins, respeitando o projeto anterior de Jean d’Aubigny.

pintura
Atribuído a Louis-Nicolas Van Blarenberghe, Vue du Château de Chanteloup depuis le Nord (Vista do Castelo de Chanteloup a partir do Norte), século XVIII

Os inúmeros jatos de água e cascatas são alimentados por um sistema que faz subir a água em abundância. Mais tarde, ele ordena a criação de um lago em meia-lua no ponto mais alto da propriedade. Para alimentá-lo, ele o liga ao Étang des Jumeaux, situado a 12 quilômetros do lugar, através de um canal.

Chanteloup

Pouco depois, Le Camus amplia o canal, que passa a ter 600 metros de comprimento e 100 de largura. Ao norte do jardim, ele cria, ainda, o Jardin des Orangers, com desenho pequeno e retangular, que era cercado por caixas contendo laranjeiras (orangers). Essas árvores eram símbolos de riqueza na época.

Lago Touraine
O lago e os restos do canal

Mas a vida do duque exilado não se limitava aos trabalhos na propriedade. Étienne de Choiseul era uma pessoa muito popular. Por isso, recebia muitos amigos, que acabaram formando uma verdadeira Corte intelectual e artística no Château de Chanteloup, digna de rivalizar com a do rei.

Chanteloup

Visto como vítima do autoritarismo real, Choiseul atraia também os opositores do regime, que abraçavam as novas ideias do Século das Luzes (Iluminismo). O estilo de vida do duque e de sua esposa era luxuoso, com recepções, festas e apresentações teatrais bem concorridas. Uma espécie de Versailles do Vale do Loire.

Buda

Em 1774, Louis XV morre e, assim, o exílio do Duque de Choiseul termina. Mas ele não esquece essas pessoas que lhe deram apoio e que frequentaram a sua propriedade nos anos difíceis, E é em homenagem a esses amigos e simpatizantes que, a partir de 1775, ele vai construir um monumento exótico simbolizando a Amizade: o Pagode de Chanteloup.

Chanteloup

Mais uma vez o duque recorre ao arquiteto Louis-Denis Le Camus. A inspiração é o pagode chinês de Kew Gardens, desenhada por William Chambers em 1757. Mas o resultado final é um pouco diferente, bem francês. O monumento tem 44 metros de altura e é suportado por um peristilo com 16 colunas e 16 pilares. E situado bem na convergência de várias alamedas florestais e à beira do lago.

Pagode

São sete andares, o primeiro de forma circular, os outros octogonais e cada vez menores. Eles são construídos em cúpula e cada uma dessas cúpulas é cortada por uma escadaria estreita e inclinada, que vai até o topo. No primeiro andar, os degraus são em pedra, nos andares restantes são feitos em madeira de acaju. O corrimão é em ferro forjado, decorado com bronzes dourados em um duplo C entrelaçado: Um C é de Choiseul e o outro do sobrenome de sua esposa, Crozat.

Chanteloup

No primeiro andar, uma placa de mármore, colocada a mando do duque, lembra a finalidade do monumento. Nela está escrito: “Étienne François, duque de Choiseul, tocado por testemunhos de amizade, de bondade, de atenção, dos quais ele foi honrado durante seu exílio por um grande número de pessoas atenciosas por virem a este lugar, manda construir este monumento para eternizar seu reconhecimento”.

Placa dedicatória pagode
A placa com a dedicatória

Na época do duque, do alto do Pagode, de um lado, se tinha uma bela vista dos belos jardins que iam até o Château de Choiseul. Do outro, se via a floresta de Amboise e o lago em forma de meia-lua, assim como o Grande Canal que ligava esse lago ao Étang (lago) des Jumeaux, citado acima no texto.

Chanteloup

Cedendo ao gosto da época e para combinar com o Pagode, o duque encarrega Le Camus para refazer os jardins. É criado, então, um jardim de inspiração chinesa, com árvores exóticas, rio, grutas artificiais e pequenas pontes. O rigor simétrico do jardim francês é substituído pelas curvas. Para a criação deste espaço, Le Camus conta com a ajuda de Archibald MacMaster, paisagista escocês.

Jardin Chinois

Mas eles nunca foram à China para buscar inspiração: esta vinha de descrições de missionários ingleses vindos do Extremo Oriente. Por isso, esse jardim, muito em moda na segunda metade do século XVIII, é chamado Jardim Anglo-Chinês (Jardin Anglo-Chinois). Mas o rigor do jardim francês não é abandonado, pois tudo é construído tendo em conta a perspectiva, valorizada pelo Pagode.

Chanteloup

Em 1785, o duque de Choiseul morre. A propriedade é, então, vendida ao duque Louis de Penthiève. O novo proprietário faz alguns trabalhos de manutenção no lugar. Porém, durante a Revolução Francesa, os jardins são devastados, já o castelo é poupado. Em 1802, é a vez de Jean-Antoine Chaptal adquirir Chanteloup. E é aí que acontece algo bem interessante.

Touraine

Chaptal era Ministro de Napoleão Bonaparte, mas também era químico. Era a época do Bloqueio Continental – lembra que a gente aprendeu isso na escola? Pois bem, por causa desse bloqueio, Napoleão não podia trazer o açúcar de cana das Antilhas.

Chanteloup

Então, Chaptal utiliza Chanteloup para fazer culturas de beterraba: ele realiza várias tentativas de extração e refinamento do açúcar obtido através das beterrabas. Até que, em 2 de janeiro de 1812, ele oferece a Napoleão os dois primeiros pães doces feitos com o açúcar de suas beterrabas. A iniciativa é um sucesso. Por causa dos serviços oferecidos ao Império, Chaptal se torna Conde de Chanteloup.

Brinquedos de madeira

Porém, por causa das dívidas do filho, Chaptal é obrigado a vender a propriedade em 1823. O Pagode e a área que engloba a floresta de Amboise são comprados por Louis-Philippe d’Orléans, futuro rei da França. E isso os salva da destruição.

Chanteloup

Já a área que corresponde ao castelo e aos jardins cai nas mãos de comerciantes de bens, que, na verdade, eram demolidores e conhecidos como La Bande Noire (O Bando Negro). Assim, infelizmente, o mobiliário é vendido, o castelo demolido e os jardins divididos em lotes.

Parque do Pagode

No século XX, o Pagode de Chanteloup é, mais uma vez, salvo da destruição. Em 1909, o proprietário é Gaston de Lauverjat, pintor orientalista. Ele contrata o arquiteto e engenheiro René-Édouard André para restaurar o monumento. Quando o novo proprietário morre, em 1913, sem herdeiros, René compra a propriedade, que está na família até hoje. Em 2000, o Vale do Loire entra na lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO e a área onde está o Pagode de Chanteloup faz parte do perímetro tombado.

Chanteloup

Hoje, de tudo o que havia na propriedade, ainda podemos ver: o Pagode, atração principal; o lago em meia-lua; o Grand Canal, uma relva quase seca; as alamedas florestais; o Petit Pavillon du Concierge (Pequeno Pavilhão do Zelador) e os dois pavilhões clássicos, situados do lado de Amboise. Estes dois últimos marcavam a entrada da propriedade. Uma curiosidade: em um desses pavilhões, entre 1914 e 1974, morou a escritora Jehanne d’Orliac, autora de peças de teatro e romances.

O grande canal
O Grande Canal hoje

A visita

1) O Pagode de Chanteloup – Como escrevi acima, a inspiração é chinesa, mas a busca pelo clássico, algo tipicamente francês, não poderia ficar de fora. O peristilo com colunas dóricas e as grades dos terraços em ferro forjado são exemplos disso.

Chanteloup

São 149 degraus até o último andar e, conforme subimos, a escada vai se tornando mais estreita. Por isso, cada andar tem um recuo mais pronunciado, o que dá uma elegante fineza ao Pagode. Assim, as características originais do monumento continuam, como, por exemplo, o fato de somente a escadaria do primeiro andar ser de pedra.

Detalhes do Pagode

A vista lá de cima continua bela. De um lado, ainda vemos o lago e a floresta de Amboise. Do outro, onde havia os jardins e o castelo, agora vemos os campos e a cidade. À primeira vista, o Pagode parece frágil e até é ligeiramente torto, como uma Torre de Pisa à francesa. Mas é só impressão, pois ele é bem sólido, embora esteja precisando de uma restauração. O monumento tem 44 metros de altura, mas o seu reflexo no lago o faz parecer maior do que é.

Chanteloup
Do alto, ainda vemos o traçado dos antigos jardins

2) Pièce d’eau en demi-lune (Lago em meia-lua) – Como nos tempos de glória de Chanteloup, o lago valoriza o terreno e dá um belo reflexo do Pagode, que muda de acordo com a hora e a luz do dia. Na alta temporada, da primavera ao outono, é possível alugar um barco para até quatro pessoas, por seis euros a hora, e fazer passeios no lago, como acontecia na época do duque de Choiseul.

Chanteloup

Lago com barcos

3) O Parque – Com 14 hectares, passear pelo parque é uma bela maneira de passar o dia. Podemos caminhar tranquilamente em torno do lago, do antigo Grand Canal ou até ir mais longe. É possível encomendar ali mesmo cestas de piquenique com produtos da região e estender a toalha em qualquer lugar do parque.

Chanteloup

4) Jardin Chinois de FU-XI (Jardim Chinês) – Para reviver um pouco o amor pela China do século XVIII, foi criado este pequeno jardim chinês. É bem menor do que aquele que havia ali nos tempos de Choiseul, mas dá para se ter uma ideia de como era o lugar. Ele abriga espécies vegetais vindas do Oriente, além de objetos inspirados na China, muito em voga na época do duque e que eram chamados de chinoiseries. O ambiente convida à meditação.

Jardin FU-XI

Chanteloup

5) Brinquedos antigos – Vários brinquedos antigos tradicionais franceses ou vindos de fora, além de jogos de tabuleiro, estão espalhados à disposição das crianças (e dos nem tão crianças assim). A maioria é feita de madeira, como o Jeu de la Grenouille (Jogo da Rã), Jeu du Croquet (Jogo do Croqué), etc.

Jogos antigos

A brincadeira com eles é gratuita, ou seja, está incluída no preço do bilhete de entrada. E o mais engraçado é que podemos reconhecer alguns desses brinquedos e jogos. Além disso, entre a primavera e outono, há várias atividades para as crianças, como a resolução de enigmas pelo parque. No site oficial (link no final do texto), é possível consultar a data destas atividades.

Chanteloup

6) Musée – No Pavillon du Concierge, logo no começo da visita, há um pequeno museu iconográfico que conta a história de Chanteloup. Há retratos de personagens históricos do lugar, gravuras e mapas que mostram como eram os jardins e o palácio. Há também um filme, que é uma visita virtual, com imagens em 3D que nos fazem sentir como nos tempos áureos da propriedade e do castelo. Dura cerca de 18 minutos, é em francês, com legendas em inglês.

Chanteloup

7) Salão de chá – É onde encomendamos a cesta de piquenique (14 euros ou 17 euros, este último com café e vinho incluídos, para adultos ou 8,50 a cesta para crianças). Mas é possível também comer ali mesmo, no salão ou no terraço. Há uma boa oferta de sanduíches, refeições rápidas e bebidas quentes e frias.

Salão de Chá

Pagode de Chanteloup
Route de Bléré – BP 317
37400 – Amboise

Horários: de 18 de março a 31 de maio, todos os dias, das 10h às 18h. De 1 de junho a 31 de agosto, todos os dias das 10h às 19h. De 1 a 30 de setembro, todos os dias, das 10h às 18h. De 1 a 31 de outubro, todos os dias, das 14h às 18h. De 1 a 13 de novembro, todos os dias, das 14h às 17h. Fechado a partir de 14 de novembro até metade de março.
Tarifas: 10,50 euros. Estudante (com apresentação de justificativa): 9,50 euros. Crianças e adolescentes (de 7 a 18 anos): 8 euros. Famílias a partir de 2 adultos e 2 crianças: 32 euros (limite até 5 crianças). Gratuito para menores de 7 anos.
Tarifa reduzida (9,50 euros adultos e 7 euros crianças) para quem tiver visitado as seguintes atrações da região: Mini-châteaux – Aquarium de Touraine – Safari Train – Family Park – VVF Amboise.
Aluguel de barco (com capacidade de até quatro pessoas): 6 euros a hora.
No verão (junho, julho e agosto) visitas guiadas gratuitas de 30 minutos às quartas, sábados e domingos, às 15h30. Em francês.
Cesta de Piquenique com produtos locais: Para adultos – De 14 a 17 euros a cesta. Este último preço inclui bebidas (vinho e café). Para crianças: 8,50 euros a cesta.

O salão de chá possui horários diferentes, que são: De 18 de março a 31 de maio, todos os dias, das 11h às 18h. De 1 de julho a 31 de agosto, todos os dias, das 11h às 19h. De 1 a 30 de setembro, todos os dias, das 12h às 18h. Fechado a partir de outubro até metade de março.
Para mais informações sobre o Pagode e o parque de Chanteloup, acesse o site oficial.

Chanteloup

Como ir até Amboise: de Paris, da estação (Gare) de Austerlitz ou Montparnasse, pegar o trem com direção de Amboise. A viagem dura entre 1h45 a 2h30 (depende se o trajeto é direto ou não). Informações sobre preços e horários, você pode consultar no site da SNCF Connect (a companhia de trem francesa).

O Pagode de Chanteloup fica fora do centro de Amboise. Dá para ir a pé (cerca de 40 minutos). Mas se preferir pegar um táxi no centro da cidade até o Pagode, o valor é em torno de 12 euros. Também é possível e muito fácil alugar uma bicicleta para ir até o monumento. No local, há estacionamentos para bicicletas. Para alugar uma, consulte o site do Office de Tourisme de Amboise.

Para quem vai de carro, tanto saindo de Paris quanto saindo de Amboise, a dica é consultar o Via Michelin Via Michelin.

Porta chinesa

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

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