Festas & Eventos

La Chandeleur – A festa dos crepes na França

3 de fevereiro de 2020

Last Updated on 23 de janeiro de 2022 by Renata Rocha Inforzato

Dia 2 de fevereiro na França é a Fête de la Chandeleur, que comemora a Apresentação de Jesus no Templo. É um dia em que se come crepes e galettes (crepe salgado) por todo o país. Mas, o que tem a ver a religião com os crepes? É o que vamos ver logo abaixo.

Chandeleur

A Apresentação de Jesus no Templo é um dia religioso que se comemora em vários países. O que vou falar nesse texto são as características da comemoração na França, com esse detalhe maravilhoso que são os crepes.

Crepe de caramelo

A tradução para o nome Chandeleur é Candelária. Então, é a Festa da Candelária. Na França, ela também é chamada de Fête des Chandelles (Festa das Velas). Embora hoje ela esteja ligada à religião católica, suas origens são bem pagãs e têm muitos séculos. Os Celtas, que também viveram em várias partes da França, tinham uma tradição de fazer uma procissão cheia de tochas para celebrar Brigit, deusa da fecundidade, que abençoava as sementes que seriam plantadas em breve. Os romanos retomaram esse costume e organizavam as Lupercales, que eram procissões com tochas em honra a Lupercus ou Pan, deus da fecundidade. Era uma forma de comemorar o final do inverno e a chegada de dias mais clementes e fecundos para a agricultura.

Chandeleur

Outra interpretação para a origem da Chandeleur é que a festa seria dedicada à deusa Ceres (Deméter na Mitologia Grega), que representava a colheita e não fertilizava a terra durante três meses, ou seja, no inverno. Uma procissão com tochas era realizada, lembrando a procura da deusa por sua filha, Proserpina (ou Perséfone para os gregos), raptada por Plutão (Hades), o deus dos infernos. A luz das tochas na procissão simbolizava a vitória sobre as sombras da morte. Nos dois casos de origem pagã, a festa era realizada em torno de 15 de fevereiro.

Crepe de rua

Foi em 472 que o papa Gelásio I decide “cristianizar” a comemoração, tornando-a símbolo da Apresentação de Jesus no Templo. Segundo a tradição hebraica, os bebês primogênitos do sexo masculino deveriam ser levados ao templo, quarenta dias após o nascimento, para serem apresentados a Deus. Quarenta dias após o Natal (nascimento de Jesus) cai em 2 de fevereiro. De acordo com a Bíblia, um velho homem, Simeão, e a profetisa Ana reconheceram o menino como Deus, a luz de Israel. Por isso, Gelásio associa a antiga festa pagã das velas com a comemoração cristã. Nesse dia, é celebrada também a Purificação da Virgem Maria, outra tradição hebraica que diz que as mulheres deveriam ser purificadas 40 dias após o parto.

Chandeleur

Mas, o que os crepes têm a ver com isso? Como escrevi lá em cima, o papa Gelásio I apropriou-se a antiga festa pagã dos romanos. Então, no dia 2 de fevereiro, começaram a ser organizadas em Roma procissões, só que em vez de tochas eram velas bentas. No século VII, Festa do Candelarum se tornou tão popular, que antes mesmo da Aurora já havia fiéis chegando à cidade. Aí, para matar a fome dessa multidão, começaram a distribuir os crepes de trigo candial (muito branco).

Crepe de Nutella

Essa tradição dos crepes com a Chandeleur (Apresentação de Jesus no Templo) continua na França. Na Idade Média, os camponeses iam à Missa pela manhã já com a velas para serem benzidas. Aí eles voltavam para casa, com a vela acesa, e percorriam todos os cômodos da residência, para levar luz e prosperidade ao lar. Durante essa procissão doméstica, a vela deveria ficar acesa. Se ela apagasse, era sinal de azar. Depois, ela era guardada em uma gaveta e só era retirada dali em situações dramáticas, como no caso da morte de alguém da família.

Chandeleur

No mesmo dia, à noite, os crepes eram degustados. Pela sua forma redonda, a cor dourada e o fato de ser quente, o crepe lembrava o sol. O que combinava também com a festa religiosa, pois, para os cristãos, Cristo é a luz do Mundo. A tradição mandava que os crepes deveriam ser feitos com o trigo excedente do ano anterior, para trazer prosperidade na colheita do ano que começava. Também era uma forma de aproveitar o que sobrava do cereal.

Chandeleur

E a coisa não para por aí! Os primeiros crepes deveriam ser feitos no fogo e jogados para o alto várias vezes com a mão direita, enquanto a mão esquerda deveria segurar uma moeda. Isso tudo para atrair a prosperidade. Depois, a moeda era enrolada no crepe, levada em procissão até o quarto para ser jogada em cima do armário, onde deveria ficar até o ano seguinte. Deixar a moeda cair, era azar para o ano todo.

Creperie Suzette

Bom, não é preciso mais fazer todo esse malabarismo. Mas a Chandeleur ainda é uma boa ocasião para se comer os crepes. Afinal, como diz o ditado francês: Se não quiser trigo carvoento, coma crepes na Chandeleur. E, nesse caso, não é difícil ouvir a voz da razão, não é?

Galette Presunto e queijo

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

Comentários (4)

  • José Victorino Martins Neto Responder    

    13 de abril de 2020 at 12:46

    Gostei muito! Achei que ia nos passar uma receita do crepe doce e salgado!

  • RONALDO MIGUEL DA HORA Responder    

    3 de fevereiro de 2022 at 12:02

    Que crepes maravilhosos! Gostei de mais!
    Tem a receita deles?

    • Renata Rocha Inforzato Responder    

      24 de fevereiro de 2022 at 1:22

      Oi Ronaldo, aqui agora comigo não. Mas tem vários sites ótimos com receitas. Em português, gosto muito do panelinha. Um abraço

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