Nancy

Quatro museus em Nancy para enriquecer sua viagem

3 de maio de 2016

Last Updated on 27 de agosto de 2019 by Renata Rocha Inforzato

Depois de um tempo sem escrever, por causa das mudanças do blog, aqui estou de volta. E desta vez para falar dos museus de Nancy. Engana-se quem pensa que, na França, só em Paris é que podemos ver obras-primas. Não! Elas estão espalhadas por todo o país e na capital da Lorraine não é diferente. E, neste post, você vai encontrar várias delas.

museus em Nancy
Musée des Beaux-Arts

Durante a minha estadia na cidade, pude visitar seus principais museus. E neles você vê o quanto a região foi importante para a arte, principalmente para o movimento de Art Nouveau. Mas também há obras de artistas de outras regiões e períodos e isso tudo faz de Nancy um ótimo destino para quem gosta de arte e cultura. Então, vamos aos museus.

museus em Nancy
Musée de l’École de Nancy

1) Musée des Beaux-Arts de Nancy – É o mais antigo da cidade, pois foi fundado em 1793. Na verdade, os revolucionários procuravam um lugar para proteger, guardar e expor as obras confiscadas durante a Revolução Francesa. Primeiro, o acervo vai para a Chapelle de la Visitation (que hoje faz parte de uma escola).

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Em 1814, o museu se muda para a Place Stanislas, no antigo pavilhão do Collège Royal de Médecine et de Chirurgie (Escola Real de Medicina e Cirurgia), edificado por Emmanuel Héré, em 1755, ao mesmo tempo que a place. Em 1829, ocupa uma parte do Hôtel de Ville (prefeitura) ali do lado. Até que em 1936, volta para o pavilhão, onde está até hoje.

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Três ampliações, em 1936, em 1999 e em 2011, dão o espaço que o museu precisa para abrigar um percurso que passa pelas correntes artísticas do século XIV até os dias de hoje, em pintura, escultura e artes gráficas.

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Para quem gosta de História da Arte, ali é o espaço perfeito. Há obras de artistas italianos como Perugino, Tintoret, Guido Reni, Pietro da Cortona, Luca Giordano, etc, além de uma das últimas obras de Caravaggio.

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Caravaggio, L’Annonciation, 1607-1610
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Giorgio Vasari, La Sainte Trinité, cerca de 1558

Já os fãs da chamada Escola do Norte (obras da Alemanha, Holanda e Bélgica), que é a minha preferida, encontramos Rubens, Jacob Jordaens, Jan II Brueghel (também conhecido como O Jovem), entre outros.

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Peter Paul Rubens, La Transfiguration, 1604-1605
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Jacob Jordaens – Têtes de vieilles dames, 1620

A maior parte do acervo é composta por trabalhos de artistas franceses. Há obras de Simon Vouet, François Boucher, Philippe de Champaigne, Carle van Loo, Charles Le Brun, Edouard Manet, Claude Monet, Pierre Bonnard e outros ainda. Um dos mestres, Eugène Delacroix, está presente com um tema bem local: a batalha de Nancy.

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Eugène Delacroix – La Bataille de Nancy, 1829-1833
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Claude Monet – Coucher de soleil à Étretat, 1883

Claro que os artistas locais não poderiam ficar de fora. Há o famoso Le Lorrain (Claude Gellée), Charles Sellier, e vários outros. Duas grandes surpresas para mim foram as obras de Émile Friant e dos irmãos Léon e Jules Voirin, artistas que viveram na região. Aliás, a coleção de cadernos de desenhos que os irmãos Voirin fizeram é maravilhosa

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Jules Voirin – Coin de Jardin, após 1850
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Jules e Léon Voirin, Scènes de la vie quotidienne
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Émile Friant – Les amoureux, 1888

Já que falamos em Monet e Manet, o acervo comporta várias obras do Impressionismo e também de outras correntes do final do século XIX e começo do XX, de pintores franceses e estrangeiros. Amedeo Modigliani é um exemplo.

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Amedeo Modigliani – Femme blonde (portrait de Germaine Survage), 1918

Encontramos ainda obras de Matisse, Andre Derain, Picasso, Suzanne Valadon, Lucien Freud, só para citar alguns do século XX.

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Pablo Picasso – Homme et femme, 1971
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André Derain – La Blonde, 1928

Da mesma época, final do século XIX e primeiras décadas do XX, está presente a École de Nancy, uma associação de artistas que viviam e trabalhavam na cidade e que pertenciam ao movimento da Art Nouveau. Além dos já citados Émile Friant e os irmãos Voirin, encontramos trabalhos de Victor Prouvé, André Morot, etc. Aliás, Prouvé foi um dos artistas encorajados pela própria cidade de Nancy, que comprou várias obras suas desde o começo da sua carreira, no final do século XIX.

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Victor Prouvé – Les voluptueux, 1889

Em escultura, o destaque vai para duas obras de Rodin, algumas de Aristide Maillol, entre outras de variados artistas. Em artes gráficas, várias gravuras de Luca Giordano, Nicolas Poussin, só para citar dois mestres.

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Auguste Rodin, Psyché transportée par la Chimère, 1907
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Aristide Maillol – Jeunesse, 1910

O acervo de arte de obras a partir da segunda metade do século XX também é bem interessante. O destaque aqui, para mim, vai para a obra de Yayoi Kusama com seu Pièce avec une infinité de mirroirs et de lucioles sur l’eau (Peça com um infinidade de espelhos e de pirilampos na água, em tradução literal). Nele, você entra numa espécie de cabine e vai literalmente dentro da obra. E cada um tem sua percepção: para mim, foi bem psicodélico e me deu a dimensão de infinito e de aventura.

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Yayoi Kusama – Pièce avec une infinité de miroirs et le lucioles sur l’eau, 2000

Outra obra interessante dessa parte do museu é a Voyage organisé sur l’Adriatique, de Erik Dietman. Nela, um container usado e enferrujado abriga uma série de caveiras, todas feitas com cristais de Murano. É bem interessante e a gente não imagina que o material dos crânios é tão valioso

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Erik Dietman – Voyage organisé sur l’Adriatique, 1999

Mais três curiosidades do museu:
Primeira, no subsolo há os vestígios de fortificações construídas entre os séculos XV e XVII, que mostram a evolução do sistema defensivo de Nancy. Essa parte do museu pode ser visitada e ainda abriga a coleção de objetos em vidros e cristais Daum. A fábrica Daum foi criada em 1878 por Jean Daum, um francês que foge da Alsace quando esta é anexada pela Prússia (1871).

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No final do século XIX, um de seus filhos, Antonin Daum, cria um departamento artístico e peças são realizadas com a colaboração de artistas, desde o movimento da Art Nouveau até praticamente boa parte do século XX. Salvador Dali, por exemplo, colaborou com algumas peças. Ao todo, o museu possui cerca de 800 objetos da fábrica, que são expostos em turnos.

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Outra curiosidade do acervo é a coleção deixada por Charles Cartier-Bresson, tio-avô do famoso fotógrafo. Rico industrial e apaixonado pelo Extremo Oriente, ele reúne uma coleção variada de objetos dessa região. Depois de sua morte, uma parte dela é doada ao museu de Beaux-Arts de Nancy (1936). Assim, podemos ver vários itens, como cerâmicas, objetos e móveis laqueados, espadas, etc. É uma parte bem interessante.

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E, para terminar, ainda tem a área dedicada a Jean Prouvé, filho de Victor Prouvé. É a mais importante coleção deste arquiteto e designer, que viveu na região. Há peças de mobiliário e outros elementos de arquitetura que mostram como era o processo criativo do artista. Também há obras de alguns de seus contemporâneos, o que nos dá uma ideia do que foi a arquitetura e o design da segunda metade do século XX.

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Jean Prouvé – Projet d’hôtel circulaire pour la station Les Arcs 2000, 1970

Musée des Beaux-Arts de Nancy
3 Place Stanislas
54000 Nancy
Horários: de quarta a segunda, das 10h às 18h
Tarifas: 6 euros. Reduzida 4 euros (visitantes até 25 anos e maiores de 65). Crianças até 12 anos não pagam.

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2) Musée Lorrain – Foi criado em 1850 pela Société d’Archéologie Lorraine (Sociedade de arqueologia). Inicialmente, ele ocupava somente o Palais Ducal, construído no final do século XV. Hoje, o Convent des Cordeliers, a igreja de mesmo nome e o Palais du Gouvernement também fazem parte do museu.

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Ele abriga mais de 155 mil objetos, entre arqueológicos, históricos, artísticos e etnológicos, encontrados ou fabricados na região. O destaque maior vai para o período entre os séculos XV e XVIII, que corresponde ao auge do ducado da Lorraine.

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O museu, que está em plena restauração, propõe cinco percursos, que podem ser realizados em qualquer ordem. O primeiro deles é o Percurso Histórico, que vai desde os objetos encontrados em escavações arqueológicas na região (há até coisas da Pré-História) até a situação da cidade após as guerras mundiais.

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Quarto do duque

É nesse percurso que encontramos os objetos da época dos duques da Lorraine, como o gabinete científico de Stanislas, o último duque, com o microscópio que ele ganhou de Louis XV, que era seu genro. Há também muitas alusões históricas sobre a trajetória de cada duque, com muitos objetos usados por eles.

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Jean Girardet – Portrait de Stanislas Leszczynski, 1750

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O segundo percurso é sobre os homens e o trabalho. Mostra as profissões e recursos da região. Há trabalhos em metal, vidro, cerâmica, madeira, tecidos, etc, que mostram o savoir-faire da Lorraine. Gostei muito de ver as porcelanas e cerâmicas das fábricas locais.

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O terceiro percurso é sobre a vida artística e intelectual da região. Como o nome diz, ele trata das obras dos artistas da Lorraine. Há pinturas com retratos dos duques, paisagens, cenas do cotidiano. Aqui vão alguns destaques.

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Jean-Baptiste Claudot – Le bastion des Michottes, 1801

Um deles é que podemos encontrar no museu obras de Georges de la Tour ou de seu ateliê. O mestre do barroco francês era da cidade de Vic-sur-Seille, ali na região.

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Georges de La Tour (ou atelier de) – La Madeleine au miroir, Primeira metade do século XVII

Outro destaque é no domínio das artes gráficas. No Musée Lorrain, há um acervo de 338 placas de cobre originais de Jacques Callot, artista que nasceu em Nancy no final do século XVI, fora a coleção com suas gravuras.

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É também neste percurso que estão as esculturas, incluindo aquelas que fazem parte dos túmulos da nobreza da região e que estão na Église des Cordeliers (que faz parte do museu). Sobre essas esculturas funerárias, já falei aqui neste post sobre as igrejas de Nancy.

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O quarto percurso é dedicado aos homens e seus territórios. Esta parte é bem interessante, pois nela estão os objetos presentes na vida cotidiana na cidade e no campo. Há reconstituições de ambientes, como, por exemplo, de uma cozinha típica da região ou de um quarto. O período abordado é, principalmente, entre o final do século XVIII e final do XIX.

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O quinto percurso é sobre a vida espiritual da Lorraine. Aqui há uma coleção de objetos católicos, protestantes e até judaicos. São, por exemplo, vitrais, imagens e pinturas vindos das famílias e também de igrejas destruídas, sobretudo, durante a Revolução Francesa (no caso da religião católica).

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Saint Eloi, patrono dos operários na Lorraine

Apesar de possuir estes cinco percursos, as “atrações” de cada um estão misturadas por todo o museu. Então, se você quiser visitá-lo sem seguir nenhum percurso em particular, também é possível.

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Musée Lorrain
64 Grande rue
54000 Nancy
Horários: de terça a domingo, das 10h às 12h30 e das 14h às 18h.
Tarifas: 6 euros. Passe familia (a partir de um adulto e uma criança): 5,5 euros. Tarifa reduzida 4 euros (visitantes até 25 anos e com mais de 65 anos). Crianças até 12 anos não pagam.

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3) Musée de l’École de Nancy – Falei ali em cima sobre a École de Nancy. Vou explicar melhor o que é para que vocês possam entender um pouco mais sobre este museu. Em 1871, a Alsace a parte norte da Lorraine são anexadas à Prússia pelo Tratado de Frankfurt. Nancy continua na parte francesa. Por isso, a cidade recebe muitas pessoas vindas desses territórios anexados.

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Assim, Nancy tem um grande desenvolvimento econômico, que se reflete também na arte. No final do século XIX, há uma grande renovação nas chamadas artes decorativas: seria a Art Nouveau (arte nova, em tradução literal) e a cidade torna-se um dos mais importantes centros deste movimento artístico.

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A Art Nouveau valoriza as artes ditas menores (as artes decorativas) e tem como objetivo valorizá-las tanto quanto as artes conhecidas como maiores (pintura, escultura, arquitetura). Na verdade essa ideia de hierarquia da arte reflete muito a mentalidade que existia no mundo artístico desde alguns séculos. Mas os artistas da Art Nouveau combatiam essa ideia e, inclusive, se especializavam em várias técnicas, como em pintura, escultura e arquitetura. Eles faziam peças únicas, mas também objetos em série, seguindo a filosofia da “art pour tous” (arte para todos). E também trabalhavam em conjunto, como podemos ver nos vários ambientes que compõem o museu.

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Nesse móvel, de 1889, trabalharam Émile Gallé e Victor Prouvé. Esse é apenas um exemplo de como os artistas trabalhavam juntos

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A fonte de inspiração era, sobretudo, a natureza e, no caso dos artistas da Lorraine, a natureza da região, misturada com um certo fascínio pelo Oriente. Motivados pelo sucesso em Paris, principalmente nas Exposições Universais de 1889 e 1900, esses artistas “lorrains” decidem se reunir em uma associação. Então, em 1901, é criada a association École de Nancy ou Alliance Provinciale des Industries d’Art. O intuito era mostrar o dinamismo da produção artística da cidade e favorecer um ambiente para seu desenvolvimento.

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Vitral de Jacques Gruber – Colombe et Paon, 1904
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Eugène Vallin – banquette-bibliothèque au mineur, 1902

O termo indústrias de arte era inovador, mas mostrava bem o ritmo e a variedade da produção destes artistas e a sua colaboração com as forças de produção, como no caso da manufatura Daum, que contei mais acima. Muitos dos expoentes do movimento eram, inclusive, herdeiros de indústrias, como, por exemplo, o primeiro presidente da associação, Émile Gallé, que herdou o comércio de cristal, vidro e cerâmica do pai e se tornou especialista em objetos artísticos criados principalmente com estes materiais.

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Obras de Émile Gallé
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Émile Gallé – Vase Espoir, 1889

Assim, o Musée de l’École de Nancy é inteiramente dedicado a este movimento da Art Nouveau. A ideia de criar um museu dedicado a ele vem desde 1894, quando, após uma exposição de artes decorativas na cidade, o comitê de organização decide comprar 17 das obras expostas.

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Em 1901, uma seção de artes decorativas é aberta no Musée des Beaux-Arts de Nancy. Émile Gallé participa mesmo à seleção de suas obras para o museu. Em 1935, Eugène Corbin, um rico industrial e mecenas da Art Nouveau, doa para a cidade toda a sua coleção. No mesmo ano, as obras são levadas para as Galeries Poirel, que ganha o nome de Musée de l’École de Nancy. Quando Corbin morre, em 1952, a cidade compra sua casa e, após trabalhos no local, em 1964 é aberto o novo museu da École. Em 1966, a filha de Corbin doa o resto da coleção do pai e doações dos filhos e amigos dos artistas vêm enriquecer o acervo.

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Assim, ao chegarmos ao local, vemos que a própria construção é contemporânea das obras que abriga, pois foi construída em 1875, reformada em 1912 por um dos arquitetos da Art Nouveau, Lucien Weissenburger, e depois, em 1923, teve mais um anexo construído. Fora o baixo-relevo da fachada, obra de Auguste Vallin, também outro expoente do movimento.

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Entre o acervo, temos móveis, objetos de arte, de vidro, de cristal, de cerâmica, tecidos, etc, que mostram a diversidade das técnicas dos artistas da Art Nouveau. Vemos peças únicas e até aquelas feitas em série.

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As obras são dispostas de modo a nos possibilitar uma visita livre e que, ao mesmo tempo, nos faça penetrar na intimidade das objetos e do pensamento dos artistas. Vemos como são ecléticos através de vários tipos de obras que cada um fez. Por exemplo, Émile Gallé está presente com objetos em cerâmica e alguns móveis, fora o acervo com mais de 400 peças de seus trabalhos em vidro e cristal.

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Uma das coisas mais legais deste museu é a reconstituição de diversos ambientes. Há, por exemplo, a Chambre de Louis Majorelle. Outro grande nome da Art Nouveau, Majorelle era especialista na construção e decoração de móveis e objetos de madeira em geral (outro que herdou a atividade do pai).

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Piano feito por Auguste Majorelle, pai de Louis Majorelle, 1878

Neste quarto (chambre), o artista abusa dos motivos inspirados na natureza ao trabalhar a madeira e o resultado é de admirar. São móveis práticos, bonitos e que não deixam de ser aconchegantes. Faziam parte da Villa Majorelle e foram comprados pela cidade de Nancy das mãos do filho do artista.

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Também tem a Salle a Manger (Sala de Jantar) Masson. Foi realizada em 1904, por Eugène Vallin, para Charles Masson, cunhado de Eugène Courbin (que doou a coleção e era o dono da casa onde está o museu, lembra?). Mas os artistas não trabalhavam sozinhos na realização dessas encomendas. Para esta sala de jantar, Vallin contou com a colaboração de Victor Prouvé.

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Apesar de o museu não ser uma reconstituição exata de uma casa burguesa do começo do século XX, esses espaços nos dão uma ideia de como viviam essas famílias. E também temos uma noção de como era a atmosfera do período.

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Decoração anônima, 1900

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O museu tem também um jardim, realizado de acordo com as características da Art Nouveau. Mas já falei dele aqui neste texto sobre os Parques e Jardins de Nancy.

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Musée de l’École de Nancy
36-38 rue do Sergent Blandan
54000 Nancy
Horários: de quarta a domingo, de 10h às 18h.
Tarifa: 6 euros. Reduzida: 4 euros (estudantes até 25 anos e grupos de, no mínimo, dez pessoas. Gratuito para menores de 12 anos.

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Henri Bergé – Vitrail La Lecture

4) Villa Majorelle – Sabe o Louis Majorelle que falei ali em cima? Então, em 1898, ele decide construir uma Villa em Nancy. Para isso, contrata o arquiteto parisiense, também da Art Nouveau, Henri Sauvage, para fazer os projetos. O mestre de obra foi Lucien Weissemburger, também do movimento e o mesmo que restaurou a residência onde fica o museu de l’École de Nancy.

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Assim, a Villa Majorelle ou Villa JIKA (das iniciais de Jeanne Kretz, mulher de Majorelle) foi construída entre 1901 e 1902 e foi a primeira residência inteiramente Art Nouveau de Nancy.

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Em 1916, ela foi quase que totalmente destruída durante os bombardeiros feitos pelos alemães, durante a Primeira Guerra Mundial. Jacques Majorelle, filho do casal, escreve em uma carta: “A casa não é mais que um lamentável esqueleto”.

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Mas os danos são reparados. E a família reside no local até 1929, quando Louis Majorelle morre e a Villa é vendida ao Estado. Em 1996, o local é classificado como Monumento Histórico; em 1997, é aberta ao público; e, em 1999, começam os primeiros trabalhos.

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Finalmente, em 2007, a Villa é aberta para visitação aos finais de semana com visita guiada. Em 2011, ela recebe o selo Maison des Illustres, do governo francês, a fim de marcar as residências importantes para a história francesa. A partir de 2014, os trabalhos recomeçam e continuam até agora, em 2016.

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Por enquanto, somente o térreo e o ateliê do artista, no segundo andar, são visitáveis. O primeiro andar é ocupado com serviços da administração da cidade. Mas, nos próximos anos, a intenção é reconstituir toda a Villa e abri-la inteiramente ao público, fazendo dela um anexo do Musée de l’École de Nancy.

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A Villa Majorelle já impressiona do exterior. Mesmo tendo agora casas bem ao lado ela – na época do artista ela era cercada por um parque -, não dá para não distingui-la logo no primeiro olhar. Ela impressiona! Vamos aos detalhes da visita.

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As fachadas dão uma ideia de movimento e de volumes justapostos. Na fachada sul, se destaca a presença de uma bow window (espécie de janela saliente). Já na fachada norte, observamos, entre outras coisas, um terraço cujo gradil é decorado por uma obra de Alexandre Bigot em cerâmica. E na oeste, o que mais chama atenção, além do formato das janelas, é o fato de que cada uma delas é sublinhada por uma frisa em cerâmica, com o tema de orquídea, obra de Henri Sauvage. E A Villa possui um pequeno jardim.

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Fachada sul
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Detalhe da fachada norte
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Fachada oeste

Já na porta de entrada vemos o gosto artístico do proprietário. Considerada a alma da casa, é composta por uma porta de vidro e uma armação em ferro forjado, decorado por uma Monnaie-du-Pape (flor encontrada na Europa). Em cima, uma marquise metálica com decoração inspirada na natureza.

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Vestibule – espécie de prolongamento da porta de entrada, também tem decoração vegetal. Em frente a porta, um porta-casaco, em carvalho, com um espelho em cima. Este último provoca um grande efeito ao refletir a luz e as curvas da porta de vidro da entrada.

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Salle à manger (Sala de jantar) – sofreu poucas transformações desde a época de Majorelle. É o lugar mais bonito da Villa atualmente. O destaque é a imponente chaminé do centro, realizada em grés (tipo de cerâmica) e com desenhos de Alexandre Bigot. Ela separa a sala em dois espaços: a sala de jantar propriamente dita e o fumoir (fumódromo) ou espaço para o café, virado para o jardim.

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Na parede, uma frisa de Jacques Jourdain, com o tema de animais, frutas e legumes. O cômodo também apresenta decorações em madeira, realizadas por Majorelle.

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As janelas do fumoir avançam para o jardim – o bow window – e possuem vitrais com decoração de frutas e legumes, em tons de laranja e verde.

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Os móveis do cômodo foram concebidos por Louis Majorelle mesmo e, depois de serem dispersos, foram adquiridos pela cidade de Nancy em 1996, reencontrando seu lugar de origem. Toda a decoração em madeira da Villa também foi feita por Majorelle.

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Salon (Sala de estar) – Infelizmente sofreu muitas modificações, e foi uma das partes mais atingidas em 1916. Nele também se destaca a presença de uma chaminé, encimada por um mosaico de cores vivas e motivos geométricos. O mobiliário tem como motivo de decoração a pinha, assim como a chaminé. Antes dos bombardeios, as paredes também eram decoradas com este tema.

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A chaminé
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A decoração dos móveis

Escalier (Escadas) – Concebida por Henri Sauvage. As decorações do corrimão foram executadas por Majorelle. A escadaria representa, pelo seu formato, a força e o crescimento da hera, que vai diminuindo conforme vai ficando mais alta. O conjunto é completado com duas grandes baias, realizadas por Jacques Gruber.

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Atelier – Era um espaço dedicado à pintura, hobby de Majorelle. Está situado no segundo andar da Villa e possui uma janela voltada para o norte. A decoração em madeira evoca os galhos de uma árvore. O ateliê se abre para uma sacada, decorada com painéis de cobre com motivos abstratos.

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A porta, com a decoração de madeira e o vitral inspirados no Marrocos, é obra de Jacques Majorelle, que se mudou para o país.

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Enfim, a Villa Majorelle é um exemplo prático para se entender a Art Nouveau. Todos os artistas citados aqui, que trabalharam nela, fizeram parte do movimento, que desapareceu com a Primeira Guerra Mundial.

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Villa Majorelle
1 rue Louis Majorelle
54000 Nancy
Horários: a Villa só pode ser visitada através que visitas guiadas, que acontecem durante o ano todo, aos sábados e domingos, às 14h30 e 15h45. Para se inscrever, escreva para servicedespublics-musees@mairie-nancy-fr. O limite é de 20 pessoas.
Tarifas: 6 euros (com a visita guiada). Reduzida: 4 euros (estudantes até 25 anos e grupos com ao menos dez pessoas). Grátis para crianças até 12 anos.

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Para quem esta interessado em visitar ao menos dois museus, existe o Pass Musée. Ele tem duração de dez dias e vale uma visita em cada museu em Nancy e nas cidades vizinhas. O valor é 10 euros. Mais informações no Office de Tourisme de Nancy

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Musée Lorain

Como ir a Nancy
Na Gare de l’Est, em Paris, você pega o trem para Nancy. A viagem dura em torno de 1h30. Mais informações, horários e preços de bilhetes, consulte o site da SNCF

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Villa Majorelle

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

Comentários (2)

  • Luciana Rodrigues Responder    

    4 de dezembro de 2016 at 20:53

    Ficaria meio tonta sem saber o que escolher. Com certeza nada de italiano, per favore! Mas me impressionou demais o ambiente com o acervo da vida cotidiana. Bom poder bisbilhotar mais de perto a vida das pessoas comuns.

    • Renata Rocha Inforzato Responder    

      29 de dezembro de 2016 at 23:53

      Eu tb adoro esses, porque é um país tão pequeno com tantas tradições diferentes. Mas pra quem tem pouco tempo, aconselho os de Art Nouveau, principalmente o Musée de l’École de Nancy. Obrigadão, Lu, beijo

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