Ao clicar a Torre Eiffel em seu ângulo mais famoso, aquele da Praça do Trocadéro, muita gente – e eu me incluo nessa – admira o Palais de Chaillot, mas nem tem ideia do que ele representa. Pois, além de ser muito bonito e abrigar museus interessantes, o lugar já foi terreno de outro palácio, foi sede da ONU e é uma visita super interessante.
Na colina de Chaillot, havia um vilarejo de mesmo nome, mas não se sabe com exatidão os detalhes. Até que em 1583, a rainha Catherine de Médicis, que já era viúva e morava no Louvre, decide construir uma casa de campo. A construção tem a forma de um hipódromo, com jardins que descem até as margens do Sena.
Nos séculos seguintes, o lugar passa pelas mãos de vários proprietários. No século XVII, torna-se um castelo, mas quase não há dados sobre isso. Em 1651, os monges do Monastério da Visitação – Santa Maria compram e ampliam a propriedade. Mas ela é desapropriada, fechada e degradada com a chegada da Revolução Francesa.
No começo do século XIX, Napoleão I quer criar ali uma Cité Napoléonienne (Cidade Napoleônica), que deveria ser um lugar mais imponente que o Kremlim de Moscou. Mas a própria guerra na Rússia – e queda do imperador – não fizeram o projeto ir em frente.
Alguns anos mais tarde, Charles X quer construir um obelisco na colina para celebrar a vitória francesa e a tomada do forte espanhol de Trocadero, que aconteceu em 1823, no reino de seu irmão, Louis XVIII. Essa é outra ideia que não é realizada: apenas um forte cenográfico é colocado ali durante um espetáculo de 1827 para comemorar a vitória.
Em 1869, é construída ali uma praça, que, mais tarde, em 1877, recebe o nome de Place du Trocadéro. No ano seguinte, 1878, é decidida a construção de um palácio para abrigar uma sala de concerto e congresso durante a Exposição Universal daquele ano.
O arquiteto Gabriel Davioud realiza um projeto em estilo mourisco no topo da colina: uma espécie de construção redonda cercada por duas alas côncavas e dois minaretes. A decoração do lugar foi realizada com esculturas de seis figuras femininas, com características de diferentes continentes, e mais quatro esculturas de animais (hoje visíveis no Musée D’Orsay).
O Palais du Trocadéro dura mais de 50 anos, acolhendo, inclusive, museus. Mas, deste a sua construção é alvo de críticas. Diziam que ele destruía o panorama da colina e, mais tarde, da Torre Eiffel.
Até que, em 1932, surgiu a ideia de construir outro palácio no local, também para a Exposição Universal de 1937. Foi realizada uma espécie de concurso entre os arquitetos. Os projetos que visavam demolir o Trocadéro foram rejeitados. Por razões de economia, foi decidido aproveitar parte da estrutura do antigo palais.
O chefe do projeto vencedor, Jacques Carlu, amplia as alas do Palais du Trocadéro, mas mantém a curvatura. Ele constrói uma imensa esplanada sobre o teatro (hoje Théâtre National de Chaillot), para valorizar o panorama com a Torre Eiffel. O palácio parece envolvê-la.
Nos dois lados da esplanada, dois grandes pavilhões encimados por esculturas monumentais em bronze: de um lado, representando os Elementos e, do outro, os Conhecimentos Humanos (a arte e a indústria). Baias envidraçadas na fachada dão uma visão espetacular da Torre para quem está dentro do palácio. As alas ampliadas por Carlu partem destes pavilhões.
Várias outras esculturas envolvem os pavilhões, e dão para a esplanada. A pedra utilizada para revestir a construção foi a mesma usada por Davioud: um tipo de calcário da Bourgogne, que dá elegância e unidade ao conjunto. Nem parece que tem partes do antigo palácio ali no meio, na estrutura.
Os jardins, que já existiam desde 1878, foram decorados com tanques e fontes. É a Fontaine de Varsovie: uma série de tanques em cascata que cai em um tanque maior. Até hoje, 20 canhões jogam, nesse tanque, de tempos em tempos, 8240 m3 de água por hora. Dois jardins ingleses se situam nas duas extremidades do Palais, cortados por um riacho artificial. Várias esculturas decoram o jardim, além de uma parte da fachada do extinto Palais des Tuileries (que ficava onde hoje está o jardim de mesmo nome).
Mas o Palais de Chaillot, inaugurado em 1937, também não escapa das críticas. Antes mesmo da sua finalização, uma crítica de 1936 dizia que “ele levava um cadáver nas costas” (o antigo Palácio du Trocadéro).
Uma curiosidade: durante duas ocasiões, em 1948 e 1951, o Chaillot acolheu sessões da ONU. Na primeira ocasião, os museus, que ali já existiam, foram esvaziados em parte para acolher escritórios. O teatro foi adaptado para as assembléias gerais. Foi nesta ocasião que foi assinada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Já para 1951, foram realizadas algumas construções temporárias, mas que foram feitas de acordo com a estrutura do Chaillot, para não tirar a unidade arquitetônica. Mas todas as adaptações para a ONU foram provisórias.
Hoje, o Palais de Chaillot é sede de vários museus interessantes em seus dois pavilhões:
1) No primeiro Pavilhão, o da esquerda para quem olha em direção à Torre, hoje está instalada a Cité de L’Architecture et du Patrimoine. Na verdade, desde a época do Palais du Trocadéro ali já funcionava o Musée de la Sculpture Comparée. Ele foi inaugurado em 1882, com uma coleção de moldes, que foi enriquecida entre 1903 e 1927. Também havia o Musée Indochinois e ateliês de moldagens dos museus nacionais.
Em 1937, com a construção do Palais de Chaillot, nasce o Musée des Monuments Français, que ocupa todo o espaço desse pavilhão. As coleções são enriquecidas com uma galeria de pinturas murais e de arquitetura moderna. Em 1997, um incêndio destrói boa parte do museu, que é reformado, modernizado e reaberto em 2007 como Cité de l’Architecture et du Patrimoine. Horários: segundas, quartas, sextas, sábados e domingos, das 11h às 19h. Quintas, até as 21h. Tarifa: 8 euros, coleção permanente. Gratuito primeiro domingo do mês. Veja mais informações aqui
2) No outro Pavilhão, à direita para quem olha para a Torre, havia o Musée de L’Ethonologie, o primeiro do gênero na França. Em 1937, é decidido que esta ala do Palais de Chaillot vai acolher o Musée de la Marine que, até então, ocupava uma parte do Louvre. A inauguração oficial do museu acontece em 1943. Horários: segundas, quartas, quintas e sextas,das 11h às 18h. Sábados e domingos, das 11h às 19h. Tarifa: 8,50 euros, a coleção permanente. Para saber mais, veja o site do museu
Já o Musée de L’Ethonologie é substituído em 1938 pelo Musée de L’Homme. Atualmente, após anos de reforma, ele foi reaberto com uma nova museografia. Horários: segundas, quintas, sextas, sábados e domingos, das 10h às 18h. Quartas, até as 21h. Tarifa: 10 euros, coleção permanente e exposição temporária. Gratuito primeiro domingo do mês. Mais informações aqui
O Théâtre de Chaillot – Com a construção do Palais du Trocadéro, em 1878, havia um teatro no corpo central da construção. Quando a Exposição Universal termina, os jardins do Trocadéro são doados à cidade de Paris e o teatro torna-se bem do Estado. Em 1920, é criado ali o Théâtre National Populaire. Mas é demolido em 1935. Com a construção em do Palais de Chaillot, em 1937, o teatro é reconstruído embaixo da esplanada e é aberto para o júri da Exposição Universal daquele ano. A inauguração se dá em 1939. Horários: aberto 1h30 antes dos espetáculos. Para saber mais, veja aqui a programação do teatro.
Palais de Chaillot
Place du Trocadéro et du 11 Novembre
75016 Paris
Metro: Trocadéro – linhas 6 e 9
Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.
A gente vai pra ver a torre a não dá atenção a essa estrutura. Na ultima vez que estive aí, visitei o Musée de la Marine. Adorei. Não é grande, mas tem um acervo muito legal. Tem peças e barcos antigos, reprodução de uma cabine de navio, maquete de navios (inclusive do Normandie e Titanic) e aviões, instrumentos náuticos, armas, etc. Sugiro tanto para adultos quanto para crianças. E se não me engano o audio guide é grátis!
Boa dica, Renata!
Oi Anita, em breve vou escrever sobre a Cité de L’Architecture e o Musée de la Marine, que estão abertos. É realmente uma visita muito interessante. Obrigadão pelo apoio e comentário. Um beijão
[…] vou escrever sobre a Cité de l’Architecture et du Patrimoine, que é um dos museus que fica no Palais de Chaillot e do qual gostei muito. E quem gosta de arquitetura, de escultura e de pinturas murais vai […]
Que interessante! Nunca tinha me atentado ao significado das esculturas douradas. De verdade, realmente ele é “usado” muitas vezes como pano de fundo para se fotografar a Torre Eiffel. Eu mesma, nunca dei a devida atenção. Numa proxima ida, vou me dedicar a ele, com certeza! Obrigada Renata, muito bom o seu texto!!!
Oi Gi, obrigadão pelo comentário. A Cité de l’Architecture, que fica em uma das alas, é super interessante, já escrevi sobre ela aqui no blog. Os outros museus que tem ali também e em breve vou escrever sobre eles. Um beijão
[…] Monet. Em um primeiro momento, a Académie, sem recursos, contratou Jacques Carlu, o arquiteto do Palais de Chaillot, para fazer uns primeiros reparos. Assim, ele refaz os telhados, protege a coleção de estampas […]
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Comentários (6)
Anita
19 de agosto de 2014 at 23:18A gente vai pra ver a torre a não dá atenção a essa estrutura. Na ultima vez que estive aí, visitei o Musée de la Marine. Adorei. Não é grande, mas tem um acervo muito legal. Tem peças e barcos antigos, reprodução de uma cabine de navio, maquete de navios (inclusive do Normandie e Titanic) e aviões, instrumentos náuticos, armas, etc. Sugiro tanto para adultos quanto para crianças. E se não me engano o audio guide é grátis!
Boa dica, Renata!
Renata Inforzato
21 de agosto de 2014 at 12:58Oi Anita, em breve vou escrever sobre a Cité de L’Architecture e o Musée de la Marine, que estão abertos. É realmente uma visita muito interessante. Obrigadão pelo apoio e comentário. Um beijão
Cité de l’Architecture et du Patrimoine – o museu que fez da cópia uma obra de arte | Direto de Paris
4 de setembro de 2014 at 23:01[…] vou escrever sobre a Cité de l’Architecture et du Patrimoine, que é um dos museus que fica no Palais de Chaillot e do qual gostei muito. E quem gosta de arquitetura, de escultura e de pinturas murais vai […]
Gislaine
1 de fevereiro de 2015 at 9:26Que interessante! Nunca tinha me atentado ao significado das esculturas douradas. De verdade, realmente ele é “usado” muitas vezes como pano de fundo para se fotografar a Torre Eiffel. Eu mesma, nunca dei a devida atenção. Numa proxima ida, vou me dedicar a ele, com certeza! Obrigada Renata, muito bom o seu texto!!!
Renata Inforzato
2 de fevereiro de 2015 at 14:54Oi Gi, obrigadão pelo comentário. A Cité de l’Architecture, que fica em uma das alas, é super interessante, já escrevi sobre ela aqui no blog. Os outros museus que tem ali também e em breve vou escrever sobre eles. Um beijão
Direto de Paris - Jornalismo em Paris
24 de março de 2017 at 0:48[…] Monet. Em um primeiro momento, a Académie, sem recursos, contratou Jacques Carlu, o arquiteto do Palais de Chaillot, para fazer uns primeiros reparos. Assim, ele refaz os telhados, protege a coleção de estampas […]