Brie-Comte-Robert

Brie-Comte-Robert – Cidade medieval que leva o nome de um conde e onde morreu uma rainha

2 de dezembro de 2014

Last Updated on 1 de setembro de 2019 by Renata Rocha Inforzato

Brie-Comte-Robert é uma daquelas cidades ao lado de Paris, que quase não tem turista, mas que tem uma história e atrações super interessantes. Ela abriga um castelo medieval – ou o que sobrou dele – que foi a última morada da última rainha de uma dinastia francesa. Além disso, oferece deliciosos pratos à base de queijo Brie e uma vez por ano abriga um interessante desfile. Se você ficou curioso (a), ainda tem mais.

Brie

Os primeiros sinais de ocupação da cidade vêm da época pré-histórica, mas apesar de vários objetos encontrados em escavações arqueológicas, ainda não se sabe muita coisa sobre o período. Na época galo-romana, ou seja, quando o Império Romano colonizou a então região da Gaule, o lugar foi ocupado por pequenos vilarejos na borda de uma rota romana.

Brie

Mas, podemos dizer que Brie começa mesmo a entrar para a história no século XII, quando o rei francês Louis VI compra algumas terras e as dá para o filho, Robert, que era conde de Dreux. Este manda construir um castelo no feudo, a fim de melhorar as defesas da região. Nasce, assim, a cidade de Brie-Comte-Robert (algo como Brie-Conde-Roberto, em tradução literal. Já a palavra Brie, segundo alguns pesquisadores, vem do antigo nome da cidade, Braya, que significa terra lamacenta).

Brie
O Château

O primeiro senhor de Brie também faz outras construções na cidade. Quando ele morre, em 1188, seu filho, Robert II de Dreux, herda o castelo e continua a desenvolver a cidade. É ele que constrói o Hôtel-Dieu, para acolher os viajantes que chegavam ao vilarejo para participar da feira. As feiras dessa região eram famosas, sendo as de Brie-Comte-Robert e Provins as mais importantes.

Brie

O feudo (o castelo com o vilarejo) continua na família Dreux até 1254, quando passa para a família Châtillon. E assim vai até quando Marguerite d’Artois, cunhada do rei Philippe le Bel, herda o lugar, no século XIV. Ela, por sua vez, o deixa para a filha, Jeanne d’Evreux, que é viúva de ninguém mais do que o rei Charles le Bel, filho de Philippe e último soberano da dinastia dos capétiens. E é na cidade que ela vai viver após a morte do marido (1328) e é lá que ela morre, em 1370. A filha da rainha, Blanche de France, é a nova herdeira, mas esta morre em 1393 sem filhos. O feudo, então, volta para a coroa francesa.

Brie

Na época, o novo rei, Charles VI, doa o castelo e o vilarejo ao irmão, Louis, duque de Orléans. O nobre reside no castelo e Brie se torna ainda mais importante. Nobres de toda a França chegam ao château para festas e torneios. Mas era a época da Guerra de Cem Anos e o novo proprietário reforça as defesas do lugar.

Brie

Mas de nada adianta, pois ele será assassinado em Paris por Jean sans Peur, duque de Bourgogne. Uma guerra civil é declarada entre os partidários dos Orléans (Armagnacs) e os Bourguignons. E Brie é dominada por esses últimos. Mas como a guerra contra a Inglaterra continua, em 1420, os ingleses invadem a cidade. Durante três anos, o feudo e o castelo se alternam em mãos de franceses e ingleses. Isso vai até 1434, quando o exército francês retoma o lugar e o devolve ao novo duque de Orléans, Charles, recém libertado pelos ingleses.

Brie
A prefeitura

Esse foi o período mais turbulento para a cidade. Depois disso, o filho de Charles, o novo duque, vai virar rei com o nome de Louis XII e, assim, Brie volta para a Coroa Francesa. Só que o rei seguinte, François I, no começo do século XVI, dá o feudo para os nobres que são seus aliados, inclusive vários italianos. Eles têm a obrigação de cuidar bem do lugar, mas não é bem o que acontece. O castelo, por exemplo, fica bastante degradado.

Brie
O Jardim ao lado da prefeitura

No século XVI, a cidade é invadida por tropas francesas, durante a Fronde, conflito entre rebeldes e o governo real. Uma parte do castelo é destruída. No século seguinte, a coroa recompra as terras. Louis XV, então, faz uma troca com o Conde d’Eu: ele cede Brie contra algumas terras de Versailles. Assim, os herdeiros do conde são os últimos senhores da cidade. Isso porque logo depois vem a Revolução Francesa e os nobres são expulsos e suas possessões vendidas como bem nacional.

Brie

No século XIX, a construção da linha ferroviária traz prosperidade a Brie-Comte-Robert. Várias empresas se instalam na região. Hoje, a estação da cidade não funciona mais, mas ainda assim é fácil ir até lá.

Brie
Fête das Roses, na primavera – desfile e música por toda a cidade

Algumas atrações de Brie-Comte-Robert

1) Château Medieval – Na época em que foi construído por Robert I de Dreux, no final do século XII, foi uma inovação arquitetônica e teve o modelo seguido por vários castelos construídos na época, inclusive pelo rei Philippe Auguste. Tinha forma quadrangular e era composto por quatro torres circulares, duas quadradas e duas semi-cilíndricas com portas, uma voltada para a cidade (porte de Brie) e outra para o campo (porte de Saint-Jean). Esta última era a mais importante.

Brie

Quando a rainha Jeanne assumiu o château, ela melhora o lado residencial: abre janelas nas paredes e torres, coloca piso, constrói jardins. É no castelo que ela morre em 1370. Depois disso, o lugar ainda tem um período de glória com o duque de Orléans, esse que é assassinado, mas depois entra em períodos de turbulência e abandono, controlado ora pela Coroa, ora pelos nobres. Chega a ser restaurado no começo do século XVII e recebe o herdeiro do trono, Louis XIII, que era ainda criança. Mas em 1681, o estado do castelo é tão lastimável que é declarado inabitável.

Brie

Em meados do XVIII é demolido na altura do primeiro andar, pois o proprietário alegava que a arquitetura era obsoleta. Chega a ter uma sobrevida com os herdeiros do Conde D’Eu, mas quando a Revolução chega, é transformado em prisão, antes de ser vendido. Isso degrada demais o castelo. Ele chega a ser comprado pela cidade em 1803, pra ser vendido novamente dez anos depois. Os novos proprietários fazem muitas transformações e a torre principal é demolida em 1879 para a construção de uma residência.

Brie
Os tipos de piso encontrados no castelo

O château é comprado de novo pela cidade em 1923 e classificado dois anos depois como Monumento Histórico. O castelo, nessa época, tem muito entulho e está praticamente desfigurado. Então, trabalhos de urgência são feitos, mas sem muita consciência do que fariam com a construção. Foi só em 1982 que uma associação, chamada Les Amis du Vieux Château, em parceria com a prefeitura, começa a fazer escavações arqueológicas.

Brie
E, numa salinha, encontramos a rainha

Em 2003, uma nova restauração é realizada de acordo com os vestígios do século XII e a reforma do século XIV (as da rainha). As construções parasitas são demolidas e as portas (de Brie e Saint-Jean) reconstruídas. Dois anos depois, o Centre d’Intérpretation du Patrimoine é aberto.

Brie
O Centre d’Intérpretation du Patrimoine (Centro de Interpretação do Patrimônio)

Aliás, esse centro é bem interessante. Nele estão expostos documentos que contam a história do castelo e objetos encontrados não somente nas escavações do local, como também artefatos mais antigos achados na região, inclusive vários da época da Pré-História. O castelo também promove atividades ligadas à arqueologia, e se você tiver vontade pode participar das escavações, principalmente durante o verão.

Brie

Château de Brie-Comte-Robert
1 rue du Château
77170 – Brie-Comte-Robert
Horários: quartas, das 14h às 17h; sábados, das 14h30 às 18h e domingos, das 10h às 12h30 e das 14h30 às 18h.
Entrada gratuita
Oferece várias atividades em relação com a arqueologia, inclusive estágios em escavação e ateliês de pedra talhada. As atividades não são gratuitas.

Brie
O fosso que cerca o castelo

2) Igreja Saint-Etienne – Começou a ser construída no século XII por Robert I de Dreux, no lugar de um antigo cemitério da Alta Idade Média. É de plano retangular. As perspectiva dos arcos é muito bonita.

Brie

Mas a curiosidade dessa igreja são os vitrais: há vitral do século XII até o século XXI. E todos são tão bem integrados ao conjunto do edifício, que chega a ser difícil distinguir qual é medieval e qual é contemporâneo. Outra coisa legal é que nas bordas da rosácea, do século XIII, há um calendário agrícola. É um retrato de como eram organizados os trabalhos e as atividades ao longo do ano durante a Idade Média.

Brie
Olha nas bordas das pétalas: várias cenas e atividades medievais representadas medievais

31 Rue de la Madeleine
Horários: de segunda a sábado, das 7h30 às 19h30. Domingos, das 8h às 19h30.

Brie

Brie

3) Hôtel-Dieu – Foi construído no século XIII por Robert II de Dreux, o segundo senhor de Brie. A ideia era acolher os viajantes pobres que iam ao vilarejo participar das feiras comerciais. No século XVI foi transformado em uma capela. Em 1830, perde as abóbodas. Dez anos depois, é classificado como Monumento Histórico e abriga uma escola para meninas. Durante a Primeira Guerra, vira um hospital para os feridos.

Brie

Em 1995, é restaurado e tem o primeiro andar reconstruído, respeitando-se a fachada gótica. Hoje acolhe exposições temporárias de arte, principalmente contemporânea. Como lembrança do passado, duas pedras tumulares – de duas religiosas do século XVI – estão na entrada do local.

Brie

Rue des Halles
Horários: quartas e sábados, das 15H às 18h. Domingos, das 10h às 13h e das 15h às 18h.
Gratuito

Brie

4) Parc François-Mitterrand – Fica mais ou menos a 20 minutos de caminhada do centro da cidade. Brie-Comte-Robert tem cerca de 50 hectares de áreas verdes e só esse parque tem 25.

Brie

É um lugar simples, com muitas árvores e um lago. Dá para se fazer piquenique, além de ter quadras para praticar esportes. Tem gente até que pesca. Ideal para descansar depois de visitar a cidade.

Brie

Aberto o tempo todo
15 allée Commandant Guesnet

Brie

5) Fête des Roses – Acontece geralmente em junho desde 1949. É um desfile de bonecos, bandas, carros alegóricos enfeitados com rosas de papel e personagens de animação. A festa tem esse nome porque a região é conhecida pela plantação de rosas.

Brie

Brie
E no ano de Copa do Mundo…

É um desfile simples, que percorre toda a cidade. É bem familiar, tem muitas crianças e, enquanto os carros passam, as pessoas jogam confetes umas nas outras. Uma farra! Durante todo o resto do dia, diversas bandas ficam espalhadas pela cidade, tocando vários estilos musicais.

Brie

Brie
E a criançada faz a festa

Brie

6) Dica de restaurante – Como fiz bate e volta, só almocei lá. E que almoço! O restaurante escolhido foi o Palmanova, italiano, mas com um toque francês. Pedi frango a milanesa, acompanhado de penne, bacon e com crostas e molho de queijo Brie, a iguaria da região. E os pratos eram realmente copiosos. Tanto é que nem consegui pedir a sobremesa. E isso é um fato raro!

Brie

Endereço: 1, rue Paul Savary
Telefone: 01 64 05 00 39
Preço do menu: a partir de 15 euros

Brie

Como ir a Brie-Comte-Robert
Opção 1: De Paris, pegar o RER A direção Boissy-Saint-Leger e descer na estação final. Depois pegar o ônibus 21 ou 23, e descer na parada RDV Château (no caso do ônibus 21) ou Place des Fêtes (ônibus 23). O trajeto todo demora cerca de 1h.
Opção 2: pegar em Paris o RER D, direção Melun, descer em Combs-la-Ville e pegar o ônibus 7, direção Ambroise Paré, e descer na parada Place des Fêtes. O trajeto total dura mais ou menos 1 hora.
Para calcular cada um dos itinerários, use o site da Transilien

Para ir de carro, consulte o Via Michelin

Brie

* Reserve hotel para Paris e outras cidades do mundo com o Booking
* Compre seu seguro de viagem com a Real Seguro Viagem
* Para fazer passeios e excursões, contate a ParisCityVision
* Para transfer e passeios privados, contate a França entre Amigos
* Saiba mais sobre Cursos de idiomas no exterior

Renata Rocha Inforzato

Sou de São Paulo, e moro em Paris desde 2010. Sou jornalista, formada pela Cásper Líbero. Aqui na França, me formei em História da Arte e Arqueologia na Université Paris X. Trabalho em todas essas áreas e também faço tradução, mas meu projeto mais importante é o Direto de Paris. Amo viajar, escrever, conhecer pessoas e ouvir histórias. Ah, e também sou louca por livros e animais.

Comentários (10)

  • Monica Toledo Responder    

    3 de dezembro de 2014 at 1:12

    Passeio delicioso, com muita história e coisas lindas pra ver.

  • Marilda Teixeira Responder    

    3 de dezembro de 2014 at 22:11

    Obrigada por mais essa excelente sugestão! Seu relato nos incentiva a conhecer mais essa pequena e, ao que parece, encantadora cidadezinha. Já está na minha lista!
    Em toda a História, deliciosamente contada por Vc, me chamou a atenção o personagem “Conde d’Eu”. Evidentemente, não é o mesmo Conde d’Eu que se casou com a Princesa Isabel do Brasil (século XIX), mas é provável que sejam da mesma família (o genro de Pedro II chamava-se “Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston d’Orléans et Saxe-Cobourg et Gotha”, ou seja, um Orléans).
    Outra coisa: o nome da cidade (Comte Robert) me lembrou um oficial brasileiro cuja família minha tia chegou a conhecer – ou a ele próprio, não sei bem – que tinha o nome de Canrobert…
    Veja só quantas divagações seu texto me proporcionou!! kkkkk. Adorei!! Bjs

    • Renata Inforzato Responder    

      3 de dezembro de 2014 at 23:07

      Oi Marilda! Esse Conde D’Eu do texto é o bisavô do nosso. O Conde d’Eu citado no texto também era Duque de Orléans, mas o nosso não. Adorei suas divagações e espero que você volte logo pra ver tudo de perto. Um beijão e obrigada

  • Boia Paulista Responder    

    10 de dezembro de 2014 at 13:35

    Oi, Rê. Tudo bem? 🙂

    Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Boia – Natalie

  • Andréa de Azevedo Freitas Responder    

    17 de dezembro de 2014 at 13:58

    Renata, sou sua fã de carteirinha, viajo nos seus posts, super bem escritos e completos. Aproveitei muitas dicas suas na minha última viagem e espero poder visitar esse belo local na próxima vez. Um grande abraço, parabéns pelo seu trabalho!

    • Renata Inforzato Responder    

      19 de dezembro de 2014 at 20:15

      Oi Andréa. Fiquei super feliz com seu comentário! Obrigadão! Pode deixar que aqui vai ter muito mais dicas para a sua próxima viagem a Paris. Um beijão e obrigada mesmo

  • BENEDITO BRIET DA SILVA Responder    

    2 de fevereiro de 2015 at 13:47

    Renata, li o texto acima e fiquei bastante encantado com o conhecimento que tens do local e região, sou descendente da família Brie na frança, dentro da sua visita a Brie-Comte-Robert, lhe pergunto, ouviste alguma coisa sobre a família Brie na frança, peço-vos desculpa de sair um pouco do assunto, pois, necessito de alguma informação a respeito dos Brie.
    Sem mais, agradecido
    atenciosamente:
    Briet

    • Renata Inforzato Responder    

      2 de fevereiro de 2015 at 14:51

      Oi Benedito. Não, não ouvi nada. O nome Brie vem da região geográfica, as cidades da região em geral levam esse nome e deve ser o mesmo caso da sua família. Manda um email para um dos consulados franceses no Brasil que eles podem te indicar sites para você fazer a pesquisa. Obrigada pelo comentário e um abraço

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

O Direto de Paris usa cookies para funcionar melhor. Mais informações

The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.

Close