Yerres

Yerres – um mergulho no impressionismo de Caillebotte

14 de junho de 2014

Last Updated on 17 de setembro de 2021 by Renata Rocha Inforzato

Yerres é uma cidade situada a 23 quilômetros de Paris, no departamento de Essonne. Ela seria um município como tantos outros da Île-de-France, com seus prédios históricos, lindas casas e praças, se não fosse por um fato: foi ali que, em 1860, o pai do pintor impressionista Gustave Caillebotte escolheu para ter sua casa de campo e isso vai mudar para a sempre a história da pintura francesa.

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O lugar escolhido por Martial Caillebotte fica às margens do rio Yerres, em uma área verde de 11 hectares, que circunda uma casa de arquitetura renascentista no estilo italiano, bem na moda do século XIX.

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Na verdade, a residência foi construída pouco antes de 1800. Mais ou menos em 1830, Pierre Frédéric Borrel, proprietário do então famoso restaurante Au Rocher de Cancale, compra a propriedade. Ele instala no parque uma série de “fabriques”, ou seja, uma série de construções e ornamentos, como, por exemplo, a Orangerie em estilo Neoclássico, um quiosque, uma glacière (lugar onde se estocava gelo), uma êxedra greco-romana enfeitada com bustos, uma cabana e uma pequena fazenda. Ele fica tão entusiasmado que abre a propriedade para os habitués de seu restaurante.

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Porém, em 1848, Borrel vai à falência e vende o lugar para Madame Biennais, viúva do ourives preferido de Napoleão I. Ela mantém as construções do antigo proprietário e utiliza o local até a morte. Em 1860, Martial Caillebotte compra a propriedade para fazer dali sua casa para temporadas de primavera/verão.

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O pai de Gustave havia feito fortuna com sua empresa, Le Lit Militaire, que fornecia roupa de cama para o exército francês. Numa época cheia de guerras como a metade do século XIX, era um negócio e tanto. Assim, monsieur Caillebotte conserva as construções do domínio e ainda constrói mais: um grande viveiro em tijolo e madeira, um lavoir, lugar para lavar roupa, alimentado pelas águas do Yerres, um chalé em estilo suíço, um embarcadouro e até uma capela, chamada Notre-Dame-du-Lierre. Além de aumentar o jardim/horta e construir novos canteiros e alamedas no parque.

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Morando em Paris boa parte do ano, a família usava a casa de Yerres para passar as temporadas de primavera e verão. Na ocasião, um verdadeiro exército de empregados seguia os patrões. Toda essa movimentação provoca uma influência decisiva no jovem Gustave, então com 12 anos. O então menino adorava brincar ali com seus irmãos Eugène e Martial.

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É ali em Yerres que acontece o começo da sua carreira de pintor. Encantado com a natureza e a luz do lugar, ele faz mais de 80 telas retratando o local entre 1875 e 1879. Tudo vira tema de suas obras: o lazer nas margens do Yerres, o reflexo e movimento nas águas do rio, o jardin potager (jardim/horta), a casa, as ocupações domésticas da família e empregados. É o contraponto das cenas urbanas que ele pinta em Paris, onde passa o resto do ano.

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São essas temporadas em Yerres que vão determinar boa parte das características da obra de Gustave Caillebotte: cenas “banais” pintadas em grandes formatos, com ângulos diferentes e nas quais a luz exerce uma grande influência. Características que o inscreveriam no círculo dos impressionistas e que provocariam o horror da crítica, já que grandes formatos eram reservados para a pintura de História ou com temas mitológicos.

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É também ali que o jovem vai descobrir outra paixão: a vela. De fato, Caillebotte também será velejador, desenhando ele mesmo seus barcos e os mandando construir.

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Martial Caillebotte, o pai, morre em 1874. Gustave, então com 26 anos, fica próximo do irmão Martial, músico e fotógrafo amador. Em 1879, após a morte da mãe, resolvem vender a propriedade e dois anos depois se instalam no Petit-Gennevilliers. As águas do Yerres saem de cena na obra do pintor e é a vez das margens do Sena, em Argenteuil.

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Apesar do grande talento de Caillebotte, ele é mais lembrado por seu papel de mecenas. Herdeiro de uma grande fortuna, ele compra obras dos seus amigos impressionistas Monet, Renoir, Sisley, Manet, Pissarro, Morisot, Degas… Suspeitando de que iria morrer cedo, ele encarrega seu irmão Martial e Renoir de doar 70 obras para o Estado Francês (nenhuma feita por ele). Quando Gustave morre em 1894, aos 45 anos, seu pedido é atendido, porém o governo da França recusa a doação. Depois de muita insistência somente uma quarentena de obras é aceita e hoje compõe parte do acervo do Musée D’Orsay.

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Depois dos Caillebotte, a propriedade é vendida outras vezes. Até que, em 1973, é comprada pela cidade de Yerres e é aberta ao público. Em 1995, o lugar é restaurado e a pequena fazenda torna-se um espaço para acolher exposições, sempre relacionadas ao pintor. Desde 2012, a propriedade Caillebotte tem a denominação Maison des Illustres, dada pelo Ministério da Cultura e Comunicação francês.

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Hoje o parque tem 7 hectares no lugar de 11. Mas tem quase a mesma aparência da época do pintor. É um lugar muito bonito e agradável para passear nos dias de primavera, verão e até no outono. A maioria dos frequentadores ainda é formada por pessoas que moram na região, mas, pouco a pouco, o lugar torna-se mais conhecido pelos turistas. Abaixo, algumas atrações para se ver na propriedade.

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O Casin – A casa tem esse nome porque casin em italiano significa pequena casa de campo. Possui arquitetura de inspiração renascentista e decoração neoclássica. Uma das fachadas é composta por uma série de colunas. O estilo lembra as villas italianas.

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O interior da residência não está reconstituído como na época de Caillebotte. Há uma sala que mostra uma maquete da cidade de Yerres, outra que fala da casa na época do pintor e mais outra que mostra um filme sobre o artista. Mas, de acordo com a prefeitura, a intenção é decorar o interior como na época em que Caillebotte vivia lá, colocando nas paredes reproduções de suas obras.

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La Ferme Ornée (fazenda) – Hoje é lugar de exposições (pagas). Atualmente cerca de 40 obras de Caillebotte estão expostas, quase todas realizadas em Yerres. É um evento único, pois muitas delas vêm de coleções particulares e é praticamente a primeira vez que participam de uma exposição. Vai até 20 de julho e é imperdível para quem gosta de Impressionismo.

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La vollière (viveiro) – Tem a mesma aparência da época de Caillebotte. Vários pássaros diferentes. Eles circulam de um lado a outro e fazem a alegria da criançada, embora o espaço não seja muito grande.

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L’exèdre (êxedra) – Na Antiguidade era um espaço de reunião de forma semicircular. Construída pelo antigo proprietário, Pierre Borrel, acentua mais ainda o ar clássico da propriedade.

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Quiosque/Glacière – em um pequeno mirante, Borrel constrói um quiosque em estilo chinês. Embaixo, a alguns metros da superfície do parque, ele faz uma glacière, ou seja, um lugar para estocar gelo.

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O gelo era estocado aqui, nos subterrâneos

O parque – Chegou a ser ocupado por tropas prussianas e danificado em 1870. Mas Martial Caillebotte o restaurou. É muito bonito, com alamedas, flores e vários tipos de árvores. Várias dessas árvores recebem o nome de crianças, em um projeto recente da prefeitura. Há vários espaços para os pequenos brincarem e pode-se fazer um piquenique no gramado.

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Passeios de barco – A partir de abril, no embarcadouro no fundo da propriedade, nas margens do Yerres, pode-se passear de barcos a remo. São canoas verdes, como aquelas que são presentes nos quadros de Caillebotte. É bem legal, pois a gente tem a impressão de voltar no tempo e de poder encontrar, a qualquer momento, o próprio artista ali.

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A capela – Alfred Caillebotte, filho do primeiro casamento de Martial Caillebotte (pai), era padre. Então, uma capela com arquitetura entre o Românico e o Gótico é construída para abrigar as celebrações privadas para a família e amigos. Atualmente, não podemos entrar na construção, pois ela está em restauração.

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Jardin/Potager – Foi uma das partes que achei mais legal. O jardim foi feito por Borrel e aumentando por Martial Caillebotte. Ele figura em várias obras de Caillebotte. Além de flores, há várias plantas medicinais, legumes e hortaliças, que são cultivados como na época do pintor por uma equipe de voluntários da associação Potager Caillebotte.

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Nós podemos inclusive levar algumas mudas, colocadas à disposição dos visitantes. Em troca, se você quiser, pode deixar qualquer valor para ajudar na conservação do lugar. O universo do pintor é reproduzido aqui, principalmente o pequeno tanque com rãs, que faz a alegria da criançada.

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Orangerie – Construída por Borrel em estilo neoclássico. Hoje abriga um espaço de exposições gratuitas. Várias cadeiras ficam ali ao lado para se apreciar a vista do parque, bem ao estilo dos parques parisienses, como o Jardin du Luxembourg, por exemplo.

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Chalé Suíço – Tem a arquitetura de um chalé de montanha. Na época de Caillebotte, o lugar abrigava a leiteria. Hoje vemos o L’Orée du Parc, restaurante e salão de chá. O preço não é barato, mas a cozinha tem o melhor da gastronomia francesa. E os doces também não ficam atrás.

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Então, se você estiver em Paris, tem tempo e é fã do impressionismo, não deixe de visitar a propriedade Caillebotte. É um passeio para a toda família e muito gostoso, principalmente em um domingo de sol.

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A Cabana

Propriété Caillebotte
8, rue de Concy
91330 Yerres
Horários: de 1º de abril a 31 de maio, todos os dias, das 9h às 20h30.
De 1º de junho a 31 de julho, todos os dias, das 9h às 21h.
De 1º de agosto a 30 de setembro, todos os dias, das 9h às 20h.
De 1º de outubro a 31 de março, todos os dias, das 9h às 18h30.
Gratuito.
Pode-se alugar um tablete (5 euros) ou fazer download da aplicação no lugar (gratuito).
Horários da Glacière: de 1º de outubro a 31 de março, domingos de 15h às 15h30 e das 16h30 às 17h. De 1º de abril a 30 de setembro, sábados e domingos, das 15h30 às 16h e das 17h às 17h30.

Centro de Arte e exposições La Ferme Ornée
Horários: Terça a domingo, das 14h às 18h30 (na época de exposições temporárias).
Tarifa: depende da exposição.
Casin (a casa do pintor) – de 24 de março a 24 de novembro, de terça a domingo, das 14h às 18h30.
De 25 de novembro a 23 de março, sábados e domingos, das 14h às 18h30.
Tarifa: 8 euros./ Junto com a Ferme Ornée: 10 euros.
Gratuito para menores de 16 anos.

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Jardin Potager
Horários – De 7 de abril a 20 de outubro: sábados, abertura às 15h e às 16h. Domingos, aberto das 15h às 17h30. Gratuito.

Restaurante L’Orée du Parc: Almoço – de terça a domingo, a partir de 12h15. Jantar – de quinta a sábado, a partir das 19h30.
Salão de Chá: De terça a sábado, das 15h às 18h.

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Passeios de barco: a partir da segunda semana de abril e maio, fins de semana e feriados, das 15h às 19h.
Maio a julho, finais de semana e feriados, das 15h às 19h.
Agosto, de terça a domingo e feriados, das 15h às 19h.
Setembro, finais de semana e feriados, das 15h às 18h.
Tarifas: barco para 4 pessoas: 5 euros (30 minutos), 9 euros (1 hora)
Canoa para 3 pessoas: 4 euros (30 minutos) e 7 euros (1 hora).
Informações: (33)6 19 37 43 24 (para ligar da França, tirar o 33 e colocar 0).

Como ir a Yerres:
A partir de Paris, pegar o RER D e descer em Yerres
A propriedade fica cerca de 10 minutos a pé.
A viagem de trem dura 20 minutos
Mais informações, consulte o site da RATP

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

Comentários (16)

  • Monica Toledo Responder    

    17 de junho de 2014 at 16:00

    Uma delícia de texto. O passeio deve ser incrível e tão perto de Paris! Já está na minha lista.

  • Nilza Freire Responder    

    17 de junho de 2014 at 21:28

    Renata, adorei a matéria, informações e fotos preciosas! Muito obrigada!

  • Susanne Pevec Responder    

    4 de outubro de 2014 at 18:40

    Renata muito interessante este artigo sobre um outro impressionista. Confesso que desconhecia este artista. Uma otima dica de passeio. Caso vc consiga expor alguns dos belos quadros dele eu adoraria vê-los! Um abraço Susanne

    • Renata Inforzato Responder    

      6 de outubro de 2014 at 19:39

      Oi Susanne. Quando fui em Yerres tinha uma expo com os quadros dele, mas não podia fotografar. Mas digita no google Caillebotte que vc vai ver. São lindos. Obrigada por comentar, um beijo

  • Marilda Teixeira Responder    

    26 de agosto de 2015 at 2:43

    Ah, Renata, pena q esse seu post tenha sido publicado um mês depois da minha viagem à França (no ano passado) pois eu teria ido lá, com certeza. Gosto muito das pinturas de Caillebotte. E o lugar é tão bonito…
    Vou guardar esse seu texto para um dia, quando eu voltar.
    Bj grande

    • Renata Inforzato Responder    

      27 de agosto de 2015 at 0:31

      Oi Marilda, com certeza vai dar pra vc ir na próxima. E tenho certeza de que vc vai adorar. Um beijão

  • Direto de Paris - Jornalismo em Paris Responder    

    26 de julho de 2017 at 2:43

    […] Yerres, fica a residência de infância dos irmãos, conhecida como Propriété Caillebotte. A família era razoavelmente abastada e morava em um palacete cercado por um belo parque. A […]

  • Ricardo Responder    

    20 de fevereiro de 2018 at 22:37

    Amei o texto. Muita informação que nem mesmo moradores locais conhecem. Show!!

  • Egle Pires O.Dias Responder    

    28 de março de 2018 at 1:48

    Irei a Paris em 24 de abril e fico até junho e vou fazer esse passeio que vc recomendou,deve ser lindo.Obrigada

  • Direto de Paris - Jornalismo em Paris Responder    

    25 de maio de 2018 at 8:59

    […] o precursor do Impressionismo Daubigny (1878, 24ª) e os impressionistas Pissarro (1903, 7ª) e Gustave Caillebotte (1894, 70ª divisão), além de outros nomes famosos da pintura, como Marie Laurencin (1956, 88ª) […]

  • Isabela Responder    

    3 de dezembro de 2018 at 16:48

    Renata, gostei muito deste artigo. Tenho um prato de porcelana pintado (casal patinando em um rio congelado), com assinatura de N.Martial, que era da minha avó. Estou tentando achar mais informações sobre ele. Vc teria como me ajudar? Obrigada. Isabela

    • Renata Rocha Inforzato Responder    

      19 de janeiro de 2019 at 16:01

      Oi Isabela. É difícil saber assim. Melhor você procurar algum especialista perto de você e mandar avaliar o prato. Um abraço

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