Coulommiers

Gosta de natureza, queijos e templários? Então, conheça Coulommiers

12 de novembro de 2013

Last Updated on 11 de setembro de 2019 by Renata Rocha Inforzato

Um dia, a minha curiosidade e vontade de descobrir novos lugares (ou falta do que fazer e procrastinação crônica) me levaram a pegar o trem sem rumo. Peguei um e fui até o fim, com o segundo fiz a mesma coisa. E fui parar em uma cidade lindinha, mas, como era tarde, não deu para ver quase nada.

Coulommiers

Até que na semana passada uma amiga estava aqui e queria ir a um lugar diferente e perto de Paris. Não pensei duas vezes, afinal, queria explorar melhor aquela cidade. E, assim, descobrimos Coulommiers.

Coulommiers

A cidade fica a 60 km de Paris, no departamento de Seine-et-Marne. Já tinha ouvido falar do lugar por causa do queijo, também chamado Coulommiers, que, diga-se de passagem, é muito bom. Depois, comprei um livro sobre os templários, que falava da cidade. Então, com certeza, havia coisas interessantes para se ver.

Coulommiers

As origens de Coulommiers são antigas (como a maioria das cidades francesas). Dizem que na época dos gauleses, havia uma torre e algumas casas. Já entre os séculos XI e XII é a vez dos condes de Champagne se instalarem na região. É dessa época que data, por exemplo, a Commanderie dos Templários. Começa um período de prosperidade para a cidade, que aumenta ainda mais a partir de 1231, quando conde Thibault IV isenta todos os moradores dos impostos feudais, tornando-os burgueses livres.

Coulommiers

Mas a Guerra de Cem anos chega e as tropas inglesas invadem a cidade. É um período difícil: uma parte da população é dizimada pela peste, há uma temporada de muito frio e chuvas torrenciais. A manufatura do couro é decadente, moinhos são destruídos. A cidade entra em decadência.

Coulommiers

O século XV é de reconstrução. Mas logo em 1430, Coulommiers é retomada pelos ingleses. Dizem que nesse episódio uma boa parte dos moradores teve a orelha cortada por causa da fidelidade à coroa francesa.

Coulommiers
Toda a cidade é cortada pelos canais do rio Grand Morin

A guerra finalmente termina e o lugar volta a ser dos franceses. A reconstrução continua. Até séculos depois, mais precisamente em 1613, Catherine de Gonzague, duquesa de Longueville, resolve construir um castelo no lugar. O arquiteto era ninguém menos do que Salomon de Brosse, o mesmo que construiu o Palais du Luxembourg para a rainha Maria de Médicis.

Coulommiers
O antigo pavilhão de guarda do castelo

Durante os 123 anos de vida desse castelo, a cidade recebe muitos nobres. Porém, a má qualidade da pedra e a umidade do lugar deterioram rapidamente o castelo. Então, em 1737, o novo proprietário, o duque de Chevreuse, decide demolir a construção.

Coulommiers
Área onde ficava o castelo

No século XIX, Coulommiers seria novamente invadida: dessa vez pelos prussianos. De volta às mãos francesas, é no final do século e começo do XX que a cidade adquire mais ou menos a aparência que tem hoje.

Coulommiers

A região sofre novamente com a Primeira Guerra Mundial. Coulommiers até ganha uma medalha pela sua resistência. Já na Segunda Guerra, uma nova invasão, dessa vez são os alemães. Depois de libertada, a cidade reconstrói sua economia e vai, aos poucos, valorizando o turismo e o patrimônio cultural e gastronômico que possui.

Coulommiers

O que ver em Coulommiers?
É uma cidade pequena para os nossos padrões. Suas atrações são interessantes e podemos visitá-la em um dia, mesmo alguém devagar e que tira muitas fotos como eu.

Coulommiers

Parc des Capucins – Com 4 hectares, é onde ficava o castelo. Tem esse nome por causa dos monges capuchinhos que viviam no convento que havia ali, construído também pela duquesa. Parque municipal desde 1915, quando o último proprietário, Abel Leblanc, vende o terreno para a prefeitura com a condição de que ali fosse feita um área de lazer pública.

Coulommiers
O parque e, ao fundo, a casa do último proprietário, onde hoje são organizadas exposições

A paisagem é de tirar o fôlego e possui uma parte em jardim francês e a outra em inglês, tudo banhado por um pequeno canal que percorre toda a área.

Coulommiers

De aspecto romântico, é um dos mais belos da Île-de-France. É decorado com várias esculturas do artista Pierre Brun (1915-2011).

Coulommiers
Uma das esculturas de Pierre Brun

Há várias árvores, que ficam ainda mais belas no outono. Como em quase todos os parques franceses, uma placa explica o nome e origem: cedro azul, gingko biloba e por aí vai.

Coulommiers

No parque podemos ver também os vestígios do castelo da duquesa, que foram classificados como monumento histórico em 1930. Podemos ver o fosso, o pavilhão de guarda e restos do pátio interior.

Coulommiers
Uma das ruínas do castelo

Outra curiosidade é a igreja Notre-Dame-des-Anges, construída para os monges na mesma época que o castelo. Desde 1942 é o museu da cidade e conta a história de Coulommiers e região, da Pré-História até os dias de hoje. O lugar é simples, mas vale a visita, principalmente para ver a Gruta de Conchas, que servia de capela.

Coulommiers
A antiga capela que hoje é o museu

Endereço: Place Abel Leblanc
Horários: Aberto das 8h às 17h (de novembro a fevereiro), das 8h às 19h (em março, abril, setembro e outubro) e das 8h às 21h (de maio a agosto).
Horários do museu: de maio a setembro – quartas, sextas, sábados e domingos, das 14h às 18h. De outubro a abril – quartas, sábados e domingos, das 14h às 17h30.

Coulommiers
A gruta de conchas dentro do museu

Commanderie dos Templários – O nome em português é comendadoria, mas acho muito estranho. Então, fica commanderie mesmo. Trata-se uma mistura de fazenda com monastério. Inclusive, era também um lugar de treinamento militar para os religiosos, que depois partiam para vários lugares do mundo.

Coulommiers
A commanderie dos Templários de Coulommiers é uma das mais bem preservadas da França

A de Coulommiers foi criada em 1128, a partir de um château-fort (castelo fortaleza) dado aos templários por Thibault II, conde de Champagne. É uma das mais bem conservadas da França. Ela fica na parte alta da cidade, o que permitia aos religiosos ter uma posição privilegiada na rota que ligava Soissons a Sens, duas cidades importantes da época. Possui a capela, a residência do comanditário, as cocheiras, cozinha, subterrâneo, capela (de 1300) e até um jardim medieval, criado em 1993.

Coulommiers

Quando os templários foram dizimados na França, o lugar passou para as mãos dos Hospitaliers, outra ordem religiosa. Após a Revolução Francesa, a commanderie virou uma fazenda. No século XIX. foi usada para a fabricação de queijo. Na década de 1960, o último fazendeiro parte e o lugar é quase destruído. É quando a cidade, com a ajuda de uma associação, resolveu comprar o terreno e restaurar as construções. Hoje, é lugar de vários ateliês, embora ainda esteja em restauração (por isso não visitamos o interior de nenhum edifício, somente a cave).

Coulommiers
A cave dos templários

Endereço: Avenue Foch
Horários: De quarta a sábado, das 14h às 18h. Aos domingos, das 10h às 18h. Tarifa: 5 euros. Durante o inverno, somente aos finais de semana. E em julho e agosto, todos os dias.

Coulommiers

Igreja Saint-Denys-Sainte-Foy – Foi construída em 1911 no lugar de um antigo cemitério. Ela mistura dois estilos: o briard, com o uso de pedra de moinho, próprio da região, e o bizantino, pela decoração e cúpula. Conserva o mobiliário da antiga igreja de Saint Denys, a igreja que ela substitui.

Coulommiers
Igreja Saint-Denys-Sainte-Foy

Avenue de Rebais
Os horários variam, o telefone é 00 (33) 1 64 03 00 34 (se ligar da França, tirar o 00 33 e colocar um 0 antes do 1).

Coulommiers
Observe a cúpula em estilo bizantino

Queria muito fazer uma degustação de queijo, mas como a gente decidiu o passeio meio em cima da hora, não deu para reservar nada. O queijo Coulommiers é um dos que mais gosto. Ele é feito com leite de vaca e faz parte da família dos queijos de pasta mole, ou seja, que não são cozidos e nem prensados. Sua origem remonta à Idade Média.

Coulommiers
Queijo Coulommiers

Enfim, para variar, foi um passeio muito gostoso e é por isso que resolvi escrever sobre a cidade. Mais uma opção de bate-e-volta saindo de Paris e que poucos turistas conhecem.

Coulommiers

Para ir a Coulommiers
Opção 1: Pegar o trem (linha P) na Gare de l’Est e descer na estação de Coulommiers (ponto final). A viagem dura cerca de 1h15. Mais informações aqui
Opção 2: pegar o RER A até a estação Marne la Valée/Chessy, depois pegar o ônibus direção Coulommiers. O trajeto total dura cerca de 1h30 (há várias estações onde passa o RER A em Paris). Saiba mais aqui
Para ir de carro, consulte o Via Michelin

Coulommiers

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Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

Comentários (18)

  • Eme Oliver Responder    

    12 de novembro de 2013 at 23:13

    Renata,
    Mais uma boa dica para visitar no entorno de Paris, com a mesma boa qualidade do texto e das fotos. Parabéns e obrigada por nos apresentar Coulommiers. Bj

  • Marilda Responder    

    13 de novembro de 2013 at 1:15

    Renata, suas dicas são sensacionais!! Mais uma cidade que vai entrar para minha lista de “lugares a conhecer”. Não sei se conseguirei ver todos pois, a cada matéria sua, minha lista aumenta!! Parabéns pelo trabalho! Bjs.

    • Renata Inforzato Responder    

      13 de novembro de 2013 at 22:30

      Oi Marilda, obrigadão! Mas essa lista infindável acontece comigo também. rsrsrsrs Um beijão

  • Beatriz Bomfim Responder    

    13 de novembro de 2013 at 11:32

    Adorei! Já está na minha listinha da próxima viagem. Beijos!

  • Boia Paulista Responder    

    14 de novembro de 2013 at 15:15

    Oi, Rê. Tudo bem? 🙂

    Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Natalie – Boia

  • Natalie Soares Responder    

    14 de novembro de 2013 at 15:17

    Se eu mostrar a foto desse queijo para o Fred, ele vai ficar doidinho 😛

    Gostei da sugestão de roteiro. Parece bem interessante.

    Valeu, Rê!

    • Renata Inforzato Responder    

      15 de novembro de 2013 at 16:34

      Oi Natalie. então, se ele fizer uma visita com degustação, vai ficar louco. Se quando vocês vierem, tiverem um tempinho, deem uma escapada até a região porque vale a pena. Obrigada pela visita e beijão

  • Rosangela Mira Responder    

    15 de novembro de 2013 at 16:59

    Olá Renata

    Visitando o blog “VIVER PLANAMENTE PARIS”, encontrei o seu e fiquei encantada com suas fotos e descrições. Assim como o resto do mundo, sou apaixonada por Paris e ista frase vc deve ouvir de todos que passam aqui. Já estive aí algumas vezes, mas nunca me arrisquei pelos arredores, salvo Versailles que não vale, já que todos vão. Na verdade gostaria de estar aí em pleno verão, já que sempre estive durante a primavera e peguei dias bem frios e chuvosos.
    Bem, vou aguardar a sua visita em minha miscelânia, pois post no blog tudo que gosto, inclusive sobre moda.
    Adorei seu blog e vou colocar seu link em meu blogroll.

    AMIGA DA MODA by Kinha

    • Renata Inforzato Responder    

      15 de novembro de 2013 at 22:15

      Oi Rosângela, obrigada pela visita e comentário. Se você vier no final da primavera, lá pra junho, recomendo muito a festa medieval da Provins. Tem o texto aqui no blog. É uma experiência única. Vou lá ver seu blog. Um beijão

  • Tania Stahlke Responder    

    17 de novembro de 2013 at 13:21

    Renata, obrigada pelo seu texto, amei ler! Vou a Paris com amigas no final de Abril e tentarei ir até Coulommiers. Mesmo que não dê tempo desta vez, vou procurar o queijo e saboreá-lo lembrando de você. Beijos.

    • Renata Inforzato Responder    

      17 de novembro de 2013 at 22:42

      Oi Tania, em abril o parque deve ficar lindo! E se gosta de queijos, vai adorar o Coulommiers. Obrigada pela visita e pela lembrança. beijos

  • Renata Solon Responder    

    1 de dezembro de 2014 at 0:34

    Olá tudo bem? Falando em templários,ouvi e li em alguns comentários de blogs que existe a Ordem dos Templários algo como museu dentro da cidade de Paris…sabe alguma coisa?
    E esta cidade,dá para ir visitar tranquilo para quem não fala francês? rsss
    Obrigada!

    • Renata Inforzato Responder    

      1 de dezembro de 2014 at 12:42

      Oi Renata, em Paris não há museus dos Templários. Ele fica em Payns, a 1h30 de Paris http://www.huguesdepayns.fr/page2.html . Em Paris, não há um museu, o que acontece é que vc passa por lugares onde eles estiveram, mas pouca coisa é visível. Nas cidades pequenas, principalmente no escritório do turismo, sempre há alguém que fala inglês. Mas acontece também de encontrar pessoas que só falam francês, mas aí você pede para falar devagar e é possível entender ao menos o necessário. E você faz as perguntas também devagar em português que eles podem entender o básico. Mas antes de visitar a commanderie dos Templários, dá uma ligada ou escreva para a prefeitura de Coulommiers para confirmam os horários: tel (33) 1 64 75 80 00 ou http://www.coulommiers.fr/nous-ecrire.html . Se preferir, tem o email do escritório de Turismo off.tourisme@coulommiers.fr e o telefone de lá (33) 1 64 03 88 09 Pode escrever em inglês. Obrigadão pela visita

  • Simone Responder    

    26 de abril de 2015 at 20:49

    Olá Renata, estou com grande dúvida. Já tinha como certo visitar essa cidade, após ter lido seu post e ter lido uma reportagem justamente sobre essa região no caderno de viagens de O Globo. Essa semana li seu outro post sobre Auvers-sur-Oise e caí de amores. Apesar de estar reduzida no consumo de carnes (em geral), fiquei tentada a conhecer o local, mas sou apaixonada por queijos. Gostaria de seu pitaco por favor.
    Ah, as fotos acima, não se vê pessoas. O vilarejo é vazio assim mesmo? abço

    • Renata Inforzato Responder    

      27 de abril de 2015 at 16:22

      Oi Simone! Eu não gosto muito de fotos com pessoas, então, quando posso tiro sem. E eu cheguei cedo na cidade. Bom, se vc ainda não conhece Auvers, eu te recomendo visitá-la primeiro. Tem mais atrações e é mais dentro do roteiro turístico. Um abraço

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