Azay-le-Rideau

Azay-le-Rideau – o diamante do Vale do Loire

7 de maio de 2021

Last Updated on 7 de maio de 2021 by Renata Rocha Inforzato

A palavra diamante empregada no título deste post é o adjetivo que Balzac usou para definir o castelo de Azay-le-Rideau, um dos mais belos do Vale do Loire. É um monumento que vale a visita e é por isso que ele é tema deste artigo. Então, que tal visitá-lo agora?

Azay-le-Rideau

Dizem que no século XII, essas terras com um castelo medieval pertenciam a um tal de Ridel de Azay, que era muito temido. Aí no começo do século XV, os partidários do duque de Bourgogne tomam o lugar. Eles eram aliados da Inglaterra na Guerra dos Cem Anos. Nessa época, a guarnição do castelo se recusou a receber o delfim francês, o futuro Charles VII. Como vingança, o futuro rei da França massacrou a guarnição de 354 pessoas e incendiou o castelo e o vilarejo, que ficou conhecido como Azay-le-Brûlé (Azay o queimado).

Azay-le-Rideau

O que se tem certeza é que, no final do século XV, o feudo de Azay-le-Rideau, os ganhos com as terras e castelo eram propriedades da família de Boisjourdain. Charles de Boisjourdain, cheio de dívidas, queria vender a propriedade.

Mesa posta castelo

Gilles Berthelot, que era conselheiro e secretário do rei, se torna mestre de contas e depois presidente da Chambre de Comptes de Paris (Câmara de Contas de Paris). Como já possuía um bom nível de vida, só lhe faltava ter terras. Entre 1498 e 1510, ele e a esposa, Philippe Lesbahy, compram de Charles de Boisjourdain a propriedade de Azay-le-Rideau. Uma parte dessa aquisição é graças à herança da esposa. Logo depois, eles adquirem a senhoria de mesmo nome.

Azay-le-Rideau

As terras se estendiam pelo vale, a meio caminho entre Tours e Chinon, e eram banhadas pelo rio Indre, um afluente do Loire. No centro da propriedade, os dois braços do rio formavam uma ilha, no centro da qual estava edificado o castelo feudal. Aproveitando-se dessa defesa natural assegurada pelos braços do Indre, Gilles Berthelot resolve construir um novo castelo mais moderno, mais ao gosto da época, usando as estruturas do antigo.

Escadaria castelo

No século XVI, o Vale do Loire se tornou um verdadeiro canteiro de obras. Influenciados pelo Renascimento italiano, os reis da França e seus cortesãos faziam vir do país vizinho arquitetos, mestres de obras, escultores e outros artistas e artesãos para edificar castelos que eram verdadeiras obras de arte. E Azay-le-Rideau foi um deles.

Azay-le-Rideau

Como Gilles Berthelot viajava bastante por causa do trabalho – ele já tinha se tornado tesoureiro do rei François I -, o comando da construção do castelo foi dado à esposa, Philippe Lesbahy. E ela cumpriu seu papel à perfeição, dirigindo o mestre de obra e seus trabalhadores com eficiência, recebendo os materiais e controlando as contas. Ela negociava, inclusive, com as corporações profissionais às quais pertenciam os cerca de cem artesãos que trabalhavam no castelo.

Parque

Assim, foram realizados um edifício principal perfeitamente simétrico, com uma ala perpendicular, com torres nos cantos e uma escadaria reta magnífica, de inspiração italiana, uma das primeiras da França. A tradição gótica, até então em vigor, foi abandonada em Azay, dando lugar à arquitetura Renascentista. A decoração esculpida, sobretudo das fachadas, acentua o aspecto feminino do castelo. O material usado na construção foi o tuffeau, uma pedra calcária encontrada na região. Ao todo, foram seis anos, desde a primeira pedra até este estágio de construção, em 1524.

Azay-le-Rideau

Porém, o casal só desfruta do castelo por três anos. Em 1527, o primo de Gilles Berthelot, Jacques de Beaune Semblançay, que também era tesoureiro do rei François I, foi condenado por malversação financeira e executado no Gibet de Montfaucon (onde hoje está o parque Buttes-Chaumont, em Paris).

Decoração de mesa

Também considerado culpado, Gilles, temendo ter a mesma sorte, foge para Metz, na região da Lorraine, que não pertencia à França. Ele morre em 1529 em Cambrai – uma cidade que também era fora do reino -, sem voltar a ver seu castelo, que ainda estava inacabado. Vários outros proprietários de castelos que trabalhavam para o rei foram investigados e até condenados, como os Bohier que eram donos do castelo de Chenonceau.

Jardim

Assim, Azay-le-Rideau foi confiscado pelo rei e dado a Antoine Raffin em 1528. O novo proprietário era amigo e companheiro de armas de François I e havia sido preso junto com o soberano nas prisões espanholas. Porém, ele só tomou posse da propriedade em 1534, pois Philippe Lesbahy, a mulher de Gilles Berthelot, lutou anos, sem sucesso, para reaver Azay. Humilhada e na miséria, ela acaba por abandonar o castelo.

François I
O rei François I

Antoine Raffin se muda de verdade para Azay-le-Rideau apenas em 1547. Ele chega a processar René Claveau, que foi o executor do confisco, por ter tomado para si muitos dos objetos e móveis valiosos que pertenciam a Gilles Berthelot, restando poucas coisas de valor para serem vendidas pelo novo dono. A própria mulher de Raffin, Philippe de Bessay, acaba comprando algumas coisas, principalmente os livros que Berthelot colecionava.

Azay-le-Rideau

O castelo continua na família. Após a morte de Antoine, em 1552, seu filho François e depois sua neta, Antoinette Raffin, herdam o castelo. Ela era dama de companhia da princesa Marguerite de Valois, a futura rainha Margot, mulher de Henri de Navarra (que, mais tarde, seria rei da França com o nome de Henri IV). No ano 1580, quando Marguerite tem que seguir o marido para o sudoeste, Antoinette é dispensada e passa a viver em Azay.

Interior de castelo

Ela decora o castelo com tapeçarias e vários móveis. Porém, o marido, que tinha o nome pomposo de Guy de Saint-Gelais de Lusignan de Lansac, que havia sido embaixador na Polônia e Espanha, era um homem muito ambicioso e endividado. Para proteger sua fortuna, Antoinette pede uma separação de corpos em 1603. O marido, então, invade o castelo e rouba a esposa. Após muita confusão, os dois se reconciliam e passam a viver e a embelezar Azay-le-Rideau.

Azay-le-Rideau

O filho do casal, Arthus de Lansac, herda a propriedade e se casa com Françoise de Souvré, que se torna Marquesa de Lansac. Ela era filha do preceptor de Louis XIII. Então, o jovem rei, aos 18 anos em 1619, vem passar dois dias no castelo. O médico do soberano, Jean Héroard, anotava tudo sobre Louis XIII desde que o rei nasceu. Por isso, hoje sabemos que a proprietária criou um ambiente luxuoso para receber o monarca, que se divertiu caçando, passeando pelos jardins e andando de barco pelo rio.

Lareira

Um laço de amizade se criou entre Louis XIII e Françoise de Souvré e ela foi escolhida para ser a governanta do futuro Louis XIV, que nasceu em setembro de 1638. Porém, a rainha Anne d’Autriche não gostava dela, pois a marquesa tinha sido encarregada pelo Cardeal e Ministro Richelieu de vigiar a soberana. Então, assim que Louis XIII morre, em 1643, Françoise é demitida e volta a viver e a cuidar de Azay-le-Rideau.

Azay-le-Rideau

Com a morte do casal, a herdeira da propriedade passa a ser a filha deles, Marie-Madeleine. Mesmo mancando de uma perna, ela era uma mulher muito cobiçada por causa da fortuna. Ela se casa com um marquês, Henri François de Vassé, que, além de ser gastador, era mulherengo. Cansada do comportamento dele, Marie-Madeleine resolve processar o marido. Logo em seguida, em 1669, ele é expulso da Corte por causa de libertinagem e passa a viver no castelo de Azay.

Salão château

Acostumado ao luxo da Corte, o marquês de Vassé acha Azay-le-Rideau fora de moda e rústico, além de inacabado. Ele se reconcilia com Marie-Madeleine (ah, essas mulheres da família!) e passa a embelezar e a modernizar o castelo, pois queria fazer dele um lugar da moda, capaz de receber convidados ilustres.

Azay-le-Rideau

Dentre os vários trabalhos que ele faz em Azay, estão as construções de uma copa, um gabinete e uma nova despensa no subsolo, próximos da cozinha, que ele também refaz. Talvez inspirado em Vaux-le-Vicomte e Versailles, o marquês também constrói uma entrada monumental para a propriedade, com uma alameda com castanheiras, além de realizar o pátio em meia-lua e os grandes portões. Tudo isso cria uma perspectiva que valoriza ainda mais a bela construção Renascentista.

Mesa de bilhar

O marquês moderniza a dependência oriental e cria a ocidental, que ficam simétricas ao portão principal. A decoração interior do castelo também é modernizada. Tudo o que era muito antigo e que poderia atrapalhar a bela construção do século XVI foi retirado.

Azay-le-Rideau

Porém, Henri de Vassé morre em 1684 no castelo. No mesmo ano, seu filho é levado pela peste e o neto também morre prematuramente, deixando três crianças pequenas. Azay-le-Rideau passa, então, por um período de abandono, pois agora ficava longe da Corte, instalada em Versailles. Somente reparações pontuais são feitas pelos herdeiros sucessivos, pois a família estava arruinada. Até que, em 1787, a propriedade é colocada à venda, já em ruínas. A compra acontece somente quatro anos mais tarde, em 1791.

Cozinha antiga

O novo dono de Azay-le-Rideau é o marquês Charles de Biencourt. Era a época da Revolução, um período não muito favorável para os nobres. Então, em um primeiro momento, ele tratou de fazer inovações agrícolas para rentabilizar as terras da propriedade. Como os ganhos do marquês eram modestos e sua saúde não era muito boa, ele só pôde realizar trabalhos de manutenção no castelo, que necessitava de uma reforma.

Azay-le-Rideau

Ele também mandou consertar alguns móveis e comprou outros. As únicas grandes mudanças dessa época foram a cobertura do fosso e a construção de um pavilhão chinês na fachada sudeste do castelo. Considerado de mau gosto, foi ali que o marquês instalou o seu quarto, pois não conseguia subir ao primeiro andar, onde ficavam os aposentos.

Rio Indre

Charles de Biencourt morre em 1824 ali mesmo na propriedade. Em seu testamento, ele afirmava a vontade de terminar Azay-le-Rideau de acordo com o projeto de Philippe Lesbahy, a proprietária do século XVI. Ele encarrega o filho, Armand François Marie de Biencourt, de realizar esse desejo.

Azay-le-Rideau

E o novo marquês vai levar a sério o projeto do pai, abrindo um canteiro de obras que vai durar até 1840. Em primeiro lugar, ele vai restaurar a escadaria e sua decoração, que fez tanto sucesso no século XVI. Ele acrescenta ali medalhões com a filiação dos reis e rainhas da França, de Louis XII (século XVI) a Henri IV (século XVII).

arquitetura

Em seguida, ele manda demolir o último resquício medieval do castelo, que era uma torre, e constrói outra no lugar, chamada de Troubadour. Para que Azay-le-Rideau voltasse a ter o esplendor da época do Renascimento, ele contrata o arquiteto Pierre Charles Dusillion para fazer uma verdadeira restauração no castelo. Os cômodos e a decoração interior também foram reformados. Tudo sob a supervisão do encarregado da propriedade, Jean-Baptiste Caillet-Dalvran. O objetivo era, sem deixar de lado o conforto moderno, devolver o aspecto dos cômodos no Renascimento.

Azay-le-Rideau

E, durante mais de trinta anos, Armand de Biencourt se dedicou ao objetivo de tornar Azay-le-Rideau um dos castelos mais belos do Vale do Loire, seguindo o que ele acreditava ser o projeto de Gilles Berthelot e Philippe Lesbahy. Ele compra móveis, tapeçarias e objetos de arte magníficos. Também adquire retratos históricos, para completar uma coleção herdada pela mulher, Anne de Montmorency.

Galeria de retratos

Quando atinge essa meta de devolver o brilho a Azay, em meados do século XIX, o marquês abre o castelo para o público. A construção passa a ser um dos mais belos museus da França, sem deixar de ser habitado. E provoca a admiração de visitantes e artistas.

Azay-le-Rideau

Como , por exemplo, que era amigo do Marquês de Biencourt. Em sua obra, Le Lys dans la Vallée, de 1836, o escritor chama Azay-le-Rideau de “diamante lapidado em facetas”. E Auguste Rodin visita o castelo para desenhar suas coleções durante as temporadas que passava no Château de l’Islette, ali perto.

Janela

Armand François morre em fevereiro de 1854. Quem fica com o castelo é seu filho, Armand Marie Antoine, que também herda o título de Marquês de Biencourt. Ele tem nas mãos um castelo mais viável depois de tantos trabalhos, mas ainda com coisas a fazer.

Azay-le-Rideau

Seguindo os passos de seus antecessores, ele faz melhorias em Azay. A primeira obra é a demolição do pavilhão chinês construído pelo avô, que destoava do castelo. Ele constrói também uma torreão saliente, em 1857, no lugar da torre Troubadour, e termina as fachadas. Isso tudo dá unidade para o edifício e é a aparência que vemos hoje.

Baixo relevo

Em relação ao parque, os antigos marqueses começaram a trabalhar na sua criação, realizando obras principalmente para evitar as inundações do rio Indre. Então, Armand Marie pôde criar o parque paisagístico e o espelho d’água, que até hoje reflete o castelo dando-lhe uma aparência mágica.

Azay-le-Rideau

E Armand Marie Antoine morre em 1862 e o herdeiro da propriedade e do título de marquês é o filho, Charles Marie Christian de Biencourt. Alguns anos depois, em fevereiro de 1871, Azay-le-Rideau é ocupado pelos prussianos durante um mês. Entre os ocupantes, estavam o príncipe Friedrich Karl, seu filho Friedrich Wilhelm e seu Estado-Maior.

Corredor

Dizem que os herdeiros do trono da Prússia teriam escapado de um “atentado” provocado pela queda de um lustre na sala de jantar (outros dizem que foi uma aranha) e que por pouco eles não incendiaram Azay. Segundo algumas fontes, durante este tempo de ocupação, os Biencourt teriam ficado nas dependências do castelo. Outras dizem que eles estavam em Paris e que Charles Marie teria escrito uma carta demonstrando seu descontentamento com a invasão do castelo.

Azay-le-Rideau

Charles Marie de Biencourt era membro da administração do Banque de l’Union Générale. Acontece que, em 1882, o banco vai à falência, por causa de um crash na Bolsa de Valores. O marquês tinha, então, de pagar uma dívida de 20 milhões de francos e não tinha muito dinheiro. Como também não tinha herdeiros, pois os filhos já haviam morrido, ele resolve colocar o castelo à venda em 1888.

Biblioteca mesa

Em março de 1899, Azay entra para as mãos do visconde e da viscondessa de Larocque-Latour, que são obrigados a colocar o castelo a leilão em 1903 por causa de dívidas. O novo dono é Jean Achille Romain Arteau, um homem de negócios experiente. Ele conserva as vastas terras, mas vende ao Estado, em 1905, o castelo e o parque.

Azay-le-Rideau

É um novo renascimento para Azay-le-Rideau. Em 1907, os cômodos da ala oeste são renovados. A intenção era transformar o castelo em um museu. Comprando vazio, aos poucos, ele foi sendo mobiliado novamente graças a depósitos vindos de coleções públicas, como a do Museu do Louvre e a do Musée National du Moyen-Âge, por exemplo.

Dependências

Em 1914, o castelo é classificado como Monumento Histórico. Entre 1940 e 1945, Azay é ocupado pelas tropas alemãs, que chegam a cavar trincheiras no parque. Em 1950, o terraço em torno do castelo é suprimido: agora as águas do Indre banham diretamente as paredes sul e oeste da construção. Em 2000, Azay-le-Rideau é inscrito na lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO, junto com outros castelos do Vale do Loire.

Azay-le-Rideau

De 2014 a 2017, a propriedade passa por uma nova e grande campanha de restauração. Em 2015, o Centre des Monuments Nationaux (CMN), órgão estatal que assegura a gestão e restauração de monumentos históricos franceses, firma uma parceria com o Mobilier National, órgão do Estado que cuida da restauração e conservação de móveis e objetos de coleção e assegura o mobiliamento dos palácios e monumentos nacionais.

Azay-le-Rideau

Por essa parceria, cerca de uma centena de móveis, tapeçarias, objetos e obras de arte pode ser restaurada e restituída no térreo do castelo, formando um conjunto coerente de como era Azay-le-Rideau na segunda metade do século XIX.

Azay-le-Rideau

Ao mesmo tempo, o CMN, que administra a propriedade, continua adquirindo móveis e objetos que pertenceram aos marqueses de Biencourt em vendas públicas ou através de doações realizadas pelos seus descendentes. A instituição também recebe depósitos de coleções de objetos e móveis que eram de Azay e que estavam em outros museus e castelos de prestígio, como o Château de Fontainebleau, por exemplo.

Árvores

O mobiliamento também se dá por equivalências históricas. Por exemplo, o CMN comprou quadros e objetos de arte para completar e reforçar a galeria de retratos históricos e acentuar a ideia de um castelo habitado, como na época dos marqueses.

Retrato do rei
Retrato do rei Henri II

Assim, o interior do castelo mostra dois períodos distintos e importantes em sua história. Primeiro, os cômodos do século XVI, com poucos móveis, pois, nessa época, a Corte ainda era itinerante. Aqui, vemos baús, cama com colunas, tapeçarias e guarda-louças, por exemplo.

Azay-le-Rideau

O segundo período é mostrado nos cômodos do térreo: ricamente mobiliados e decorados, eles mostram a arte de viver da segunda metade do século XIX, época do apogeu de Azay-le-Rideau. As decorações das salas que vemos hoje (chaminés, lambris, decorações pintadas) datam ou foram restituídas de acordo com o período entre 1850 e 1880.

Azay-le-Rideau

No meio dos dois períodos, a antichambre (antecâmara) e chambre (quarto) do rei, que mostram a evolução de estilo do século XVII, época em que Louis XIII se hospedou no castelo. Tudo apoiado por documentos históricos, catálogos das vendas das coleções publicados a partir de 1904 e fotografias realizadas entre 1898 e 1904.

Tapeçaria

Visita
O castelo de Azay-le-Rideau é uma aliança da tradição francesa de construir com arquitetura e decorações inspiradas no Renascimento italiano. Seus cômodos restaurados, assim como seu parque e jardim, são abertos à visitação, que vamos detalhar um pouco mais agora.

Azay-le-Rideau

Fachadas
O castelo tem a forma de L, e a entrada se dá por um pátio principal. O exterior do castelo é muito belo e elegante, com uma disposição harmoniosa e bem equilibrada. As janelas sobrepostas dão um efeito de verticalidade que é contrabalanceado por linhas horizontais.

Arquitetura do castleo

A fachada sul é refletida no espelho d’água. A trave central é coroada por uma lucarna de tamanho monumental. De cada lado dessa trave estão repartidas duas traves verticais, constituídas por janelas com mainéis e pequenas lucarnas, coroadas com frontões curvos. Nos cantos da fachada, torres com mísulas (uma peça saliente de sustentação). No alto, um falso caminho de ronda, que acentua a riqueza da sua decoração.

Fachada sul

A fachada norte é a que se abre para o pátio. Ela tem um aspecto monumental que é realçado pela presença da escadaria principal. Assim como a fachada sul, a parte norte é quadriculada por pilastras e molduras e sua decoração mistura tradição francesa e italiana. Vários elementos decorativos são inspirados na Antiguidade, como as pilastras, conchas e folhagens, por exemplo.

Azay-le-Rideau

Na parte da fachada onde está a escadaria principal, sob a primeira e terceira lógias, estão esculpidos em baixo-relevo a salamandra e o arminho, respectivamente, os emblemas do rei François I e da rainha Claude de France (soberanos na época da construção do castelo).

Salamandra e arminho
Na primeira e na terceira lógia: à esquerda está a salamandra e à direita o arminho

As baias desta parte da fachada são um pouco deslocadas em relação às outras janelas da construção principal. Junto com as pequenas colunas que a emolduram, a fachada da escadaria principal parece estar destacada em relação ao resto da fachada norte. No alto, uma grande lucarna com frontão piramidal.

fachada norte

Na ala perpendicular, no século XVI, vemos uma porta, de onde saía uma passagem abobadada que ia do pátio principal até os jardins que ficavam do outro lado (onde hoje está uma parte do espelho d’água). Com a elevação do nível do solo, ela ficou condenada e virou um cômodo. A fachada que dá para o pátio abriga uma grande torre, que, por sua vez, abriga uma escadaria em caracol. A torre, construída em 1857, é o toque final que dá homogeneidade ao castelo. Na fachada exterior desta ala, vemos a continuação do falso caminho de ronda.

Azay-le-Rideau

Azay-le-Rideau
A fachada exterior da ala. Veja a porta que dava para os antigos jardins (onde hoje está o espelho d’água)

Escalier d’Honneur (Escadaria principal)
Assim como no século XVI, é por onde entramos no castelo. Foi terminada em 1521 e tem inspiração italiana. É um modelo de escadaria reta, conhecida como “rampa sobre rampa”, considerada moderna na França do século XVI. É que até então o modelo típico de escadaria era aquele em espiral, que ficava em uma torre junto a uma construção principal.

Escadaria principal

A decoração da escadaria de Azay é admirável: as abóbadas achatadas com caixotões são decoradas por medalhões inspirados nos modelos da Antiguidade. Eles representam reis e rainhas da França (de Louis XII a Henri IV), personagens, animais fantásticos ou as iniciais dos Berthelot (os primeiros proprietários). O fecho das abóbadas tem decoração com folhagens e frutas de extrema delicadeza. Os patamares são organizados em lógias e são cobertos por abóbadas com decorações diferentes: nos seus arcos é possível ver arminhos, salamandras e putti (crianças nuas e gordinhas).

Azay-le-Rideau

Interior do castelo
Primeiro andar

No primeiro andar do castelo, quando fui, havia uma exposição chamada Les enchantements d’Azay, que era composta por instalações dos artistas plásticos Piet.sO e Peter Keene. Foi bem interessante, pois as obras dialogavam com os cômodos e objetos que ali estavam. Elas deram ainda mais vida ao lugar.

Azay-le-Rideau

Grande Salle
No século XVI, tempos de Gilles Berthelot e Philippe Lesbahy, era o local de festas e banquetes. O destaque desta sala de proporções majestosas é a lareira monumental. A várias tapeçarias e os móveis em madeira dão um ar caloroso ao cômodo. Vemos também alguns baús com decoração delicada de baixos-relevos e painéis, que eram muito usados pelos nobres no Renascimento para transportar suas coisas de uma propriedade à outra.

Grande Salle

Azay-le-Rideau

Chambre de Psyché (Quarto de Psiquê)
Durante o Renascimento, este cômodo foi um quarto. Ele leva esse nome por causa das tapeçarias que estão nas paredes, que contam a história do mito de Psiquê, muito em moda no Renascimento.

Chambre de Psyché

O conjunto que vemos nesse quarto é composto por cinco tapeçarias, tecidas em lã e seda, das quais uma tem a forma de um tríptico. Elas contam os principais momentos da vida de Psiquê, jovem mortal que se apaixona e é amada pelo deus Eros (ou Cupido ou Amor).

Azay-le-Rideau

Garde-Robe (Guarda-roupa)
Aqui encontramos um baú que servia para guardar roupas. É uma referência ao provável uso deste cômodo como uma espécie de closet no Renascimento.

Garde-robe

Chambre Reinaissance (Quarto Renascimento)
No Renascimento, um quarto era muito mais do que um lugar para dormir. Era ali que seu ocupante fazia as refeições, trabalhava e até recebia os visitantes. Uma das coisas interessantes neste quarto é a presença das tranças de junco que cobrem as paredes. A função delas era isolar o quarto do frio.

Chambre Renaissance

Apesar do nome Renascimento, a disposição dos móveis e objetos neste cômodo reflete também o século XVII. A bela cama chama atenção, com suas sedas bordadas e passamanes com fios de ouro e de prata em cores vibrantes. Obras de arte completam a decoração, como, por exemplo, o quadro Andrômaca desmaiando ao saber da morte de Heitor, atribuído a Cornelis van Haarlem. A cena pintada é um episódio da Guerra de Tróia.

Azay-le-Rideau

Antichambre (Ante-câmara)
Outro cômodo muito comum em castelos e palácios de prestígio. A função dele era deixar esperando as pessoas que iam ver o proprietário, e, mais ainda, aquelas que ele não queria receber.

Antichambre

Nas paredes, vemos retratos dos reis da França, do Renascimento ao século XVII. Eles nos dão uma ideia de como era a rica coleção de retratos dos marqueses de Biencourt. À esquerda da lareira, da esquerda para a direita, vemos: Louis XII, François I, Henri II e Henri III. De frente para a lareira, representados em pé, estão: Henri IV, Louis XIII e Louis XIV.

Azay-le-Rideau

Chambre du Roi (Quarto do Rei)
Foi aqui que Louis XIII passou duas noites em 1619. A riqueza da decoração reflete o prestígio deste quarto. À esquerda da lareira, um pequeno gabinete é realizado em madeira de pereira com gavetas decoradas com placas de marfim e de osso.

Chambre du roi

Os motivos deste móvel retratam a Guerra dos Trinta Anos, que ocorreu durante o reino de Louis XIII. Já na porta do seu nicho central, está uma cena bem mais leve, que se inspira em uma gravura da obra La Suite des Quatre ges de l’Homme (A Sequência das Quatro Idades do Homem), de Abraham Bosse, um gravador da região nascido em 1602.

Azay-le-Rideau

Nas paredes estão belas tapeçarias do século XVII, realizadas de acordo com os desenhos de Simon Vouet, um dos maiores artistas da época. Elas retratam dois episódios de Gerusalemme liberata, (A Jerusalém Libertada), de 1581, epopeia de Torquato Tasso, poeta italiano do Renascimento.

Simon Vouet

Térreo

Salon Biencourt
Este cômodo retrata um salão aristocrático do século XIX, tempo em que os Biencourt moravam no castelo. A decoração mostra o gosto deles pelo ecletismo. Móveis de grande qualidade tornam o lugar sofisticado e, ao mesmo tempo, acolhedor. Uma grande lareira guarda a data de 1856 e as iniciais de Edmond Lechevallier-Chevignard, famoso pintor, decorador e gravador do século XIX.

Salon Biencourt

Uma estátua equestre de Louis XII em bronze dourado é o destaque desta sala. Ela foi comprada em Paris por Armand de Biencourt e adquirida pelo Centre des Monuments Nationaux (CMN) em 2016 das mãos dos descendentes dos marqueses.

Estátua Louis XII

No salão estão também retratos em volta da lareira, que são mais um exemplo da rica coleção que os marqueses mantinham. Eles foram adquiridos e restaurados pelo CMN nos últimos anos e puderam voltar aos seus lugares originais, como era nos tempos dos Biencourt.

Azay-le-Rideau

Os antigos proprietários de Azay eram amantes e colecionadores dos mais variados tipos de arte. Os pratos de porcelana da Compagnie des Indes (Companhia das Índias), presentes neste salão, são um exemplo da diversidade de suas coleções, que contribuíram para a reputação do castelo no século XIX.

Azay-le-Rideau

Billard (Bilhar)
Junto com o Salon, descrito acima, o Billard formava um espaço único para diversão entre os donos do castelo e seus amigos. O bilhar era uma das diversões preferidas da grande burguesia e dos nobres no século XIX. E não era diferente com a família Biencourt.

Billard

Os objetos relacionados ao jogo foram restaurados e alguns móveis foram colocados ali pelo Mobilier National em 2017. No centro do cômodo, uma bela mesa de bilhar. Assim como em outras salas do castelo, os lambris foram inteiramente restaurados e restituídos.

Azay-le-Rideau

Para completar a decoração, aqui está mais uma parte da coleção de retratos dos marqueses de Biencourt: Erasmo de Rotterdã, Racan (poeta da região), Cinq-Mars, que era o favorito de Louis XIII, são retratados em obras dos séculos XVI e XVII.

Retrato de Erasmo de Rotterdã
Retrato de Erasmo de Rotterdã

Em frente à lareira, uma obra de Jan Massys mostra Psiquê levando para Vênus o vaso de Proserpina. Assim como os retratos, esta obra ficava neste mesmo cômodo no século XIX. O busto em mármore do rei Henri IV também faz parte das obras de arte desta sala.

Azay-le-Rideau

Dépense (Despensa)
Era um espaço essencial em Azay-le-Rideau: era ali que eram guardados os utensílios de cozinha e a comida. A disposição que vemos hoje foi realizada principalmente segundo o inventário de Dame Guillet, que trabalhou na cozinha dos marqueses em 1809.

Despensa

O conjunto de utensílios leva as armas dos Biencourt e foi adquirido pelo CMN em 2012. A mesa de trabalho permite ao visitante ter uma ideia de como era o trabalho doméstico em um castelo durante o século XIX.

Azay-le-Rideau

Cuisine (Cozinha)
A cozinha é adjacente à despensa: no Renascimento, elas eram os serviços do castelo. Durante o século XIX, o nível desses dois cômodos foi elevado. A coleção dos móveis é do século XVI, mas a arrumação da cozinha atual retrata os tempos dos Biencourt.

Cozinha

Azay-le-Rideau

Salle à Manger (Sala de Jantar)
Este cômodo é arrumado como se a família fosse entrar ali a qualquer momento para fazer suas refeições. A toalha tem os emblemas dos marqueses. O serviço de jantar é em prata e data dos séculos XVII e XIX.

Sala de jantar

Porcelanas da Manufacture Percier et Feuillet, de 1850, e das Compagnies des Indes e taças de cristal da cristalaria Saint-Louis são alguns dos símbolos que mostram o modo de vida luxuoso que os marqueses de Biencourt levavam.

Jogo de jantar

Passage
É uma passagem estreita, abobadada com arcos de volta perfeita, que no século XVI se abria para o pátio principal e o ligava aos jardins. O compartimento de uma das abóbadas tem o emblema de Gilles Berthelot, o proprietário na época do Renascimento, desenhado com delicadeza nas folhagens.

Passagem

Azay-le-Rideau

Salon-Bibliothèque (Salão Bibilioteca)
O ambiente aqui é íntimo e aconchegante. Já o mobiliário favorece o lazer e reuniões entre amigos e a vida em família dos marqueses de Biencourt. Vemos aqui mesas de jogos, um pequeno móvel para guardar partituras, estantes, escrivaninha, além de confortáveis sofás, poltronas e cadeiras, estes últimos do começo do século XIX. A disposição dos móveis e objetos no salão segue um inventário realizado em 1854.

Biblioteca

Candelabros, vasos e outros belos objetos completam a decoração. Assim como nos outros cômodos, as cortinas foram reconstituídas pelo Mobilier National de acordo com documentos antigos.

Azay-le-Rideau

Segundo andar

Grand Comble (Grande Sótão)
O porão aqui é do estilo chamado “à surcroît”, o que significa que as paredes que suportam o vigamento se elevam acima da plataforma, o que permite ter mais espaço interior. O mais incrível é que a estrutura é a original do século XVI: o corte do carvalho foi autorizado pelo rei Franços I na floresta de Chinon.

Comble

Outra curiosidade é que o sótão é o lar de morcegos, que recebem uma atenção especial em Azay-le-Ridau. Essa parte do castelo foi aberta para visitação em 2011 e passou por uma grande restauração entre 2015 e 2017.

Azay-le-Rideau

Jardin des Secrets (Jardim dos Segredos)
No século XIX, aqui ficava a horta dos Biencourt. Hoje o espaço é um jardim onde as flores e ervas aromáticas são arrumadas em canteiros como no Renascimento. Outra curiosidade deste belo espaço é que ele também tem o papel de um conservatório, pois ali são cultivados legumes antigos da região Centre-Val-de-Loire, onde fica Azay-le-Rideau.

Jardin des Secrets

Azay-le-Rideau

Frutas

Azay-le-Rideau

Jardin du Prieuré (Jardim do Priorado)
Este jardim tem esse nome porque aqui antigamente ficava um priorado. A transformação deste espaço em jardim inglês foi obra de Charles Biencourt, no começo do século XIX.

Azay-le-Rideau

Parc (Parque)
É a continuação da visita. O parque de estilo romântico que vemos hoje foi imaginado pelos Biencourt no século XIX, embora atualmente seja menor. A moda na época era que os parques e jardins tivessem o estilo inglês, isto é, que fossem mais irregulares e de aspecto mais natural. E o de Azay-le-Rideau foi realizado com essas características, aos poucos, pelos marqueses de Biencourt.

Parque do castelo

Azay-le-Rideau

Em 2014, o parque também fez parte da grande restauração da propriedade. As coleções botânicas foram renovadas, assim como o passeio em torno do castelo e do espelho d’água. Uma atenção importante foi dada à preservação da flora e fauna locais.

Espelho d'água

Azay-le-Rideau

Andar pelo parque de Azay é agradável e oferece belas vistas do castelo. Quanto mais nos afastamos dele, mais a vegetação parece abundante e “desarrumada”. Ali na propriedade também está a Île de la Rémonière, que também podemos percorrer graças à instalação de uma passarela. O parque todo é um percurso de sonho, com variações mágicas de verde, luz e água.

Île de la Rémonière

Azay-le-Rideau

Espace d’Interprétation – Antigo Pressoir
Pressoir significa prensa. Aqui no caso trata-se da construção onde ficava uma prensa. Este edifício foi restaurado também em 2014 e hoje abriga um centro dedicado à história de Azay-le-Rideau. Maquetes, vídeos, exemplos de materiais e explicações, tudo possibilita ao visitante conhecer a história do castelo desde a sua primeira construção até a última restauração, de maneira interativa e com riqueza de detalhes.

espace d'interprétation

Azay-le-Rideau

Château d’Azay-le-Rideau
19, rue Balzac
37190 – Azay-le-Rideau
Horários – De outubro a março: das 10h às 17h15. Abril, maio, junho e setembro: 9h30 às 18h. Julho e agosto: 9h30 às 19h. Fechado em 1 de janeiro, 1 de maio e 25 de dezembro.
Tarifas: 11,50 euros. Grupos: 9 euros. Gratuito para menores de 26 anos europeus ou que vivam de maneira regular em território francês. Gratuito para todos os menores de 18 anos.
Visitas guiadas gratuitas todos os dias em francês e no verão também em inglês.
Para mais informações, consulte o site oficial do castelo.

Azay-le-Rideau

Como ir até Azay-le-Rideau – Em Paris, na estação Montparnasse, você pega o trem para Azay-le-Rideau. A viagem dura entre duas e três horas (depende do número de correspondências). Para saber horários e preços, acesso o site da OUI.sncf, a companhia de trens francesa.

Espelho d´água

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

Comentário (1)

  • Direto de Paris - Jornalismo em Paris Responder    

    10 de maio de 2021 at 22:42

    […] Para ir da estação até o castelo não é tão perto: são 30 minutos andando, uma parte do tempo ao lado de uma via expressa. Mas não é cansativo, pois o caminho é praticamente plano. Só tem que ficar de olho nos horários do trem na volta. Se quiser saber mais, veja a matéria daqui do blog sobre o Château de Azay-le-Rideau […]

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